A vitória de Donald Trump à presidência dos EUA em 2024 vai ser um divisor de águas para o noticiário político baseado no X, e influenciadores, personalidades, políticos, autoridades e jornalistas precisam decidir se vão se prender aos portões do inferno ou se procurarão lugares mais saudáveis para se expressar.
A completa transformação do Twitter em cabo eleitoral de Donald Trump sedimentou a ideia de que não é apenas OK, como também encorajado, espalhar desinformação em troca de ganhos políticos – estratégia antes restrita a redes menores.
O X não é uma plataforma qualquer – ela é construída em cima de mais de uma década de trabalho do Twitter, atraindo centenas de milhões de usuários e movimentando o noticiário e decisões políticas no mundo inteiro.
Q Anon e esquerda que devora crianças antes eram assuntos de grupos obscuros do Telegram e redes sociais tipo Truth Social, Gettr, Parler e Gab.
Claro, sempre houve extremismo, desinformação e exploração política no Twitter, não se engane quanto a isso. Foi inclusive um dos principais veículos usados pessoalmente por Trump em sua primeira eleição, em 2016. Mas pelo menos havia adultos olhando, e atos extremos podiam gerar consequências – como, por exemplo, o bloqueio de Donald Trump após incentivos aos atos antidemocráticos de 6.jan.2021 em Washington DC.
Mas, agora, a extrema direita pode fazer o que quiser no X porque o dono da plataforma, Elon Musk, vai deixar. A bola é dele.
No Twitter, até 2022, posts e perfis com esses tipos de absurdo eram monitorados e moderados. Nesse momento, eles têm milhares de retweets e são bombados por selos azuis pagos que têm seu conteúdo artificialmente amplificado (pay for play). Já era o caso em 2023, mas foi oficialmente normalizado agora que ele ganhou.
Claro que não foi o X sozinho que elegeu Trump. Há uma grande máquina de propaganda por trás que gastou bilhões de dólares em campanha e anúncios de TV. Mas a forma como Musk transformou a plataforma em um canal publicitário de sua preferência política deu um empurrão brutal no presidente-eleito.
E nós, jornalistas e pesquisadores, não temos sequer acesso para monitorar o que rola lá dentro, após todos os esforços de Musk para fechar a API e quaisquer outras rotas que nos permitiam ver o que se fala na plataforma.
Muitos jornalistas e personalidades, apegados às vaidades do número de seguidores que conquistaram por lá, se recusam a sair de um lugar que não quer mais saber de fatos e notícias. É difícil mesmo desapegar, mas será que é tão difícil assim?
Seja como forma, prepare-se para ver essa plataforma mainstream servir como uma mangueira de chorume em cima de todo mundo que continuar por lá, tudo dentro dos termos de uso.