Coronavírus: interesse sobre cloroquina disparou após vídeo de Bolsonaro

Tuíte de presidente sobre 'possível cura' deu mais tração para assunto que já tinha força, apesar de alerta de especialistas de que medicamento não tem eficácia cientificamente comprovada contra a COVID-19.
Coronavírus: interesse sobre cloroquina disparou após vídeo de Bolsonaro
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Na tarde de sábado, 21 de março, o presidente Jair Bolsonaro publicou um vídeo no Twitter no qual anuncia "possível cura dos pacientes com a COVID-19", sem fazer nenhum alerta, aviso ou menção de que os resultados do tratamento com cloroquina contra o coronavírus ainda são inconclusivos, de acordo com especialistas e autoridades sanitárias em todo o mundo.

A cloroquina e a hidroxicloroquina já vinham ganhando notoriedade na última semana após a divulgação de pesquisas ainda preliminares com o medicamento. O site de checagem Aos Fatos explica bem o assunto.


É importante porque...
  • Ainda não é cientificamente comprovado (até ao menos 23/03) que cloroquina seja de fato eficiente contra COVID-19

  • Endosso presidencial pode levar a compras desnecessárias e desabastecimento do produto para os que mais precisam dele


Acesse aqui dados em tempo real sobre a pandemia - via Johns Hopkins University

No entanto, as buscas online e tuítes sobre o assunto cresceram ainda mais após o vídeo do presidente, de acordo com análise do Núcleo com dados do Twitter e do Google Trends.

twittertrends

A média de tuítes por hora com os termos "cloroquina" ou "hidroxicloroquina" naturalmente disparou após notícias sobre o estudo, no dia 19. O vídeo de Bolsonaro serviu, então, para não apenas reacender como também impulsionar o interesse, que já era grande.

O número de tuítes por hora no dia 21 (frente ao dia anterior) sobre o tema cresceu 66% após o vídeo, para 1.844 publicações.

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Isso é significativo porque, por ter quase um endosso do presidente como "possível cura", sem nenhum alerta ou contraindicação, muitas pessoas podem correr para comprar o medicamento, acabando com estoques para aqueles que realmente precisam e se automedicando indevidamente. Segundo a agência de notícias Bloomberg, dois gramas de cloroquina podem ser letais.

A procura pelo medicamento nas farmácias aumentou tanto, mesmo antes do vídeo de Bolsonaro, que a Anvisa determinou na última sexta-feira que os produtos sejam considerados de uso "controlado". No entanto, no Brasil, ainda é comum a compra de medicamentos controlados mesmo sem prescrição médica.

"A medida é para evitar que pessoas que não precisem desses medicamentos provoquem um desabastecimento no mercado. A falta dos produtos pode deixar os pacientes com malária, lúpus e artrite reumatoide sem os tratamentos adequados", informou a Anvisa em nota.

O aumento do interesse depois do vídeo de Bolsonaro também ser visualizado a partir de buscas do Google, maior mecanismo de busca da internet. O pico de interesse acontece logo depois do tuíte de Bolsonaro com o vídeo.

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Na imprensa

METODOLOGIA

O Núcleo analisou 150 mil tuítes, de 15 a 23 de março de 2020, captados pela API gratuita do Twitter. O código da análise pode ser encontrado aqui.

Os dados do Google são da plataforma do Google Trends e vão de 16 a 23 de março. No caso do Google, optou-se apenas por "cloroquina" pois foi o termo utilizado no vídeo do presidente. No caso do Twitter, incluiu-se 'hidroxicloroquina' para aumentar a base de análise, já que o termo estava sendo utilizado também nessa rede. Para melhorar a visualização, em alguns casos os primeiros e último dia não foram incluídos nos gráficos, o que não muda a análise.

Por fim, o link para o tuíte do vídeo de Bolsonaro.

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