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Os rótulos que o Twitter aplica para veículos de imprensa estatal estão causando confusão nas redes brasileiras. Na semana passada, os tuítes da Sputnik Brasil, a edição brasileira da agência de notícias russa Sputnik, passaram a ser exibidos com um rótulo que alerta que o "tweet está vinculado ao website de uma mídia estatal russa".
Qualquer pessoa que compartilhe um link da Sputnik Brasil terá essa marcação em seu tuíte, inclusive os próprios repórteres da agência. Ao clicar no banner de aviso, o usuário é redirecionado para uma página do Twitter que explica a política sobre contas governamentais e de veículos afiliados ao Estado.
É ✷ importante ✷ porque...
Tema tem agitado o debate sobre liberdade de imprensa acerca da guerra da Ucrânia
Redes sociais ainda patinam em seus rótulos e classificações
Muitos usuários passaram a criticar a decisão do Twitter de rotular as publicações da Sputnik Brasil, citando que há uma incoerência, já que os tuítes da BBC inglesa, por exemplo, não possuem o mesmo rótulo. Houve até quem mencionasse que o jornal espanhol El País também não recebe tais rótulos, embora o El País sequer seja estatal.
O que o Twitter diz em sua política:
- Mídia afiliada ao Estado é definida como veículos em que o Estado exerce controle sobre o conteúdo editorial por meio de recursos financeiros, pressões políticas diretas ou indiretas e/ou controle sobre a produção e distribuição. Contas pertencentes a entidades de mídia afiliada ao Estado, seus editores-chefe, e/ou de funcionários sênior podem ser rotuladas. (Reprodução na íntegra)
- Organizações de mídia financiadas pelo Estado, como a BBC no Reino Unido e a NPR nos Estados Unidos, por exemplo, não são definidas como mídia afiliada ao Estado pelos propósitos desta política. (Reprodução na íntegra)
Um dos efeitos práticos desse rótulo é a diminuição de alcance, como o Twitter explica nas regras.
"Em caso de entidades de mídia afiliadas ao Estado, o Twitter não irá recomendar ou amplificar contas ou tuítes com esses rótulos às pessoas", diz a empresa.
Segundo a rede social, hoje há rótulos aplicados sobre contas de mídia afiliada ao Estado, contas de jornalistas vinculados a esses veículos e contas governamentais dos seguintes países:
- China, França, Rússia, Reino Unido, Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Itália, Japão, Cuba, Equador, Egito, Honduras, Indonésia, Irã, Arábia Saudita, Sérvia, Espanha, Tailândia, Turquia e Emirados Árabes Unidos.
A agência chinesa Xinhua também tem esse rótulo.
O que não fica claro, no entanto, são os critérios pelos quais o Twitter define e estabelece os veículos que estão sob alguma forma de controle editorial.
Em post no blog do Twitter, a empresa diz: "Nosso foco está em autoridades graduadas e entidades que são a voz de uma nação internacionalmente".
O Núcleo confirmou que um repórter da Sputnik Brasil teve o rótulo aplicado a seu perfil, embora ele não seja "autoridade graduada" nem representante da empresa no Brasil.
Em resposta a questionamentos do Núcleo, o Twitter informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que "embora a nossa política de mídia governamental e afiliada ao Estado, em vigor desde agosto de 2020, não inclua meios de comunicação afiliados ao Estado ou ao governo brasileiros neste momento, veículos afiliados a Estados ou governos de países incluídos na política estão sujeitos a receber o rótulo independentemente do território em que atuam".
O Instagram também está aplicando rótulos ao conteúdo da Sputnik. Já o Facebook não parece ter implementado essa marcação no Brasil. Ao se clicar no ícone de "mais informações", é possível ver mais detalhes sobre a agência.
Contexto sobre agência de notícias russa
Na semana passada, a União Europeia sancionou a Sputnik News e a rede RT (antiga Russia Today), também afiliada ao Estado, tirando do ar o site e as transmissões dos dois veículos em países do bloco. O objetivo da medida é combater a desinformação russa em meio à invasão na Ucrânia, conforme reportado pelo Politico.
Em resposta à decisão da UE, o International Press Institute emitiu nota dizendo que a decisão de "banir qualquer qualquer veículo de imprensa é uma decisão séria e deve estar sempre sujeita a um alto grau de escrutínio" e que essa decisão deve ser tomada por reguladores independentes.
O IPI diz temer ainda uma medida recíproca por parte do governo russo que, ao bloquear os poucos veículos da imprensa internacional que ainda estão operando em solo russo, privaria cidadãos russos de "fontes vitais de notícias baseadas em fatos em um momento crucial".
A independência editorial de mídias afiliadas ao governo russo já foi posta em xeque diversas vezes nos últimos anos.
Em 2014, quando a Sputnik News surgiu no lugar da extinta agência de notícias russa RIA Novosti, o Foreign Policy, respeitado site que cobre política internacional, chamou a nova Sputnik de "Buzzfeed da Propaganda".
Em um relato para a Politico Magazine em 2017, o jornalista Andrew Feinberg, atualmente correspondente do jornal inglês Independent em Washington D.C., conta sobre o seu curto período como repórter da Sputnik na capital dos EUA, chamando a publicação de "rede de propaganda" russa.
Texto Laís Martins
Edição Sérgio Spagnuolo
Texto atualizado às 11h32 de 16.mar.2022 para incluir mais detalhes.
Texto atualizado às 15h de 16.mar.2022 para incluir posicionamento do Twitter