Bluesky quer ser um Twitter melhor e menos tóxico

Rede social recebeu mais de meio milhão de brasileiros nos últimos dias e quer deixar seu feed menos tóxico e mais focado em comunidades, conta diretora operacional da plataforma, Rose Wang, ao Núcleo
Bluesky quer ser um Twitter melhor e menos tóxico
Arte por Rodolfo Almeida
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Há apenas alguns dias a comunidade brasileira do Bluesky era composta de alguns jornalistas, comentaristas políticos de esquerda e ex-tuiteiros cansados da rede social de Elon Musk. Em questão de horas, o cenário ficou muito mais diverso com um tsunami de novos usuários.

O Bluesky bateu recorde de atividade desde seu lançamento mais amplo em abr.2023, após a chegada de mais de 880 mil brasileiros na plataforma em 48h, migrados do X (antigo Twitter) após a rede social de Elon Musk ter sido bloqueada por ordem do ministro do STF Alexandre de Moraes.

Para se ter uma ideia, quando o Bluesky abriu para o público geral (sem necessidade de convite), a rede ganhou 800 mil novos usuários em um dia, somando perfis do mundo todo.

"Grandes ondas de usuários brasileiros chegaram ao Bluesky no passado, mas nunca vimos números como os que vimos hoje", disse em entrevista ao Núcleo a diretora operacional do Bluesky, Rose Wang.

A chegada de brasileiros representou desafios para e enxuta equipe de engenheiros do Bluesky. Acostumada a receber em média entre 4 mil e 6 mil novos usuários por dia, todos estavam de sobreaviso para garantir que os servidores continuassem funcionando.

"Cada um dos engenheiros da nossa equipe está com o computador ligado agora para observar a infraestrutura e se certificar de que nada [nenhum sistema] vai cair", disse ela.

O Bluesky, contando a chegada de novos brasileiros, tem agora cerca de 7 milhões de usuários ativos – uma pequena fração frente ao Twitter, que tem mais de 250 milhões. Mas é um número que tem crescido, enquanto a base do concorrente ficou praticamente estagnada.

Com o aumento de brasileiros na plataforma, crescem também os desafios de moderação e de cumprimento de ordens judiciais. Wang foi categórica: "pretendemos cumprir integralmente a lei brasileira".

Além do Twitter

Mas a nova rede social não quer ser apenas um novo Twitter, apesar das claras semelhanças visuais – quer ser uma alternativa melhor, mais transparente e, principalmente, menos tóxica, focada em recursos de moderação dos próprios usuários e comunidades nas quais participam.

"Nós parecemos uma alternativa ao Twitter na superfície", disse Wang. "Mas se você vier para o Bluesky verá que somos diferentes, no sentido de que é possível ter uma experiência tanto de um mundo grande quanto de um mundo pequeno".

Isso porque o Bluesky possui tanto timeline cronológica quanto sistemas globais de recomendação de conteúdo ('Discover' e 'Popular with friends'), assim como a opção para que usuários criem feeds totalmente personalizados – o que quer dizer que é possível ir além da criação de listas e instituir algoritmos totalmente customizados, nos quais é possível decidir filtros e o peso que certos conteúdos podem ter.

Sim, temos algoritmos globais que já vem no Bluesky para que seja possível ver o que tá rolando no mundo, mas qualquer desenvolvedor pode criar um feed, o que nos torna diferente [do X/Twitter] e quase parecidos com Reddit ou Discord.
– Rose Wang, diretora operacional do Bluesky

Essa capacidade, no entanto, vem com uma pegadinha: ter feeds customizados exige bastante conhecimento técnico de programação para implementar, o que automaticamente pode afugentar a maioria das pessoas de criar esses algoritmos, levando-as em direção a recursos mais simples (mas menos personalizados) como listas.

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Combate à toxicidade

Um dos maiores diferenciais do Bluesky em relação ao X/Twitter é a capacidade que a plataforma fornece aos usuários para criar mecanismos de moderação automatizada e manual, incluindo recursos anti-assédio (como a possibilidade de desvincular uma citação a um post seu feita por uma pessoa que está que criticando ou atacando) e possibilidade de fazer listas compartilháveis para mutar ou bloquear perfis.

Para nós a moderação é a espinha dorsal... Temos que ter um espaço seguro, e estabelecemos políticas de comunidade que não toleram assédio ou discurso de ódio.
– Rose Wang, COO do Bluesky

O Bluesky tem uma equipe de moderação (uma das maiores da empresa) que fica de olho em potenciais violações na plataforma, e age em cima delas quando detecta abusos (derrubando conteúdo, banindo ou suspendendo usuários). Ironicamente, a empresa contratou Aaron Rodericks, ex-líder de Trust and Safety (que lida com segurança em redes sociais) do próprio Twitter sob o comando do ex-CEO Jack Dorsey.

Mas a aposta mesmo vem de uma abordagem mais descentralizada de moderação, na qual os próprios usuários dentro de comunidades fiscalizam o que é publicado, algo parecido com o Reddit. Isso difere da abordagem centralizada da Meta e do YouTube, por exemplo, que precisam contratar dezenas de milhares de moderadores de conteúdo (em geral terceirizados).

"A forma como queremos escalar a moderação é diferente de como o Twitter ou o Facebook fazem, porque entendemos que podemos, na verdade, trabalhar em conjunto com organizações locais para nos ajudar a moderar e governar os espaços."

"Essas organizações, de certa forma, pode fazer um trabalho melhor de moderação em seus espaços do nossa equipe", acrescentou a executiva.

Lógica diferente

Além disso, os próprios algoritmos globais da rede já trazem uma lógica diferente de recomendação de conteúdo, que não é baseada somente em volume de engajamento.

Em plataformas como Twitter, Facebook e Instagram, conteúdos com muitos likes e views são melhor rankeados, fazendo com que engajamentos coordenados, polarizados ou artificiais (via bots) frequentemente promovam conteúdos ruins.

"Essencialmente o que estamos fazendo é conter conteúdos mais tóxicos que acabam sendo compartilhados justamente por serem promovidos [por engajamento]", disse Wang.

Além disso, os algoritmos globais do Bluesky gostam de links, e não penalizam a recomendação desse tipo de conteúdo, diferentemente do X/Twitter e de plataformas da Meta, como Facebook, que entregam menos posts que contém links externos.

"Não existe punição para publicar links no Bluesky."

Texto Sérgio Spagnuolo
Arte Rodolfo Almeida
Edição Alexandre Orrico

🔢 Texto atualizado em 31.ago.2024 às 15h05 com o total de novos brasileiros no Bluesky em 48h, no segundo parágrafo.

⚠️ Texto atualizado em 31.ago.2024 às 16h30 para esclarecer que a equipe de moderação do Bluesky é uma das maiores da empresa, e não "pequena" conforme notado anteriormente. A informação foi repassada por email pela assessoria de imprensa da empresa. Também corrige a data de lançamento para abr.2023, e não abr.2024, como foi apontado por engano.

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