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Bom dia! Aqui é a Meghie Rodrigues e hoje vamos falar de uma semana agitada: teve indício de água em Marte, mudança de nome em espécies de plantas, a primeira declaração de emergência de saúde global após a pandemia, ataques à ciência na Câmara e discussões sobre a lógica de "publicar ou perecer" que ainda insiste em ser a norma na ciência. Na nota da convidada, a ginecologista Gabriela Rezende joga luz sobre mulheres XY — ainda pegando carona no que aconteceu com a boxeadora argelina Imane Khelif durante as Olimpíadas (que deixaram saudade, né?). Bora?
Águas de Marte
Um estudo com dados da sonda Mars InSight, da NASA, sugere que existe água líquida em Marte. A água não está na superfície do planeta, mas em camadas profundas de rocha. A sonda conseguiu encontrar evidências com um sismômetro que viu a parte profunda do planeta "tremer" — movimento que indica que pode haver água ali.
De olho na mpox
A mpox, doença que pertence ao mesmo gênero da varíola humana, foi declarada emergência internacional pela OMS. A transmissão se dá pelo contato com secreções de animais infectados, mas o contato entre humanos (e partículas expelidas pelo ar) também transmite a doença. Não é uma pandemia, mas autoridades estão de olho. Vale ver esse vídeo excelente da Mel Dutra sobre.
Um negócio rentável
Juntar a fome com a vontade de comer pode ser ruim para a ciência. É que se de um lado há pesquisadores sob pressão para publicar estudos em quantidade, do outro há um monte de revistas predatórias querendo dinheiro para publicar qualquer coisa. Bom mesmo seria mudar essa lógica de quantidade valer mais que qualidade. Vale escutar o episódio mais recente dos amigos do Ciência Suja sobre esse problemão.
Nome racista
Cientistas botânicos decidiram alterar uma nomenclatura científica compartilhada por mais de 200 espécies de plantas. "Caffra", que acompanhava várias espécies africanas, é um xingamento extremamente ofensivo e racista no sul da África. É a primeira vez que esse tipo de mudança acontece por questões sociais e não científicas.
Liberou geral
A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que permite desmatar a beira de rios e nascentes em todo o país. O PL 2.168/2021 dá permissão para desmatar áreas de proteção permanente e dá mais uma volta no parafuso da destruição ambiental no Brasil — mesmo depois de um desastre como as enchentes no RS.
* A mudança climática está mudando o movimento do planeta. Literalmente.
* Coisa boa: a vacina do Butantan é super eficaz contra a dengue.
* Matrix, 25 anos (!!)
* Olha que fofo esse pequeno "dicionário" de termos geográficos! 🤓
* Ingerimos SEIS vezes mais microplásticos hoje do que em 1990. 😨
* Um golfinho sexualmente frustrado causa confusão no Japão.
* Revelada a localização de onde saiu o asteroide que matou dinossauros.
* Estudante de 15 anos inventa sabonete contra câncer de pele e é capa da Time.
* Você viu a superlua azul ontem? Tem hoje também! 🌕
* As bets estão atrapalhando poupança de famílias, diz estudo.
Nota da convidada
Mulheres XX e Mulheres XY
Por Gabriela Pravatta Rezende, ginecologista especialista em Ginecologia Endócrina do Centro de Atenção Integrada à saúde da mulher (CAISM) - UNICAMP
É de senso comum que o sexo biológico feminino tenha, via de regra, um cariótipo 46 XX, sendo o cromossomo Y mais relacionado ao sexo biológico masculino. No entanto, mulheres com características tipicamente femininas podem, em algumas condições, apresentar cariótipos diferentes do 46 XX.
Há diversas anomalias em que pessoas com características clínicas femininas podem apresentar um comprometimento do desenvolvimento da puberdade e outras variações cromossômicas (que podem ou não envolver a presença do cromossomo Y).
Mas antes, como a diferenciação sexual acontece? No braço curto do cromossomo Y há um gene, SRY (guarde esse acrônimo — ele será importante depois), responsável pela transcrição de uma proteína chamada Fator de Diferenciação Testicular — ou TDF. O TDF faz com que a gônada (órgão que produz células sexuais) se transforme em testículos.
No tecido testicular existem dois tipos celulares principais: as células de Leydig, que produzem testosterona, e as células de Sertoli, que cortam o desenvolvimento dos ductos de Müller (que dão origem à genitália interna feminina). A partir daí, acontece a formação de estruturas tipicamente associadas ao sexo biológico masculino.
Quando ligada ao seu receptor, a testosterona desempenha um papel importante no desenvolvimento de pêlos corporais, pênis, uretra peniana e escroto.
Por outro lado, na ausência do cromossomo Y, a gônada tende a se diferenciar em ovários, há a formação de útero e demais estruturas tipicamente femininas, além de haver, pela ausência do estímulo da testosterona, a formação do terço inferior da vagina, clitoris, grandes e pequenos lábios.
Esse é o processo de diferenciação sexual intrauterino.
Entretanto, algumas situações podem acontecer com falhas nesse complexo ciclo de estímulo ao desenvolvimento das estruturas sexuais. Isso quer dizer que indivíduos com características clínicas femininas podem ter um cromossomo Y disfuncional, que, por possíveis falhas na cadeia que envolve a embriologia, não envia a ordem genética de maneira correta.
É como se houvesse uma programação genética para desenvolvimento de um embrião do sexo biológico masculino que não foi completa devido a mutações, deleções, alterações da transcrição de proteínas e/ou funcionamento inadequado dos receptores hormonais.
Um exemplo dessa condição é a chamada disgenesia gonadal completa ou Síndrome de Swyer. Nela, há um cariótipo 46 XY porém o gene SRY (lembra dele? o gene responsável pela diferenciação testicular) é mutado e não há fator de diferenciação testicular funcionante.
É uma condição rara em que a gônada não produz hormônio antimulleriano, testosterona ou estrogênio em níveis normais. Assim, ocorre o desenvolvimento da genitália interna e externa compatíveis com o sexo biológico feminino, mas a gônada não é nem um ovário e nem um testículo (disgenética).
Clinicamente, essa síndrome se manifesta por alta estatura, atraso puberal e ausência da primeira menstruação.
Outra condição em que também há a presença de cromossomo Y em indivíduos com características femininas é a insensibilidade androgênica, chamada também de Síndrome de Morris. Nela, há o gene SRY funcionante, produção de fator antimulleriano e formação de testículos, porém a testosterona não consegue funcionar adequadamente por um déficit (insensibilidade) nos receptores, fazendo com que a genitália externa seja feminina.
Nesses casos, a dosagem de androgênios mostra valores masculinos, uma vez que o cromossomo Y é funcionante, porém a ação da testosterona não se manifesta.
O diagnóstico dessas condições consiste em um desafio na prática clínica e deve ser realizado por um especialista, a fim de propor um seguimento e tratamento adequados. Na maioria dos casos, na presença do cromossomo Y é indicado que a gônada seja retirada cirurgicamente pelo risco associado a essas disgenesias e a terapia hormonal pode ser indicada, mas cada caso é avaliado de maneira individual.
Cabe ressaltar que, uma vez que essas mulheres apresentam características fenotípicas femininas, a presença do cromossomo Y não deve ser encarada como um fator confundidor de gênero ou de sexualidade. A identidade de gênero e orientação sexual envolvem múltiplos aspectos e não são determinados por características genéticas.