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O governo Lula foi desossado nas redes

Campanha da direita sobre novas regras da Receita Federal a respeito do PIX foi um tsunami que o governo foi incapaz de conter

O governo Lula foi desossado nas redes
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Raio-X é uma editoria de análise opinativa sobre tecnologia e internet.

A campanha orquestrada pela oposição para criticar as novas regras de fiscalização da Receita Federal demonstrou o quão fundo é o buraco de comunicação do governo Lula, gerando uma publicidade tão negativa que o próprio governo federal foi obrigado a voltar atrás e reverter suas normas.

Desde a semana passada, quando começaram a sair notícias sobre as novas regras da Receita Federal, que passaria a fiscalizar quem movimenta mais de R$ 5.000 por mês por meio de pagamentos digitais, surgiram diversas mentiras de que haveria um imposto sobre o PIX.

O governo foi péssimo em tentar conter essas mentiras, mesmo alistando o presidente Lula para gravar um vídeo desmentindo esses boatos.

Seja como for, é possível desmentir mentiras, mas a coisa fica feia mesmo quando o argumento da oposição utiliza informações reais para tecer uma narrativa contra o governo. Foi aí que o governo começou a sofrer ainda mais.

A coisa escalou de verdade com um vídeo viral publicado pelo deputado Nikolas Ferreira em 14.jan.2025, o qual já ultrapassou 200 milhões de visualizações no Instagram, 6 milhões no X e 425 mil no YouTube.

Apenas como comparação, o vídeo de Lula desmentindo taxação do PIX no Instagram teve 15,9 milhões de views.

O termo PIX nunca foi tão buscado no Google, nem na ocasião de seu lançamento.

A disputa pela atenção das pessoas nesse caso claramente pendeu para o lado da oposição.

Em seu vídeo, Ferreira critica as novas regras de monitoramento da Receita Federal, inclusive fazendo associações com outros assuntos sem nenhuma relação direta (como outras taxas criadas pelo governo).

Até mesmo o jornal Estado de S.Paulo mordeu a isca, publicando um editorial nesta quarta-feira dizendo que, claro, a taxação do PIX é mentira, mas é uma mentira que supostamente faz sentido por causa da “sanha arrecadatória” do governo. 

Com uma repercussão negativa assim, os fatos ficam enterrados – e, assim, a Receita Federal anunciou que vai derrubar a instrução normativa sobre sua fiscalização.

Toda confusão acontece em um momento de transição da liderança da comunicação do governo, o qual tem sido criticado por não conseguir passar a mensagem melhor do que quem espalha fake news.

O novo secretário da Secom, Sidônio Palmeira, tem uma tarefa muito difícil pela frente, algo que a esquerda (inclusive o ex-secretário Paulo Pimenta) nunca conseguiu fazer bem de forma organizada, que é dominar as histórias que são contadas e ficar à frente das fake news e campanhas bombardeadas pela oposição.

Houve muita desinformação sim, mas também uma falha colossal do governo em prever os impactos e repercussões de suas próprias normas. O assunto explodiu e, com esse tipo de escala, é difícil tomar as rédeas. Daí só sobra a crise.

Sérgio Spagnuolo

Sérgio Spagnuolo

Jornalista e diretor do Núcleo. Em 2014, criou a agência de newstech Volt Data Lab. Foi Knight Fellow no ICFJ e diretor na Abraji, além de ter colaborado com vários veículos nacionais e internacionais

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