Primeiramente: você sabe o que é a PEC da Transição? Vamos à definição do jornal O Globo:
"Aumento real do salário mínimo, Bolsa Família de R$ 600 com adicional de R$ 150 por criança de até 6 anos, investimentos nas áreas da saúde, educação e habitação. Essas foram algumas das promessas de campanha do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para as quais não havia recursos suficientes previstos no Orçamento de 2023 proposto pelo atual governo de Jair Bolsonaro (PL).
O futuro governo alegou que, para honrar as promessas era preciso uma licença para gastar acima do atual teto de gastos, que limita o aumento das despesas da União à inflação do ano anterior. A solução encontrada para tal foi uma proposta de emenda à Constituição (PEC). O texto-base da chamada 'PEC da Transição' foi aprovado, em primeiro turno, na noite de hoje [20.out]."
Já a Folha optou por chamá-la de "PEC da Gastança" (sem aspas) — mesmo em textos noticiosos, não opinativos.
PEC da Gastança patina na Câmara em meio a cabo de guerra por ministérios e julgamento no STF https://t.co/pLWSFpSSRw
— Folha de S.Paulo (@folha) December 15, 2022
Simpatizantes do governo eleito não gostaram.
Quando o Bolsonaro gastava 400 bilhões pra tentar COMPRAR VOTOS com medidas que acabavam depois da eleição, a Folha chamava de "pacote de bondades".
— Thiago dos Reis 🇧🇷 (@ThiagoResiste) December 21, 2022
Agora que Lula conseguiu manter o Bolsa Família em 600 a Folha chama de PEC D AS GASTANÇA.
LIXO DE JORNAL. LIXO!!
Bolsonaro furou o teto de gastos para tentar reeleição e a Folha chamou de “pacote de bondades”. Agora está chamando a PEC da Transição, que garante o Bolsa Família e o reajuste do salário mínimo no próximo governo de “PEC da gastança”. Da pra acreditar? https://t.co/RzAK8vafa5
— Luana Alves (@luanapsol) December 16, 2022
Essa história de PEC da Gastança reflete bem o quão tosco é o debate econômico no jornalismo brasileiro. Nenhuma saudade do tempo em que eu tentei, em vão, dar o mínimo de racionalidade ao debate sobre o teto de gastos nas páginas da Folha em 2016
— Laura Carvalho (@lauraabcarvalho) December 21, 2022
A imprensa golpista chama a PEC da transição de PEC da Gastança. Comida para gente que não tem o que comer é direito humano fundamental, mas os neoliberais e sua corja são a favor da fome e a miséria do povo brasileiro.
— Marcia Tiburi (@marciatiburi) December 21, 2022
E apontaram que outros veículos têm adotado o nome mais neutro.
Estadão: PEC da Transição
— Camilo Rocha (@camilorocha) December 21, 2022
O Globo: PEC da Transição
Veja: PEC da Transição
Correio Braziliense: PEC da Transição
Estado de Minas: PEC da Transição
Folha de S. Paulo: PEC da Gastança (sem aspas)
Até a Choquei entrou na briga.
A PEC visa garantir o Bolsa Família em R$ 600 reais, recursos pro Vale Gás e a recomposição da Farmácia Popular.
— CHOQUEI (@choquei) December 21, 2022
O termo “gastar” não deveria nem se quer ser usado nessa matéria. Isso se chama investimento. Ajudar o povo pobre. Mas vocês só estão preocupados com a Faria Lima.
Além da Folha, bolsonaristas como Ricardo Salles e Bia Kicis também preferem o termo "PEC da Gastança".
Vamos analisar com lupa a lista dos nomes que votaram a favor dessa absurda PEC da Gastança…
— Ricardo Salles (@rsallesmma) December 21, 2022
Acabo de votar CONTRA a PEC 32/22 ( anexa à PEC 24/19) - PEC da gastança, do rombo, do fura teto. pic.twitter.com/5B5u0OWRvJ
— Bia Kicis (@Biakicis) December 21, 2022
Já Reinaldo Azevedo, colunista do jornal, propõe um terceiro nome: "PEC da Responsabilidade Orçamentária". Lembrando que estamos falando da pessoa que inventou o termo "petralha"!
#OPINIÃO
— Folha de S.Paulo (@folha) December 16, 2022
📝Reinaldo Azevedo | Chamava a 'PEC da gastança' de 'PEC da Responsabilidade Orçamentária'. Com a fascistada à solta, torço para que sensitivos do desastre estejam errados. (@reinaldoazevedo) https://t.co/eYDEgoYLh0
O atual ombudsman da Folha, José Henrique Mariante, tratou do assunto em sua coluna mais recente.
(Na imprensa, o ombudsman é "o representante dos leitores dentro de um jornal".)
#OPINIÃO
— Folha de S.Paulo (@folha) December 18, 2022
📝José Henrique Mariante │ Folha, Janio e a gastança. Jornal dispensa seu colunista e repórter sênior em atitude que choca leitores. (@folha_ombudsman) https://t.co/6O1Di9aXYa
Mariante primeiro traz a explicação da Secretaria de Redação da Folha pela escolha do termo "PEC da Gastança":
"Segundo a Secretaria de Redação, 'PEC da Gastança' é um 'termo que reflete melhor o propósito da emenda, dado que ela ampliará o gasto federal no novo governo', comparável à 'PEC Kamikaze' do atual. Reflete igualmente evidente sensacionalismo, afiançado apenas por bolsonaristas e pela parte hidrofóbica do mercado. Critério bem diferente do adotado na cobertura das 'emendas de relator', já que 'orçamento secreto', de acordo com o jornal, é impreciso."
E conclui:
"Pesos e medidas desiguais, estranhos aos leitores que se acostumaram a uma Folha coerente com seu papel nos tempos em que essa atitude era absolutamente necessária, como se dela dependesse sua sobrevivência."
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