Foi lançado oficialmente em 24.mar.2025 o Fundo de Apoio ao Jornalismo (FAJ), a primeira iniciativa brasileira para financiar jornalismo puramente local no Brasil e tentar irrigar, mesmo que pontualmente num primeiro momento, os chamados desertos de notícias do país.
Serão selecionadas até 15 organizações, que receberão entre R$75 mil e R$150 mil por ano durante três anos. Quem empreende nesse setor sabe que, embora não seja uma grana absurdamente volumosa, esse tipo de recurso tem a capacidade de transformar totalmente organizações pequenas.
O próprio Núcleo começou com um grant único de cerca de R$100 mil, lá em 2020, fornecido por um programa do Google para startups de jornalismo (fico imaginando às vezes, caso soubessem que nossa cobertura seria tão crítica, se teriam nos selecionado).
No Brasil, cerca de metade dos municípios são chamados de desertos de notícia, segundo o último levantamento do Atlas da Notícia, de 2023 – o que significa mais de 26 milhões de pessoas que moram em locais sem nenhum veículo de notícia mapeado. [Disclaimer: eu sou um dos fundadores e atual coordenador de dados do Atlas]
O problema se agrava quando falamos de "quase desertos", municípios com 1 ou 2 veículos que correm o risco de virar desertos. No total, mais de 60 milhões de pessoas, ou cerca de 30% da população, vivem em desertos ou quase desertos, com recursos jornalísticos limitadíssimos para cobrir a vida cívica local e trazer à tona problemas puramente municipais.
É muito importante que os grants do FAJ sejam inteiramente orientados a hidratar esses locais, deslocando um pouco a concentração de financiamento filantrópico de jornalismo das organizações nacionais e veículos do eixo Rio-São Paulo-Brasília (que incluem o Núcleo).
Segundo o excelente relatório publicado pelo fundo:
No Brasil, nos últimos dois anos, as dez principais fundações que investiram no jornalismo direcionaram mais de US$16 milhões para 81 organizações [...] Destas, apenas nove organizações receberam metade do investimento total, enquanto 72 organizações compartilharam a outra metade.
Não quer dizer que veículos nacionais e dos maiores centros não irão mais receber nenhum financiamento – ainda há outros caminhos, como negociações diretas e outros editais. Mas a missão declarada do fundo é financiar outros tipos de organizações, e isso é muito refrescante e necessário.
O FAJ tem financiamento da Ford Foundation, do IFPIM, da OAK, da Open Society Foundations e da Luminate. [Disclaimer: a Luminate é apoiadora institucional do Núcleo]