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Bom dia! É bem provável que você tenha visto pelo menos uma postagem nas redes sociais dizendo que o Brasil vai ficar inabitável em 50 anos, segundo a Nasa. Pois bem, não é bem assim. A divulgadora científica que ajudou a esclarecer essa história, a física Karina Lima, escreve a nossa nota do convidado. Pode entrar, polígoner!
Versão anterior do texto desta news dizia que o portal G1 correu para a corrigir a informação de que o Brasil estaria inabitável em 50 anos. Na verdade, o G1 desde o início ouviu especialistas para publicar a informação correta, de que o estudo não dizia isso.
O texto foi corrigido em 31.jul, às 10:58.
Inabitável [texto editado em 31.jul às 10:58]
Na semana passada, o Globo publicou uma notícia sobre um estudo da Nasa que apontava o país como um dos locais onde “não será possível viver” em 50 anos por causa do aquecimento global. A notícia repercutiu muito, e vários portais cozinharam a manchete. Só que ela causou estranheza entre os especialistas, pelo teor apocalíptico da coisa. E tinha mesmo caroço nesse angu. Alguns portais, como o G1, ouviram especialistas para dizer que o estudo não dizia exatamente isso.
Pera lá
O estudo citado era de 2020, e sequer mencionava o Brasil, como apontou a Karina Lima nesse fio imperdível. A repercussão foi grande, e vários dos mesmos portais que deram a barrigada (o termo jornalístico pra uma notícia equivocada) correram para se explicar. Nossa situação é sim, ruim, mas não a esse ponto. E dizer que o Brasil inteiro ficará inabitável é desmobilizante, como bem disse o jornalista Reinaldo José Lopes, nesse texto primoroso sobre o assunto.
Oxigênio negro
Pesquisadores descobriram que certas pedras produzem oxigênio no fundo do oceano. Isso desafia o conhecimento atual de que o gás, necessário para a vida, seria produzido apenas pela fotossíntese. Na verdade, desafia o próprio conceito da origem da vida, se a gente for pensar. O achado é tão doido que os próprios cientistas achavam que era um erro de leitura a princípio.
Cocaína nos tubarões
Um estudo da Fiocruz detectou cocaína em 13 tubarões coletados no Rio de Janeiro. Para os autores, isso indica um alto índice de descarte na droga via esgoto. O time vai pesquisar agora outros contaminantes e diferentes animais. Foi o primeiro achado do tipo em tubarões, e repercutiu na imprensa internacional.
* Ouvindo um Racionais suavão, até que…
* A explosão hidrotermal no parque Yellowstone, nos Estados Unidos
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* Um remédio demonstrou 100% de eficácia na prevenção do HIV e sete pacientes já foram curados com transplantes de medula
* Esses robôzinhos fofos feitos de ferrofluido e hidrogel, que se movimentam com luz e magnetismo
Em 50 anos...
Lorota do "Brasil inabitável em 2070" é (mais uma) prova de que em 2024 às vezes engajamento vale mais do que apuração, escreve Alexandre Orrico, editor do Núcleo.
Mais informação, menos fatalismo
Karina Bruno Lima, doutoranda em Climatologia (UFRGS) e divulgadora científica comunicando sobre mudanças climáticas e meio ambiente.
Talvez por ser tão chocante, muitos veículos replicaram a notícia de que o Brasil seria inabitável em 50 anos, segundo a Nasa. Infelizmente, fizeram isso sem apurar antes a história, o que resultou em um telefone sem fio com distorções em relação às reais conclusões do estudo, que sequer pode ser considerado como “da NASA”.
O artigo científico em questão é de 2020 (não é uma publicação nova como se sugere) e analisa eventos com altas temperaturas de bulbo úmido (medida que relaciona temperatura e umidade e serve para mensurar estresse térmico, diferente do número do termômetro comum). Teoricamente, uma temperatura de bulbo úmido de 35°C seria o limite para a sobrevivência humana.
Uma das conclusões é de que várias regiões do mundo podem ter eventos que excederão os 35°C de temperatura de bulbo úmido com certa frequência, em um cenário de menos de 2.5°C de aquecimento global. Mas o estudo não tem como foco o Brasil e sequer o cita. O país é mencionado apenas em um comentário do autor principal em uma entrevista de 2022 para o site da NASA, como uma das regiões suscetíveis a tais eventos no futuro.
O Brasil é gigantesco, com características muito diferentes em seu território. Mesmo que algumas regiões possam registrar eventos assim nas próximas décadas, isso não significa que o país inteiro se tornará inabitável, nem que os eventos acontecerão durante o ano todo, visto que existe sazonalidade. Também não sabemos a duração que terão e o principal: os cenários foram projetados conforme níveis de aquecimento global, logo, estão em aberto.
A situação é realmente grave e é essencial que consigamos limitar o aquecimento global provocado pelo homem bem abaixo dos 2°C para diminuir este e outros riscos. Assim como precisamos de adaptação para o mundo que já temos e que teremos. Estamos em uma década crítica, em que muito ainda pode ser feito para assegurar um futuro habitável, mas é necessário uma sociedade consciente e engajada. E não é por meio de informações incorretas e fatalismo que conseguiremos isso.