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Ao longo de uma década de engrossamento constante do extremismo político, as pessoas, principalmente jornalistas e pesquisadores, ficaram calejados em desmentir majoritariamente teorias de conspiração oriundas da extrema direita. Coisas como acusações infundadas de fraudes eleitorais e inverdades sobre a pandemia de Covid-19.
Sempre houve desinformação da esquerda, claro, mas ela em grande parte se mostrou relativamente mais contida a certas bolhas específicas, a câmaras de eco que pregavam para os já convertidos. Uma coisa é uma figura como o deputado federal André Janones compartilhar mentiras sobre a fakeada, outra é todo o establishment político da esquerda pegar carona (como acontece com muita frequência entre lideranças da extrema direita).
Mas os eventos mais recentes nos EUA estão aparentemente aumentando a escala dessa dinâmica na esquerda.
Embora não tenha subido aos mais altos escalões do partido democrata, pesquisadores de desinformação começaram a identificar que uma penca de narrativas fantasiosas da esquerda para desacreditar o atentado sofrido pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump tem ganhado aderência nas redes sociais progressistas. Daí para o topo do establishment, ansioso com as eleições que se aproximam, é um pulo.
As acusações são as mais diversas: de que o sangue de Trump era falso, de que houve participação do Serviço Secreto para encobrir uma farsa e de que foi tudo um teatro para fazer o candidato ganhar popularidade na reta final para as eleições presidenciais dos EUA, que acontecerão em nov.2023.
O termo "BlueAnon" foi usado poucas vezes nos últimos anos, e serve pra designar teorias da conspiração da esquerda nos EUA – baseado no "QAnon", um grande delírio conspiracionista que ganhou muita força na extrema direita norte-americana a partir de 2016, mas perdeu considerável força depois da eleição de Joe Biden à presidência dos EUA em 2020 e a subsequente invasão ao Capitólio em jan.2021.
Mas, segundo o Washington Post, pesquisadores estão tirando o termo do baú para se referir à enchente de especulações, descontextualizações e mentiras que circulam em torno do atentado. Sobram até acusações de cumplicidade para organizações sérias de jornalismo como New York Times, Washington Post, CNN e Associated Press.
Pra azedar ainda mais toda essa sopa, a extrema direita (que surpresa!) também passou a inventar sua parte de mentiras em torno da tentativa de assassinato, como acusações de que os chineses e os antifas estão por trás, entre muitas outras.
Nada disso é novidade. Uma pesquisa publicada neste ano mostrou que tanto eleitores democratas quanto republicanos, os dois principais partidos nos EUA, são muito flexíveis com a verdade quando a teoria respalda suas crenças.
A novidade é que há eleições em vista nos EUA e que o principal candidato acabou de tomar um tiro na orelha. A difusão de especulações em mentiras vai ter o efeito oposto ao que muitos políticos norte-americanos estão pregando: de que é a hora de baixar o fogo da panela de pressão política no país.