É difícil para brasileiros hoje em dia se lembrarem do Digg (eu vagamente me lembro), mas o pessoal mais saudosista lá nos EUA se recorda bem da época em que a rede social era conhecida como a "homepage da internet" – depois perdeu o título para seu inimigo mortal Reddit.
Lançado em 2004, lá nos primórdios da redes sociais digitais, o Digg foi uma plataforma de comunidades cujo principal recurso era a divulgação de usuários de coisas legais por aí na internet, permitindo comentários e upvotes – algo muito próximo do Reddit, mas talvez ainda mais concentrado no compartilhamento de links e sem a mesma taxonomia de subreddits.
Com o tempo o Reddit foi crescendo e o Digg foi perdendo usuários e relevância, os fundadores deixaram a empresa, que passou por vários donos e modelos de negócio diferentes. Um site ainda existe, mas é praticamente uma ferramenta (ruim) de RSS.
Pois bem, o Digg agora está programando uma volta em grande estilo, com seu fundador original, trazendo pra dentro inclusive um dos fundadores do Reddit e deixando muitas pessoas curiosas (eu inclusive). A fila, segundo seu próprio hotsite, já está em 30 milhões de interessados.
A plataforma, inclusive, anunciou recentemente que vai cobrar US$5 para que as pessoas possam reservar seu nome de usuário (além de ter acesso a mais detalhes do projeto).
Ainda não há uma data anunciada, mas a empresa diz que convites para os primeiros usuários vão começar a aparecer nas "próximas semanas". Se você tiver interesse, precisa se cadastrar nesta página reboot.digg.com.

Sangue novo
O setor econômico de redes sociais atualmente vive uma dualidade: ao mesmo tempo em que está saturado de opções (incluindo algumas das maiores empresas do mundo), há também uma carência de adequação para muitas pessoas que se sentem exaustas da mesma dinâmica impositiva dessas plataformas.
O breve histórico de exaustão com as grandes plataformas é conhecido:
- a extinção do Twitter e a ascensão do X como uma plataforma de pay-to-play que tolera extremismos;
- o fechamento das APIs do Reddit, que causaram grandes turbulências na rede em 2023, o que não impediu a rede de crescer nos últimos anos, mas certamente deu aquele ar de Big Tech arrogante pra ela;
- a concentração nas plataformas de Meta e no TikTok, gerando excesso de ruído publicitário, dependência demasiada em engajamento e concentração de poder na mão de algoritmos proprietários;
- a pressão de sucesso profissional do LinkedIn;
- a super dominância do YouTube no mercado de vídeos.
Embora seja difícil fugir dessas redes gigantescas, existe também todo um movimento (desorganizado e pequeno, mas crescente) que busca migrar para plataformas alternativas. Foi o que aconteceu com Bluesky (35 milhões de usuários) e Mastodon (9,5 milhões), e em certa medida também com o Threads, da Meta, embora sua integração com o Instagram tenha inflado muito o cadastro, com mais de 130 milhões de usuários.
Outras redes, como Nostr e Post.news não conseguiram ir pra frente, assim como sites criados para servir como plataformas panfletárias da extrema-direita, como Truth Social, Rumble e Gettr, que conseguiram algum sucesso em suas bolhas, mas nunca decolaram.
Não é à toa que o Digg esteja chegando com muito interesse, a fim de tentar preencher um espaço pequeno mas muito necessário.
A vontade de ser otimista é tentadora, mas como sabemos a promessa de uma nova rede social é sempre melhor do que a entrega de fato.
Veja os exemplos acima: Threads é um lugar meio morto, enquanto o Mastodon é péssimo pro usuário médio entender e utilizar.
Já o Bluesky, embora melhor, se tornou uma caixa de eco da esquerda a um ponto de se tornar enervante às vezes (embora muito mais aceitável do que o chorume da direita), além de ainda reter muito da toxicidade do Twitter, com insultos e grosserias.
Se algo é muito ruim, ninguém vai usar, mas se for muito bom não vai dar dinheiro – pelo menos não enquanto a métrica principal for monetizar engajamento. Eu, particularmente, estou conscientemente realista sobre o Digg, sem elevar muito minhas próprias expectativas, mas pelo menos é algo novo para ver se o sangue desse setor dá uma renovada.
Via The Verge [1] [2] e New York Times