Era só questão de tempo, mas aconteceu: o Google finalmente vai acrescentar recursos interativos de inteligência artificial direto em sua barra de buscas, transformando uma das ferramentas digitais mais bem-sucedidas do mundo em um chatbot de IA.
Ainda não é possível saber exatamente o impacto que isso vai ter no imensamente lucrativo mercado de buscas online. Também não dá pra saber o que vai acontecer com sites que dependem de referências vindas do Google, e tampouco o que isso significa para o cenário de desinformação, já agravado por alucinações de modelos IA e uso malicioso dessas ferramentas.
Mas uma coisa dá pra prever: essa provavelmente será a ferramenta de IA disponível para consumidores mais utilizada do mundo.
Para usar a IA do Google, usuários precisavam acessar um produto específico, tipo a interface do Gemini ou ao NotebookLM, ou utilizar via seus populares produtos, como Docs e Gmail.
Isso certamente ajudou a aumentar o uso de seus modelos, mas não num patamar que pudesse significativamente destacar o Google de seus principais concorrentes – especialmente levando em conta as constantes melhorias e atualizações do ChatGPT e outros produtos digitais, e que Meta está enfiando IA em todas as suas redes sociais como se não houvesse amanhã.
Além disso, busca com IA não é uma ideia inovadora. Bing (da Microsoft), Brave e DuckDuckGo, por exemplo, já possuem recursos similares (muito similares). ChatGPT, Claude e outros chatbots de IA já fazem busca na internet, ao passo que ferramentas tipo Perplexity nasceram para serem buscadores primeiro.
O Google também não saiu na frente na corrida de produtos de IA para consumidores. Embora tenha criado boa parte da tecnologia que permitiu a ascensão dos novos grandes modelos de linguagem, a empresa, de certa forma, estava sempre um passo atrás da OpenAI desde o lançamento comercial do ChatGPT no fim de 2022.
Mas agora absolutamente nada disso importa, porque o Google é o Google, que detém nada menos do que 90% do mercado de buscas na internet – o site mais visitado globalmente, superando 80 bilhões de acessos por mês.
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Esse é o impulsionamento que a empresa precisava para, pelo menos do ponto de vista de quantidade de uso de suas tecnologias de IA, alcançar um nível ainda não apurado por outros modelos de inteligência artificial.
Certamente isso virá com um custo pesado. Como já vimos com os AI Overviews, lançados no ano passado, esse tipo de recurso é muito passível de erros, e o Google sabe disso. Mas a empresa acha que não se pode dar ao luxo de esperar, especialmente quando seus rivais continuam lançando coisas e integrando produtos.
Embora sua dominância seja incontestada no mercado de buscas – a ponto de ser considerada monopólio construído e mantido por práticas abusivas – o Google, no começo de 2025, perdeu alguns pontinhos decimais em participação de mercado.
Parece pouco, mas são bilhões de dólares a menos, e, se a tendência continuar, a empresa vai ter que se explicar para seus famintos investidores – alguém se lembra quando um produto do Google cometeu um erro que gerou uma queda de US$100 bilhões no valor da empresa?
Perder dominância é algo muito caro para um monopólio.
Chegou o momento em que a maior empresa da internet, depois de anos pensando em como tirar vantagem do seu principal canhão digital na guerra de inteligência artificial, finalmente carregou a munição. E vai sobrar estilhaço para todo lado – seja concorrência, seja anunciantes, seja comércio eletrônico, seja jornalismo.