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Eu ando impressionadíssima com a capacidade do passado de se conectar com a vida atual. Não só com a minha vida atual, mas com a vida atual no geral. Isso porque estou completamente viciada no conteúdo dessa página do Instagram, a Venceslau Gama, que posta nada mais que recortes de revistas antigas.
Quantas vezes ao longo da longuíssima pandemia (e no momento pós-pandêmico ainda corrente) você não se pegou olhando confusamente para o computador e pensando "meu deus do céu, o que eu ia fazer mesmo?"
Pois então:
Aliás, falando em pandemia, esse pesadelo recente demais tanto para esquecer como para elaborar totalmente, às vezes me pergunto o que foi que essa desgraça fez com a minha vida social. Mas veja você que, décadas – quiçá século – atrás, já tinha gente grilada com esse problema.
E não dá para negar que é trend falar mal do capitalismo, né. Mas, como quase toda trend, nem isso é novo.
Uma coisa que eu acho fantástica é lembrar que alguns dilemas que parecem exclusivamente de hoje também foram dilemas anos atrás. A gente imagina o povo dos séculos passados como num retrato preto-e-branco, todo certinho com um bigode impecável indo trabalhar com um guarda-chuva pendurado no braço e voltando para beijar ternamente a esposa e dar "alô" para os filhos. Mas a real é que todo mundo já se perguntou...
Até porque quando nossos avós e avôs eram jovens, eles não estavam vivendo no passado. Para eles, o passado, assim, PASSAAAAADO mesmo era o tempo do imperador, não a era da radiola, que era meio que... o presente.
E é claro que eles também adoravam a ZOAÇÃO.
Então, quando achar que esta geração é a primeira a sentir essa DESCRENÇA NO FUTURO, esse MAL ESTAR DO CAPITALISMO em um combo com GUERRAS e PANDEMIAS, lembre-se que em 1912 o Titanic afundou, em 1914 começou uma Guerra Mundial, 1918 já engatou a pandemia de gripe espanhola, em 1929 a Bolsa americana quebrou, em 1936 começou a Guerra Civil Espanhola (que teve o fascismo vencedor) e, quando o pessoal achou que não era possível mais desgraça, bom, no dia 1º de setembro de 1939 a Alemanha invadiu a Polônia e depois você já sabe.
Em uma rápida pesquisa, descobri que Venceslau Gama (ou Rafael Monte) tem história: uma reportagem de 2011 d'O Globo já fala nele como colecionador de revistas antigas.
Deixo então meu muito obrigada a este garimpeiro de um passado comum, ordinário, de dia a dia. E vocês também deviam agradecê-lo, pois fecho aqui com uma das melhores tours de Venceslau: a tour do Eleitério (que resume e reforça minha tese de que o mundo sempre foi meio doido).