Marmitagate: de violência sexual às suspeitas de fraude

Um projeto de distribuição de refeições ganhou visibilidade nas redes após uma das coordenadoras relatar estupro. Agora a iniciativa é alvo de desconfiança

OK, vamos com calma: a história é longa, delicada e ainda inconclusiva. Mas resumindo bastante: estão levantando suspeitas sobre um projeto social de distribuição de refeições para pessoas em situação de vulnerabilidade em Blumenau (SC). O caso foi apelidado de Marmitagate.

Em 12 de setembro, viralizou no Twitter um relato assustador de estupro da Taynara Motta, que se apresenta como uma das coordenadoras da iniciativa Alimentando Necessidades ao lado da amiga Duda (Eduarda) Poleza.

Para ler o relato completo, clique em "Leia a conversa completa no Twitter".

Além de gerar comoção e solidariedade com a vítima, o caso deu visibilidade ao projeto social, que começou a receber mais doações.

Em 18 de setembro, um usuário anônimo que se identifica como Grupo OSINT (open source intelligence, ou inteligência em código aberto) de pesquisa publicou uma espécie de dossiê no GitHub, uma plataforma bastante usada por engenheiros de software.

Reprodução / GitHub

Eis um resumo dos principais pontos levantados no texto:

  • O perfil pessoal da Taynara foi criado em outubro de 2021, aparentemente apenas para divulgar as iniciativas do Alimentando Necessidades.
  • A única pessoa que aparece nos vídeos e nas fotos do projeto é Duda Poleza, e a conta do Alimentando Necessidades no Instagram não segue nenhuma usuária chamada Taynara Motta.
  • A partir de uma base de dados do estado de Santa Catarina, o autor do dossiê só encontrou uma pessoa em Blumenau com o nome parecido — Tainara Mota, com "i" no primeiro nome e só um "t" no sobrenome. Contatada pelo investigador amador, ela disse não fazer parte do projeto.
  • A foto que a Taynara Motta usava nas redes sociais parece ter sido tirada do Pinterest, do perfil de uma pessoa chamada Larissa.
  • A chave Pix do projeto Alimentando Necessidades é de uma conta bancária da Duda Poleza, e o Pix de um projeto anterior da dupla, Absorvendo Necessidades, de combate à pobreza menstrual, é da Graziela Poleza, mãe da Duda.
  • O autor conclui, então, que a Taynara Motta não deve existir.

Usuários do Twitter prosseguiram com as investigações em threads como esta:

Para ler o relato completo, clique em "Leia a conversa completa no Twitter".

Em resposta aos questionamentos, a Taynara postou um vídeo se apresentando brevemente. Mas a gravação levantou ainda mais suspeitas: feita na penumbra e com um filtro pesado, foi rapidamente deletada. A suspeita é que se trata da própria Duda tentando se fazer passar pela amiga.

Antes do início das suspeitas, a Duda também postou um print de uma conversa em que um suposto doador a assedia. A foto não solicitada, porém, parece ter sido tirada do Twitter.

O jornal O Município, de Blumenau, tentou falar com a Duda, mas não conseguiu. Entrevistou seu padrasto, que se identifica como Mika. Ele defendeu a enteada e disse já ter ajudado-a brevemente no projeto, mas não repassou o número de telefone dela à reportagem:

"Ele ainda confirmou que moram em Blumenau, mas explicou que Duda estava viajando para 'São Paulo ou Rio de Janeiro' e que tinha mudado de número de telefone, por isso, não saberia repassar."

No Twitter, o Alimentando Necessidades passou a tarde desta segunda-feira (26) compartilhando prints de comprovantes de compras em supermercados, que também foram rapidamente deletados.

Pessoas que haviam contribuído com a iniciativa começaram a pedir o dinheiro de volta.

O Alimentando Necessidades prometeu fazer uma live nesta segunda-feira (26), às 21h. Vamos acompanhar.

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