Esta quarta-feira (20) foi o dia mais conturbado da história do podcast A Mulher da Casa Abandonada. Foi quando saiu o sétimo episódio, uma entrevista com a protagonista, Margarida Bonetti, que manteve uma mulher negra escravizada por duas décadas nos EUA.
Margarida Bonetti fala. É a primeira entrevista da mulher que, depois de ser acusada de explorar & agredir uma empregada nos EUA, fugiu & se refugiou numa casa abandonada em Higienópolis por 20 anos. Ouça o episódio 7 aqui: https://t.co/DCalUdpi9y
— Chico Felitti (@chicofelitti) July 20, 2022
À tarde, a Polícia Civil de São Paulo cumpriu um mandado de busca e apreensão na casa. A operação, que virou um caos, foi transmitida ao vivo pela TV e pelas redes sociais. Estes foram alguns dos destaques da ação:
- Luisa Mell, ativista dos direitos animais, foi ao local para resgatar um cachorro de Margarida, transmitindo tudo ao vivo pelo Instagram. Ela virou piada no Twitter por ter aparentemente confundido uma denúncia de "gato", no sentido de instalação clandestina, com maus tratos a um felino.
- Curiosos acompanharam a operação do lado de fora da casa gritando palavras de ordem.
- O jornalista Chico Felitti, apresentador do podcast, compareceu ao local para acompanhar a entrada da polícia e gravar um episódio extra sobre "o circo que se formou".
- O apresentador José Luiz Datena foi criticado por fazer uma cobertura sensacionalista e mal informada sobre a operação.
🏚 Polícia entra em imóvel do podcast A Mulher da Casa Abandonada e encontra Margarida Bonetti. Ação faz parte de inquérito sobre abandono de incapaz; de acordo com agentes, mulher se recusou a permitir a entrada. https://t.co/XMvvn2bZrx 📹 Gustavo Fioratti pic.twitter.com/pMVrSfPVLh
— Folha de S.Paulo (@folha) July 20, 2022
Ao longo do dia, pessoas negras discutiram questões relacionadas ao racismo motivadas pelo novo episódio do podcast e pela operação policial:
Bárbara Borges e Francinai Gomes: "A espetacularização do racismo é uma herança colonial"
Winnie Bueno: "Entrevista permite ao branco repouso moral"
a cereja do bolo de #AmulherdacasaAbandonada é a entrevista com a racista que permite que todos os brancos que vorazmente consumiram esse conteúdo coloquem a mulher como uma desviante da moral branca, como se o que ela fez fosse excepcional. Permite ao branco repouso moral :)
— Winnie Bueno (@winniebueno) July 20, 2022
Simone Bispo: "O tratamento para pessoas brancas é diferenciado"
Datena no Brasil Urgente chamando Margarida Bonetti de vítima e falando que ela é conturbada e precisa ser examinada só reforça o pacto da branquitude e como o tratamento para pessoas brancas é diferenciado.
— Simone Bispo (@SimoneBispo) July 20, 2022
Levi Kaique Ferreira: "Datena está com pena da mulher branca que escravizou uma empregada negra"
Sabe o curioso?
— Levi Kaique Ferreira (@LeviKaique) July 20, 2022
O Datena é conhecido por um discurso mega punitivista, bandido bom é bandido morto… Mas com a mulher branca que escravizou uma empregada negra ele tá lá com pena na TV…
Gabi Oliveira: "O foco é a espetacularização"
“ah, mas tava na cara”
— Gabi Oliveira (@depretas) July 20, 2022
olha, pra mim não estava. inclusive por conta do episódio “outras mulheres”, que tirou o foco da história principal e focou na realidade de que ainda temos outras muitas outras vítimas por aí.
Chico Felitti respondeu que estava "só trabalhando".
Eu estava lá gravando para um episódio extra que sai na semana que vem & que traz informações inéditas sobre o caso. Tava só trabalhando
— Chico Felitti (@chicofelitti) July 20, 2022
Artur Santoro: "Estranho publicidade de filme de terror"
eu acho mto estranho publicidade de filme de terror em um podcast de jornalismo investigativo sobre um crime de trabalho análogo à escravidão
— artur santoro (@artursantoro_) July 20, 2022
Déia Freitas: "Rico é rico até quando é criminoso e mau caráter"
já pensou se toda idosa morando em casa velha e sem esgoto tivesse esse amparo da polícia/bombeiro/prefeitura, hein? rico é rico até quando é criminoso e mau caráter..........
— Déia Freitas (@NaoInviabilize) July 20, 2022
Erika Hilton: "O combate ao trabalho análogo à escravidão é urgente"
A investigação e o combate ao trabalho análogo a escravidão é urgente e é papel dos órgãos competentes como também dá imprensa responsável e séria.
— ERIKA HILTON 🏳️⚧️ ☀️ 🚩 (@ErikakHilton) July 20, 2022
Espero que pra além do furor que o podcast "A Mulher da Casa Abandonada" do @chicofelitti causou, nós, (+) 👇🏾
Você pode acessar o site https://t.co/3ImyT2DK30 e preencher o formulário do local que você acredita que uma pessoa esteja sendo vítima deste crime. É possível denunciar via o Disque 100 ou em uma unidade do Ministério Público do Trabalho.
— ERIKA HILTON 🏳️⚧️ ☀️ 🚩 (@ErikakHilton) July 20, 2022
Thiago: "até que tava embarcando na história até o ep em que o jornalista descreve com detalhes a tortura"
eu ouvi o podcast e até que tava embarcando na historia até o ep em que o jornalista descreve com detalhes a tortura, a violencia, os hematomas e o tamanho do tumor da mulher escravizada ao mesmo tempo em que dá um tapinha nas proprias costas por não ter revelado o nome dela
— thiago (@orathiago) July 20, 2022
Nina da Hora: "Ninguém fala dos danos e gatilhos psicológicos"
Ninguém fala dos danos e gatilhos psicológicos que o podcast da casa mal assombrada tem provocado nas pessoas pretas né ? Pois é mais fácil preto ser entretenimento pra vocês disfarçado de jornalismo investigativo. A ampla divulgação e ter esse podcast disponível é um absurdo.
— Nina da Hora•HackerAntirracist (@ninadhora) July 21, 2022
Thiago Amparo: "É tudo muito nosso país"
É tudo muito nosso país, né? A escravidão que persiste, a mansão decadente, o sensacionalismo, a legião de curiosos que consomem violência como diversão, a truculência e oportunismo da polícia entrando na casa no dia do episódio final do podcast. Tudo é muito a gente.
— Thiago Amparo (@thiamparo) July 21, 2022
Lola Ferreira: "Vir em podcast influenciou muito na forma torta que as pessoas o consumiram"
Penso que o material de A Mulher da Casa Abandonada vir em podcast influenciou muito na forma torta que as pessoas o consumiram. Acho, e só acho, que se fosse um livro-reportagem, uma capa da piauí, uma matéria de TAB/UOL ou uma dominical da Folha não teria acontecido tudo isso.
— Lola Ferreira (@lolaferreira) July 20, 2022