Vergonha e tristeza

Aqui é a Meghie Rodrigues, um pouco mais aliviada por ter visto chuva este fim de semana, mas apavorada (que nem o Carlos Nobre) com a mensagem claríssima das queimadas.
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Bom dia! Aqui é a Meghie Rodrigues, um pouco mais aliviada por ter visto chuva este fim de semana, mas apavorada (que nem o Carlos Nobre) com a mensagem claríssima das queimadas. Hoje vamos continuar falando delas. Vamos também falar de caminhada no espaço, e de uma condenação absurda (para dizer o mínimo). Na nota do convidado, Emilio Moran e Igor Johansen falam do impacto da construção de hidrelétricas na Amazônia para ajudar a dar um pouco de contexto sobre o caos climático que estamos enfrentando. Bora?


Ruim para o pulmão
Na última semana, as queimadas continuaram ardendo Brasil afora. Uma seca extrema tem contribuído para o fogo e para a baixa na qualidade do ar pelo país. Além de material particulado, estamos respirando dióxido de enxofre, ozônio, monóxido de carbono e dióxido de nitrogênio. Respirar em São Paulo é como fumar quatro ou cinco cigarros por dia, segundo o patologista Paulo Saldiva, da USP. O menos mal é que tem como reduzir esses impactos na saúde tomando medidas como fechar as janelas e tomar água. Veja mais

Caminhada no espaço
Na quinta passada, dois dos quatro tripulantes do programa Polaris Dawn, da SpaceX, fizeram uma caminhada livre pelo espaço sideral. É a primeira vez que civis, levados pra lá por uma empresa privada, fazem isso. O bilionário Jared Isaacman (que financiou a empreitada) foi o primeiro a sair, seguido de Sarah Gillis, engenheira de operações espaciais da SpaceX. Eles andaram a 700 km da Terra em uma área em que dava para ver a Austrália e a Antártida. 

Vergonha e tristeza
Tal como a Chloé adiantou semana passada, as cientistas Ana Bonassa e Laura Marise, do NuncaVi1Cientista, foram condenadas pela justiça de São Paulo a apagar uma postagem e pagar danos morais a um usuário de redes sociais que desinformava sobre diabetes (dizendo que a doença é causada por vermes e, CLARO, propondo um "protocolo de desparasitação"). Ele disse sentir "vergonha e tristeza" por Bonassa e Marise usarem um conteúdo dele (que estava *público* nas redes) para desmentir a desinformação. Vergonha e tristeza sentimos os brasileiros com algum senso de realidade sobre essa decisão — que, se não for revertida, pode inaugurar um precedente perigosíssimo para a ciência, jornalismo e democracia no Brasil. Desde quando checagem de fatos é crime e desinformação?

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Você viu?

* Tem monóxido de di-hidrogênio na sua Coca cola. 😨
* Isso aqui é um cromossomo, gente! 🧬
* O espelho sabe quando a gente tenta enganá-lo? 🤔
* Gosta de astronomia? Olha esse fio da Yanna Martins :) 
* Por falar em astronomia… e essas imagens, hein? 
* Uma meia para tratar pés de diabéticos 🇧🇷
* Chuva inundando o Saara!… E no Brasil, rios voadores de fumaça.
* Quando alguém te disser que matemática não serve pra nada, você manda esse vídeo, combinado? 
* A ciência perde a entomóloga Mariana Stanton, que tem uma história impressionante.
* A Islândia parece estar outro planeta, né?

NOTA DO CONVIDADO

A face oculta das hidrelétricas na Amazônia brasileira: Impactos locais e benefícios distantes

Por Emilio F. Moran, antropólogo, professor da Universidade Estadual de Michigan (Estados Unidos) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Igor Cavallini Johansen, demógrafo, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Na década de 1930, os países do Norte Global aceleraram significativamente a construção de hidrelétricas. No entanto, a partir da década de 1960, esse movimento desacelerou devido ao reconhecimento dos grandes impactos sociais e ambientais dessas obras. 

Com o tempo, a hidreletricidade foi perdendo espaço para outras fontes de energia. Nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de 40% da energia era proveniente de hidrelétricas nos anos 1930; hoje, essa participação caiu para cerca de 9%. Em contrapartida, os países do Sul Global intensificaram a construção de hidrelétricas a partir da década de 1970. 

No Brasil, sob os governos militares, a ideia de um "Brasil gigante" impulsionou a expansão dessa fonte de energia, uma aposta que persiste até hoje. A Amazônia, com o maior potencial inexplorado de hidreletricidade no país, tem sido palco de grandes barragens como as usinas de Santo Antônio e Jirau, em Porto Velho-RO, e Belo Monte, em Altamira-PA. 

Nosso projeto de pesquisa, intitulado "Depois das Hidrelétricas: Processos Sociais e Ambientais após a Construção de Belo Monte, Jirau e Santo Antônio na Amazônia Brasileira", financiado pela FAPESP, revelou impactos profundos nas comunidades locais. 

Esses impactos incluem prejuízos à pesca, à biodiversidade aquática e ao modo de vida dos pescadores. Além disso, a construção das barragens aumenta a vulnerabilidade das pessoas vivendo ao seu redor, facilitando invasões, grilagem de terras e desmatamento em áreas protegidas e territórios tradicionais. 

Constatamos que as populações locais se percebem como "zonas de sacrifício" para o “desenvolvimento” do país. Enquanto as hidrelétricas geram impactos negativos localmente, a eletricidade é enviada para áreas economicamente mais desenvolvidas do país. Além disso, o custo da energia para os moradores locais é muito mais alto em comparação com as regiões beneficiadas por essa eletricidade. 

As hidrelétricas na Amazônia reforçam as desigualdades internas no Brasil.


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