Um ano após o Breque dos Apps houve uma semana de intensa mobilização de entregadores e motoboys em todo o Brasil. Em São Paulo, no dia 2 de julho, e em Goiânia (GO), Curitiba (PR) e Campo Grande (MS), no dia 4 de julho, foram articuladas manifestações e paralisações de entregadores de aplicativo de caráter apartidário, por fora do aparelho sindical e com articulação entre vários estados.
Movimentações e conversas nos grupos de WhatsApp da categoria, com apoio de outras redes, indicam um próximo Breque Nacional para 11 de setembro.
É importante porque...
- Motoboys e entregadores são uma categoria importante e disputada no cenário político nacional
- Articulação nacional deles pode dar dor de cabeça a aplicativos e ter consequências políticas
Em um domingo, 27 de junho de 2021, o motoboy Vinícius de Oliveira, 21 anos, foi atingido por uma BMW desgovernada na Zona Sul de São Paulo e faleceu após o choque. O veículo arrastou pelo menos dez motos e hospitalizou outro motoboy que estava estacionado junto a colegas em frente a uma empresa de delivery. De acordo com dois motoboys presentes no momento, o marido da motorista tentou pagar R$2 mil reais a alguns dos presentes para que não fosse registrado boletim de ocorrência. O pagamento foi recusado.
A motorista da BMW, a dentista Danielle Diniz, foi liberada após pagamento de fiança de R$22 mil reais. A liberação da motorista indignou os colegas de trabalho de Vinícius de Oliveira, que se articularam pela internet para organizar uma mobilização. A intenção era chamar atenção para o caso e exigir justiça para os familiares e amigos do falecido e do hospitalizado.
Foram criados dois grupos de mensagens pelo WhatsApp de motoboys por iniciativa de colegas de trabalho de Vinícius que estavam presentes no momento do acidente. Esse grupo foi o núcleo a partir do qual se reuniram os motoboys que aderiram à causa do protesto. Dentro dele, os trabalhadores decidiram que o melhor era fazer um protesto com as motos em frente ao prédio de Danielle.
Um deles é Francisco Bruno, o FB Revolução, 27 anos. FB é dono de um canal pequeno de YouTube, com pouco mais de mil inscritos, mas com influência na categoria. No dia 2 de julho, sexta-feira, cerca de 250 motoboys se reuniram no local do acidente.
“Fizemos uma oração no local onde ele faleceu e onde tinha sangue. E a árvore estava lá. Colocamos flores no local. Nos organizamos e fomos direto para a frente do condomínio da dentista”, disse FB. Em frente ao condomínio, com a presença da polícia, os motoboys fizeram uma oração e gritaram por justiça. Os moradores saíram de seus apartamentos para filmar o acontecimento.
BREQUINHOS E BOLSÕES DE ESPERA
O protesto em SP sobre o caso de Vinícius mobilizou motoboys de outros Estados. No Rio de Janeiro, o canal de Ralf Mt, que tem 16 mil inscritos, fez uma live para acompanhar a manifestação. Ralf disse que, desde o Breque dos Apps do ano passado, está mais conectado com acontecimentos de outras cidades.
Entregadores de Goiânia que se organizavam para um ato no dia 4 de julho também declararam seu apoio ao movimento em memória de Vinícius de Oliveira em um vídeo que circulou nos grupos de WhatsApp dos motoboys envolvidos na mobilização. O MEU (Movimento Entregadores Unidos), da Paraíba, de caráter apartidário e não sindical, também se mobilizou em solidariedade aos que se movimentaram por Vinícius. Essa conexão fortaleceu a articulação interestadual entre motoboys e pode ser importante para a organização do novo Breque Nacional, planejado para setembro.
Os motoboys, claro, usam muito WhatsApp como ferramenta de trabalho, mas também como forma de se orientar e sobreviver no espaço urbano.
Com frequência os grupos de zap se formam a partir dos bolsões de espera de motoboys, que surgem em frente à mercados e restaurantes movimentados. É comum que cada bolsão tenha seu próprio grupo para orientações comuns sobre segurança, trânsito e ajuda mútua. Esses grupos também servem para mobilizações políticas como serviram no dia 4 de julho.
Foram recebidos salves de apoio de São Paulo, Campo Grande e Curitiba.
Entregadores da iFood também organizaram uma paralisação em Campo Grande (bairro da zona oeste do Rio de Janeiro) desde domingo. Essa mobilização foi vista como um passo em relação à mobilização nacional de 11 de setembro.
Apesar da heterogeneidade das reivindicações locais, existe uma clara articulação e coordenação entre as mobilizações que acontecem nas capitais e um direcionamento para que haja uma nova mobilização nacional no dia 11 de setembro. Essa já conta com a adesão de Goiânia, Curitiba, Campo Grande e São Paulo e Paraíba.
De acordo com Ralf Mt, as principais reivindicações nacionais no ano passado eram: melhores taxas, seguro acidente e fim dos bloqueios sem defesa. Hoje são, além das do ano passado: código de verificação do pedido e fim da entrega com ida e hora marcada.
COMO FIZEMOS ISSO
O repórter acompanhou grupos de motoboys no WhatsApp, grupos no Facebook e perfis do Instagram e fez pesquisas por palavras como “greve”, “mobilização” e “breque” ou eventos chave como “comboio do Vini”. A partir dessa pesquisa conseguiu entrar em grupos de mensagem e conversar com as pessoas que estavam fazendo a mobilização.