Recentemente, o entomólogo e macrofotógrafo César Favacho compartilhou no Twitter um vídeo de um besouro que foi parcialmente comido por uma ave. O problema é que a porção ainda existente continuava se mexendo. Segundo ele, a parte remanescente poderia continuar viva por mais de um dia!
Ao ver as cenas, não sabemos se estamos em um episódio de The Walking Dead ou só contemplando a diversidade da natureza.
O sistema nervoso dos insetos é totalmente diferente do nosso, e isso permite que coisas assim aconteçam:
— César Favacho 🦗🐜🪲🦟🪳 (@CesarFavacho) June 29, 2022
esse besouro foi comido por uma ave, e a metade do corpo que sobrou ainda pode ficar "viva" por mais de um dia, agonizando lentamente. pic.twitter.com/C4N6fQT2ji
Segundo César, isso ocorre em virtude da organização do sistema nervoso dos insetos que, claramente, tem particularidades em relação ao nosso.
O divulgador científico Mateus Sanches explica que o sistema nervoso de insetos pode ter vários centros de processamento – ou gânglios – espalhados pelo corpo, controlados "quase que individualmente".
Mesmo no contexto mostrado por César, o besourinho não vai viver por muito tempo nessa condição do vídeo.
Essa é a mesma explicação para baratas e outros insetos conseguirem "sobreviver" por algum tempo sem cabeça.
— InsetoLand 🦋 (@InsetoLand) June 17, 2020
O corpo continua respondendo ao ambiente e resistindo, mas sem órgãos do sistema digestório, sensoriais e etc eles logo morrerão
Há outros casos em que os insetos perdem partes do corpo que, além da organização de seu sistema nervoso, podem se tornar viáveis por um período de tempo em virtude de o inseto não ter perdido tanto "sangue" (chamado de hemolinfa).
Isso é possível porque a circulação dos insetos é diferente da nossa, chamada de circulação aberta, conforme Mateus explica abaixo:
Como assim?
— InsetoLand 🦋 (@InsetoLand) November 29, 2020
No nosso caso, estaríamos vazando sangue devido a pressão dos vasos sanguíneos. Eles possuem circulação aberta então essa pressão não expulsa o sangue deles (hemolinfa)
O cordão nervoso é ventral e deve ter permanecido intacto no besouro. pic.twitter.com/67rnKYnHJd
Insetos também sentem dor
Em um primeiro momento, essa organização do sistema nervoso com vários centros de processamento, quase que individualmente, pode soar meio confusa, porque a estamos comparando com o funcionamento do nosso próprio sistema nervoso, mas isso não torna os insetos menos interessantes. Pelo contrário.
Nesse outro fio, Mateus Sanches explica como os insetos ouvem, cheiram, sentem dor e, generalizando, percebem o mundo:
[ INSETOS OUVEM? SENTEM CHEIRO? SENTEM DOR? DORMEM? COMO ELES VÊEM O MUNDO? ]
— InsetoLand 🦋 (@InsetoLand) September 21, 2019
segue aqui pra saber algumas coisas sobre insetos que você já se perguntou, ou até mesmo nunca se questionou por considerar como organismos inferiores pic.twitter.com/qKkS04MQQ9
E destaco um ponto importante do fio: insetos são capazes de sentir dor, situações de estresse, desconforto e irritabilidade.
O corpo desses animais é recoberto de pequenos sensores que captam essas informações, chamados de cerdas sensoriais.
No vídeo abaixo, podemos ver a reação de um louva-deus à exposição a uma substância ardente jogada por um besouro.
Aqui temos um exemplo de uma reação de um louva a deus um tanto humana, um besouro bombardeiro joga uma substância ardente e ele agita em desespero como quando somos surpreendidos por algo que causa ardência ou dor! (Olhem o besouro saindo tranquilo 😂😂😂) pic.twitter.com/L6ZGUNIzWi
— InsetoLand 🦋 (@InsetoLand) September 21, 2019
Frequentemente, nas redes sociais, vemos vídeos de animais em contextos em que podemos achar, num primeiro momento de descuido, que eles não estão sentindo dor. Mas temos que tomar muito cuidado com esse pensamento.
Foi o caso da lagosta que caiu na panela cheia de óleo quente. A Beatriz Almeida, bióloga marinha e divulgadora científica, fez um excelente fio explicando sobre o caso, além de reforçar que lagostas são seres sencientes, capazes de processar uma miríade de estímulos e, inclusive, sentir dor.
eu sei que virou meme e que biólogo explicando é sinônimo de ranço no tt, mas deixa eu fazer meu trabalho, por favorzinho?! 🥺
— OH, CRAB! 🦀 | Beatriz Almeida (@_ohcrab) May 2, 2022
lagostas são sencientes, ou seja, possuem a capacidade de ter sentimentos, como dor, fome, sede, etc.
segue o fio #CrustaThread pic.twitter.com/txAt9FkGCZ
Complexos e admiráveis
Comparações com outros organismos, como nós, sempre são muito complexas de serem feitas. E em relação aos insetos ainda há muitas questões sem respostas sobre como esse processamento do ambiente interno e externo geraria uma percepção abrangente de si e do seu entorno.
Por isso temos que ter a cautela em não menosprezar ou subestimar esse processamento, pois são animais extremamente complexos e admiráveis.
Enfim, insetos ouvem, cheiram, veem, se comunicam, se organizam entre si e fazem muita coisa que nós fazemos e as vezes melhor! Espero que isso sirva pra perceber que nós não estamos acima de tantos outros organismos extremamente complexos como pensamos estar
— InsetoLand 🦋 (@InsetoLand) September 21, 2019
Um pouco dessa complexidade foi compartilhada pelo pessoal no post do César Favacho com o vídeo do corpo do besourinho estraçalhado, mas ainda ativo.
Ja achei um lindão todo espatifado. pic.twitter.com/V6wYpDAK4a
— Elfa dos Insetos (@ElfaDosInsetos) June 29, 2022
No verão eu via muitos besouros-cervo assim caídos pelos arredores dos carvalhos. As aves realmente se esbaldam com eles! 😬 pic.twitter.com/2cXPTrhAGG
— Observações Naturalistas (@ObsNaturalistas) June 29, 2022