Deepfakes com Nikolas Ferreira enganam usuários em anúncios na Meta

Publis fraudulentas feitas com inteligência artificial usam rosto e voz do parlamentar bolsonarista e ofensas a Alexandre de Moraes para promover golpes de Serasa, Starlink e até Rolex
Deepfakes com Nikolas Ferreira enganam usuários em anúncios na Meta
Arte: Rodolfo Almeida
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Anúncios fraudulentos que usam deepfakes do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) para promover ofertas falsas de satélites da Starlink, relógios Rolex ou indenizações do Serasa têm inundado o Facebook e o Instagram nos últimos três meses, mostra um levantamento do Núcleo na Biblioteca de Anúncios da Meta.

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Deepfake é uma técnica que usa inteligência artificial para clonar rostos e vozes de pessoas e aplicá-los a vídeos e fotos. Por causa dos riscos de disseminação de informações falsas, o TSE proibiu o uso de deepfakes nas eleições municipais deste ano.

Esses anúncios direcionam os usuários para páginas que imitam lojas digitais ou sites oficiais, e cobram até R$ 293 em uma compra falsa. No total, identificamos seis páginas que veicularam ao menos 1,560 anúncios com imagens do parlamentar modificadas com inteligência artificial desde abr.2024.

Só entre abril e maio, um único perfil gastou R$ 197 mil em 2,1 mil publis que promoviam uma falsa indenização do Serasa. Pelo menos 700 delas continham deepfakes do deputado federal. A página foi excluída após um mês de atividades, mas a transparência da Meta não deixa claro se foi a plataforma que a tirou do ar ou se os próprios golpistas a apagaram.


É importante porque...

Rosto e voz de deputados federais estão sendo modificadas por IA que promovem fraudes nas redes

Moderação da Meta demora para remover as publis de golpes

Páginas falsas gastaram mais de R$ 250 mil em anúncios fraudulentos


Esse mesmo golpe também foi promovido na rede social por outras duas páginas falsas que usam os nomes Camila Oliveira e Sandra Ramos. Uma delas, a de Camila, segue ativa e gastou R$ 42 mil em publis que incluíam deepfakes ao longo de mai.2024.

Uma busca por reclamações com o termo "Nikolas Ferreira" na plataforma Reclame Aqui indica que imagens manipuladas do deputado têm sido usadas nas redes desde fevereiro deste ano. Na época, golpistas usaram anúncios da Meta para imitar bolsonaristas que pediam doações a um ato em defesa do ex-presidente.

O gabinete do parlamentar não respondeu às nossas tentativas de contato via e-mail até a publicação deste texto.

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Ao menos cinco versões diferentes de anúncios fraudulentos usaram deep fakes do deputado federal para convencer usuários de que eles têm direito a uma falsa indenização do Serasa. O site indicado cobrava uma taxa das vítimas, sem (Reprodução: Biblioteca de Anúncios da Meta).

Meta atacou pesquisadores que apontaram anúncios com fraude
Advogados da empresa tentaram desqualificar pesquisadores do NetLab, ligado à UFRJ, após dona do Instagram e do Facebook ser multada por anúncios com fraudes que usavam o nome do programa Desenrola

XANDÃO CONTRA MUSK. Intrigas entre Nikolas e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) também são usadas nessas publis falsas. O Núcleo identificou ao menos três páginas – Brazil Starlink, Internet Starpromo e Julia Santiago (essa já excluída) – que fazem anúncios do tipo.

"Quem tá acompanhando as redes sociais sabe que o Elon Musk entrou em uma briga com o Alexandre de Moraes, né? O careca quer censurar a população brasileira a todo custo", diz a deepfake do parlamentar. "Eu tô usando a Starlink, do Elon Musk, e ela te dá a liberdade de ter uma internet 100% livre de censura", afirma a publi falsa.

Esses anúncios direcionam para um site que imita a página oficial da empresa de Musk e está configurado de modo que ele só pode ser acessado via smartphone. Tentar visualizá-lo pelo computador automaticamente direciona o usuário para o site de uma criptomoeda.

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Não é a primeira vez que anúncios fraudulentos que circulam na Meta usam ministros do STF. Em abr.2024, um relatório do Netlab mostrou que a imagem de Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes estavam sendo usadas em fraudes e desinformação.

ROLEX FAKE. A mesma fórmula de usar intrigas entre o parlamentar e o STF também foi usada em anúncios de uma suposta oferta de relógios de pulso da Rolex, uma tradicional marca suíça.

"Sabe aquele cabeça de roll on, o Alexandre de Moraes?", inicia a versão gerada por IA do parlamentar em um anúncio veiculado em jun.2024. "Ele acusou a Rolex, uma das maiores marcas de relógios de luxo por propaganda enganosa após a marca publicar um relógio de R$ 29 mil por apenas R$ 293", diz o vídeo.

A publi direciona os usuários da Meta para um site que chega até a coletar a localização do visitante para personalizar comentários fake, que simulam usuários reais dizendo que receberam o suposto produto. Ou seja, se o visitante acessar o site de São Paulo, os "comentários" dirão que receberam o relógio em SP.

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Anúncios fraudulentos citam personalidades e veículos famosos, como Alexandre de Moraes, Choquei, Globo e G1 (Reprodução: Biblioteca de Anúncios da Meta)

Golpistas usaram até "delegado" para tentar conferir credibilidade à fraude. Comentário aponta para localização em Miami porque a reportagem tirou print desta tela usando uma VPN localizada na cidade norte-americana. (Reprodução: ofertaspratu.online/)

HÁ VITIMAS. Ao monitorar esses anúncios, o Núcleo identificou um homem de 66 anos que foi enganado pela oferta falsa de internet vitalícia da Starlink por R$ 184. "Eu não cairia nesse golpe até ver uma propaganda onde o Nikolas Ferreira participava e explicava o porquê da promoção", diz a vítima.

"Fiz a compra, recebi a nota fiscal e várias mensagens de rastreio do produto até que o pacote foi 'extraviado', mas eu não precisaria me preocupar, pois se eu fizesse um pagamento de mais R$ 48 um seguro seria ativado e eu receberia o produto sem problemas", ele relata.

O homem pediu anonimato à reportagem porque não gostaria que seus conhecidos soubessem que ele caiu "em um golpe tão óbvio" e disse que não pretende registrar um boletim de ocorrência porque não acha que isso vá ajudá-lo "do ponto de vista prático".

Homem de 66 anos desconfiou da oferta de satélite do Elon Musk que viu no Facebook, mas deepfake do Nikolas o convenceu (Reprodução: Messenger)
Ao Núcleo, a Meta disse que "atividades que tenham como objetivo enganar, fraudar ou explorar terceiros não são permitidas em nossas plataformas e estamos sempre aprimorando a nossa tecnologia para combater atividades suspeitas", mas não respondeu a dúvidas da reportagem sobre qual o tamanho da equipe de moderação da plataforma no Brasil ou como ela trabalha para conter a proliferação desse tipo de fraude.

Leia a íntegra da nota da Meta e da pergunta que enviamos

Núcleo – Eu gostaria de saber o que exatamente a Meta está fazendo para conter esse tipo de anúncio fraudulento [deepfakes de parlamentares] e qual o tamanho da equipe de moderação da plataforma no Brasil. Essa questão não é de agora e parece que a empresa não está dando conta de combater. É possível um posicionamento?

RESPOSTA
"Atividades que tenham como objetivo enganar, fraudar ou explorar terceiros não são permitidas em nossas plataformas e estamos sempre aprimorando a nossa tecnologia para combater atividades suspeitas. Também recomendamos que as pessoas denunciem quaisquer conteúdos que acreditem ir contra os Padrões da Comunidade do Facebook, das Diretrizes da Comunidade do Instagram e os Padrões de Publicidade da Meta através dos próprios aplicativos"

Como fizemos isso

Após visualizar publis fraudulentas em nossas contas pessoais no Facebook e Instagram, passamos a monitorar termos-chave como "Starlink" ou "Serasa" para acompanhar publis fraudulentas na biblioteca de anúncios da Meta.

Ao longo de dias aleatórios entre 1.jun.2024 e 9.jun.2024, mapeamos e arquivamos alguns perfis que continham anúncios ativos que usavam deepfakes do deputado federal Nikolas Ferreira.

Como algumas das páginas desapareciam ou mudavam de características de um dia para outro, não conseguimos coletar a íntegra de eventuais fraudes que circularam em redes da Meta com esses termos-chave, já que isso exigiria um trabalho mais sistemático e prolongado.

Nosso levantamento se limitou a coletar alguns "cases" de páginas, neste caso, seis e esmiuçar o tipo de anúncio que elas estavam promovendo na plataforma, além de buscar eventuais repercussões dessas fraudes em comentários no próprio Facebook ou no Reclame Aqui.

Texto Pedro Nakamura
Arte Rodolfo Almeida
Edição Alexandre Orrico

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