Perfis de língua inglesa têm inundado hashtags e termos populares do X/Twitter com imagens de exploração sexual infantil. O Núcleo identificou onze contas tuitando conteúdos do tipo na noite desta quinta (26.out) em uma hashtag sobre videogames.
Nesta sexta, dois dos perfis seguem no ar. As imagens incluem nudez infantil e adolescente, nudez adulta na presença de menores e cenas de crianças e adolescentes praticando atos sexuais.
PIOR COM MUSK. Quando o bilionário Elon Musk comprou o Twitter em outubro do último ano, a rede social já era a líder em denúncias por conteúdos de exploração sexual de crianças e adolescentes na internet desde 2020, segundo indicadores da ONG SaferNet Brasil.
Mas a gestão negligente do magnata piorou esse cenário que já ia mal ao fragilizar a moderação da rede social. De acordo com o advogado Thiago Tavares, diretor-presidente da SaferNet:
O índice de remoção desses conteúdos caiu muito depois que o Musk assumiu. É uma empresa que tinha 8 mil funcionários e hoje tem 1500, e a maior parte das demissões aconteceu justamente nas equipes que cuidavam da segurança e integridade da plataforma. Vemos essa piora não só nos números, mas nos conteúdos que não saem mais do ar. Eles ficam lá.
Em tese, a política de uso do X/Twitter proíbe:
- representações visuais de um menor em atos sexualmente explícitos ou sexualmente sugestivos;
- representações ilustradas, geradas por computador ou outras formas de representações realistas de um menor em um contexto sexualmente explícito ou em atos sexualmente explícitos;
- comentários sexualizados sobre um menor conhecido ou desconhecido ou direcionados a ele;
- links para sites de terceiros que hospedam material de exploração sexual de menores.
VIROU TREND. Os perfis localizados pelo Núcleo mesclam hashtags em inglês usadas para divulgar pornografia adulta com termos populares, como assuntos do momento, nomes de artistas e clubes de futebol. O objetivo é atrair usuários para canais no Telegram, sites de apostas ou páginas de golpes.
O "sequestro de hashtags" para promover conteúdos diversos surfando no que está popular é comum nas redes, segundo Tavares.
No entanto, a união dessa prática irregular com imagens de exploração sexual infantil é um indício preocupante da degradação da moderação na plataforma, diz o advogado:
Os classificadores que o Twitter usa são desenvolvidos para funcionar em inglês, o que gera um problema para os mercados de língua não inglesa. Se (o conteúdo abusivo) estivesse em português, eu não me surpreenderia, mas se está em inglês, o problema é pior ainda porque nem na língua deles eles detectaram. Isso demonstra uma redução da capacidade da empresa de combater esse tipo de conteúdo.