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Novo app propõe devassar a vida criminal do seu boy por menos de R$10

Aplicativo Plinq usa inteligência artificial para buscar processos judiciais e fazer uma classificação própria pra falar se seu crush é ok ou não

Novo app propõe devassar a vida criminal do seu boy por menos de R$10
Arte: Aleksandra Ramos
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Este texto foi atualizado com novas informações em 5.jun.2025

A proposta é simples: saber se aquele cara que você tem interesse é legal ou um chernoboy.

Um novo app na praça, chamado Plinq, criado pela empreendedora Sabrine Matos, propõe fazer uma análise de segurança sobre homens, a fim de ajudar mulheres a tomarem "decisões seguras e confiantes antes de qualquer date".

Segundo o próprio site, também serve para que esposas possam checar a idoneidade de seus maridos, ou que namoradas descubram algo obscuro que não saibam de seus namorados. Para isso, o aplicativo alega fazer uma busca em fontes públicas, incluindo tribunais e diários oficiais.

"Hoje são consultadas em torno de 45 bases de dados diferentes, que vão desde Diários Oficiais e de Justiça aos sistemas dos Tribunais de Justiça e CNJ", disse a Plinq ao Núcleo por email.

Os preços variam de R$9,90 para uma busca só, até R$147 por ano para pesquisas ilimitadas.

Esse tipo de aplicativo reflete uma demanda de mulheres que não se sentem seguras em encontros intermediados por aplicativos, ou cujas impressões podem ser ofuscadas pela proximidade com seus parceiros, seguindo, em parte, a linha do Lulu, rede social lançada em 2013 na qual apenas mulheres podiam participar a fim de avaliar homens. O serviço saiu do ar pouco tempo após o lançamento por decisão judicial.

A Plinq também oferece uma perspectiva diferente de outras plataformas que fazem buscas pessoais, mas não possuem foco específico em segurança das mulheres.

A ferramenta, então, utiliza o modelo de linguagem Claude, da Anthropic, para fazer uma "avaliação de risco" dos pretendentes. "O sistema é utilizado para ler as informações dos processos, categorizar e trazer um resumo das informações em uma linguagem acessível e sem muito juridiquês", informou a Plinq.

No entanto, a especificidade desse aplicativo também pode levantar questões relacionadas a privacidade de dados e doxxing – inclusive de mulheres, pois a plataforma permite a busca de perfis femininos, apesar de demonstrar ser focada em pesquisar sobre homens.

Em seu site, a Plinq diz operar em "total conformidade" com a legislação de dados brasileira, a LGPD, a partir da lógica do "legítimo interesse e prevenção".

"O discurso da Plinq é muito claro: a Plinq é uma ferramenta desenvolvida para dar a mulheres o poder da informação na hora de se relacionar", disse a empresa em email.

"A plataforma não incentiva nenhum tipo de doxxing ou bullying, e deixa claro nos termos de uso que “o uso das informações deve ser feito de forma cautelosa. Inclusive, consta nos termos de uso que se for identificado comportamento indevido ou abusivo, o usuário será banido da plataforma."

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Como surgiu a Plinq?*
A ideia da criação da Plinq surgiu no dia que a fundadora e CEO da plataforma, Sabrine Matos, viu na TV uma reportagem sobre o assassinato uma mulher pelo próprio namorado, que possuía antecedentes criminais sem a vítima saber.

Entre ideia e desenvolvimento da versão atual foram 2 meses.

* Essas informações foram fornecidas pela própria Plinq

O Núcleo testou

O Núcleo realizou dois testes com a ferramenta, gastando um total de quase R$20. Um deles foi uma busca por mim mesmo, Sérgio Spagnuolo (para não colocar os dados de outra pessoa). O outro teste foi pelo nome da ex-deputada federal Carla Zambelli – por ser uma pessoa pública que fugiu do país após ser condenada pelo STF por tentativa de invasão aos sistemas do CNJ.

A ferramenta, aparentemente, faz uma varredura em processos judiciais criminais e retorna CPF (com números do meio tachados), nome da mãe, idade, signo e signo chinês.

Além disso, ela faz uma avaliação própria sobre se a pessoa é Green Flag (aparentemente segura para relacionamentos) ou Red Flag (desaconselhável).

Por conta de suas condenações judiciais, a ex-deputada Zambelli foi considerada Red Flag. O documento cita três processos criminais nos quais ela está envolvida, todos em segredo de justiça.

Já eu ganhei a notória distinção de Green Flag, por não ter nenhum processo nas costas.


⚠️ Texto atualizado às 23h25 de 5.jun.2025 para incluir posicionamento da empresa enviado por email

Conheça quem liderou essa pauta

Sérgio Spagnuolo

Sérgio Spagnuolo

Jornalista e diretor do Núcleo. Em 2014, criou a agência de newstech Volt Data Lab. Foi Knight Fellow no ICFJ e diretor na Abraji, além de ter colaborado com vários veículos nacionais e internacionais

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