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Boa parte do conteúdo do Facebook Papers tem sido sobre como o conglomerado de redes sociais trata (ou ignora) questões como discurso de ódio, desinformação e saúde mental de adolescentes. Mas o vazamentos de pesquisas internas também pode jogar luz sobre questões concorrenciais importantes, já que a empresa de Mark Zuckerberg é reconhecida por copiar ou comprar concorrentes.

Esse é o caso da disputa entre o TikTok, rede chinesa de vídeos curtos e dinâmicos que tem crescido vertigionosamente em todo o mundo nos últimos dois anos, e o Reels, cópia descarada do Instagram para não ficar para trás.

A disputa entre os dois produtos é acirrada, mas pro Facebook está claro que o TikTok – que tem seus próprios profundos problemas, diga-se – está na frente.


É importante porque...
  • Mostra como o Facebook percebe e compara seu produto com um grande concorrente, o que pode ter impacto diretamente na experiência das pessoas
  • É um exemplo de como o Facebook encara e disseca a concorrência – nada que outras empresas do mercado não façam, mas certamente pode ser usado para copiar.

Na pesquisa interna Reels vs TikTok: Session-level Experience: learnings from a nine-day diary study, publicada no fórum interno da companhia em 29.abr.2021, o Facebook (que agora se chama Meta) reconhece que a concorrência não apenas é competitiva, ela é melhor – pelo menos nos critérios deles.

"Há diversos valores além do entretenimento que tornam o TikTok mais atraente do que o Reels, incluindo melhor relevância [sic] e experiência mais profunda de engajamento. A principal vantagem deles [TikTok] é um relacionamento mais próximo entre criadores e espectadores, e a capacidade de descobrir novos conteúdos relevantes", diz um trecho do resumo.

"A maioria dos participantes preferiram o TikTok em comparação ao Reels ao fim do estudo, mesmo que tenham começado como usuários do Reels", conclui a pesquisa.

A pesquisa, de 9 dias de duração, contou com 35 participantes (16 homens e 19 mulheres) que completaram o estudo, variando de 13 a 30 anos.


Não que o TikTok seja um produto livre de problemas: desinformacão e conteúdo ofensivo rolam soltos por lá, inclusive do suicídio de um jovem que sofreu assédio após a publicação de um vídeo, e a rede tem visto um crescente movimento de conteúdo ufanista e militarista no Brasil.

Mas o Facebook admite internamente que seu produto é pior.

"A principal coisa é a falta de conteúdo original... Fico cansado das tendências muito, muito rapidamente e a maioria das vezes elas não são engraçadas", disse um jovem com idade entre 18 e 24 anos.

A pesquisa admite o que todo mundo já sabia: o Reels tem muitas republicações de conteúdo original do TikTok e vídeos excruciantemente repetidos.

"As coisas no Instagram são geralmente básicas e menos engraçadas, e tem um monte de coisa copiada." – usuário do TikTok entre 13 e 17 anos

Isso aparentemente afeta o engajamento no Reels. "As pessoas foram mais generosas com 'likes' no TikTok (mas não no Reels). Seguir criadores é visto como um sinal mais positivo do que 'likes'".

"Eu não sigo muitos perfis no TikTok comparado ao Instagram. Eu principalmente uso o botão de coração [no TikTok] e ainda recebo muito mais vídeos que prefiro assistir", disse uma jovem entre 18 e 24 anos usuárias dos dois apps.

Pontos negativos para o Reels também incluíram o fato de que não é possível pausar vídeos nem fazer buscas.

No fim, o que o Reels realmente quer é a capacidade de amplificação de "pessoas normais fazendo coisas que entretém, e ajudando a amplia os universos dos expectadores".

A cobertura brasileira do Facebook Papers
Tudo o que foi publicado por veículos nacionais que tiveram acesso aos documentos

PROBLEMAS DE "INTEGRIDADE"

A pesquisa de fato identificou mais problemas de "integridade" – jargão que o Facebook gosta para se referir a conteúdo inapropriado ou ofensivo – no TikTok do que no Reels, coisas como crueldade animal, pessoas se machucando ou vídeos ocasionalmente ofensivos.

"Entretanto, sabemos de pesquisas anteriores que cerca de 1 em 4 pessoas relataram ter passado por questões de integridade no Reels, logo, apesar da maioria das pessoas nesta pesquisa não ter passado por nenhuma, não significa que não existam problemas de integridade na nossa plataforma", disseram os autores.

Vale notar que, segundo a pesquisa, mesmo que usuários do TikTok tenham visto vídeos com conteúdo ofensivo (coisa como somente 1 ou 2 por sessão), pode não ter sido o bastante para estragar a sessão que tiveram no aplicativo.

Como fizemos isso

O Núcleo foi convidado a participar do consórcio de veículos internacionais que possuem acesso aos documentos trazidos à tona pela ex-funcionária do Facebook Frances Haugen, no que ficou conhecido como Facebook Papers.

Esses documentos foram primeiramente noticiados pelo Wall Street Journal, que chamou a série de Facebook Files.

Texto Sérgio Spagnuolo
Edição Alexandre Orrico

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