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A proporção de vereadores mais jovens caiu pela segunda eleição consecutiva em 2020, totalizando 7,2% dos eleitos, indicando uma resistência à renovação nos quadros dos partidos -- ao menos no nível municipal -- mesmo em meio a movimentos de mudanças na política nacional nos últimos anos que mudaram nomes de partidos, criaram novas siglas e lançaram novos candidatos.
Em 2016, o percentual de vereadores eleitos com menos de 30 anos no momento da eleição foi de 7,9% -- quatro anos antes, em 2012, essa proporção era de 8,7%. Além disso, uma análise preliminar do Núcleo com dados da eleição 2008 indica que o percentual era ainda maior nesse ano.
É importante porque...
- Indica dificuldade na renovação dos quadros partidários em nível municipal
- A consolidação dessas instituições ao longo do tempo tende a reforçar o poder de políticos que ocupam cargos na burocracia partidária
Nas eleições municipais, as eleições de vereador são um evento importante para observar tendências de renovação nos partidos. Isso se deve a dois fatores:
- o grande número de cadeiras de vereador em disputa (mais de 58 mil em todo o país) que pode facilitar a entrada de estreantes;
- o mais baixo limite de idade entre todos os mandatos eletivos do país, a idade mínima de 18 anos na data da posse.
NOS PARTIDOS
Novo, PSOL e Rede foram os partidos que elegeram os maiores percentuais de vereadores jovens dentre os seus candidatos (18-29 anos):
- 17,4% dos vereadores do Novo (4 eleitos nessa faixa);
- 15,2% do PSOL (12 eleitos);
- 14,6% da Rede (20 eleitos).
Na sequência vem o PSL (9,8%), ao passo que a média dos demais partidos é de 7,4% vereadores nessa faixa etária.
Em comum, Novo, Rede e PSOL são partidos mais jovens e/ou com baixa presença institucional. No total, o Novo elegeu 23 vereadores, o PSOL 79 e a Rede 137 - que correspondem a 0,04%, 0,14% e 0,24% do total de 56.710 cadeiras atualmente confirmadas pela Justiça Eleitoral (confira a seção de metodologia para verificar como calculamos o número de eleitos).
Em estudos clássicos, a ciência política já diagnosticou a dificuldade de partidos políticos renovarem seus quadros.
A consolidação dessas instituições ao longo do tempo tende a reforçar o poder de políticos que ocupam cargos na burocracia partidária.
Este fenômeno se agravou nas últimas décadas com uma combinação de dois fatores: a queda do número de filiados a partidos políticos em democracias consolidadas e a construção dos chamados partidos-carteis, que são aqueles que dependem mais de recursos (especialmente financeiros) do Estado para a sua manutenção.
Novo e PSOL são ainda dois partidos mais conectados com grandes cidades. Do total de votos nominais para vereadores nesses partidos, 94,4% e 85,4%, respectivamente, foram em municípios com mais de 200.000 eleitores (a Rede obteve 54,9% nessas cidades). Essas cidades correspondem a 38% do eleitorado nacional.
Um levantamento do site Pindograma indicou que o percentual de jovens entre o total de filiados a partidos políticos no Brasil diminuiu na última década. Este fenômeno, porém, não é generalizado. Enquanto PT, PDT, PSDB, PSB, MDB e DEM observaram uma diminuição no número absoluto de filiados jovens, Novo, Rede, PSL, PSOL e Patriota registraram crescimento.
Quanto ao gênero e raça desses jovens vereadores, o PSOL se destaca pela diversidade: dos 12 eleitos, 8 são mulheres, sendo que 6 autodeclaradas pretas. O Novo, por sua vez, elegeu três homens autodeclarados brancos e uma mulher branca. Desses vereadores da Rede, somente três são mulheres (15%).
PARTIDO DOS TRABALHADORES
Após protagonizar todas as eleições presidenciais pós-redemocratização, o Partido dos Trabalhadores (PT) sofreu uma forte derrota nas eleições municipais de 2016. Em 2020, as eleições apresentaram sinais mistos para o PT.
Por um lado, perdeu cadeiras nos dois Poderes, obteve uma taxa de sucesso de 15% das prefeituras disputadas (a menor entre partidos que elegeram mais que 100 prefeitos) e se manteve em patamares próximos aos de 2016, que foi o seu pior desempenho eleitoral desde a ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República.
Por outro, o partido expandiu os municípios em que disputará o segundo turno, aumentou sua votação total para o Executivo e Legislativo municipais, inclusive em capitais, onde foi o segundo partido com maior número de vereadores eleitos.
Segundo matéria de Fábio Zanini e Carolina Linhares na Folha de S. Paulo, dirigentes petistas avaliam nos bastidores "que é preciso renovar seus líderes e reconectar-se com o eleitorado, sobretudo os mais jovens, para evitar perder ainda mais terreno no campo progressista".
Apesar de ser reconhecido há décadas como uma das poucas agremiações com atividade partidária orgânica no Brasil, o PT não é exceção nas tendências de dificuldades de renovação descritas pela ciência política.
Em 2020, 7,6% dos vereadores eleitos pelo partido tinham entre 18 e 29 anos no dia da eleição, valor levemente superior ao de 2016 (7,2%) mas ainda inferior ao de 2012 (9%).
Como enfatiza o cientista político Jairo Nicolau, as quedas do PT em 2016 estiveram diretamente relacionadas ao tamanho do município: quanto mais populoso, maior a queda no percentual de votos para vereador. É nesses municípios que a estratégia petista de recuperação parece ter se focado.
Ao menos nas maiores cidades brasileiras, o PT avançou na eleição de lideranças jovens. Comparativamente às eleições de 2012 e 2016, o partido ampliou a fatia de seus vereadores que estão na faixa de 18 à 29 anos.
Em municípios com mais de 200 mil eleitores, eles saíram de 1,7% dos vereadores eleitos pelo partido em 2016 para 9,2% este ano. Nas capitais, os jovens passaram de 2,4% para 8,9% dos vereadores do partido nas duas últimas eleições.
Além deste aumento entre os mais jovens, é nesta faixa etária que as mulheres vereadoras alcançam sua maior representação no partido. Elas são 27,6% dos 199 vereadores com menos de 30 anos. Nas demais faixas, este percentual fica entre 20,3% (40-49 anos) e 21,9% (60 ou mais). Nos municípios com mais de 200.000 eleitores, elas correspondem a 10 dos 11 eleitos. Entre esses jovens, 8 das 10 mulheres se autodeclaram pretas.
COMO FIZEMOS ISSO
Para candidaturas e resultados de eleitos, utilizamos as informações dos bancos de candidaturas dos anos de 2012, 2016 e 2020 do Repositório de Dados Eleitorais. Tendo em vista a constante atualização desses dados segundo julgamentos da Justiça Eleitoral quanto ao status de algumas candidaturas, ressaltamos que os dados aqui apresentados se referem aos dados gerados no dia 27/11/2020 pelo TSE - nos quais constam 56.710 vereadores eleitos (de um total de 58.112 cadeiras de vereador em disputa).
Testamos nossos resultados com o resultado obtido via API de resultados do TSE (pacote eleicoesmun2020) - que retorna 57.376 eleitos - e com os dados de candidaturas gerados em 20/11/2020 - com 57.608 eleitos. Todos indicam resultados no mesmo sentido daqueles descritos na matéria. Considerando os resultados ainda não declarados, para que o número de jovens eleitos em 2020 se iguale ao percentual de 2016, é necessário que 32,8% das 1.402 cadeiras não declaradas sejam destinadas a candidatos com menos de 30 anos - valor largamente superior ao que elas atingiram até o momento (97,6% do total).
Para os votos dos candidatos, utilizamos dados obtidos via pacote eleicoesmun2020, que extrai dados da API de resultados do TSE. Este pacote retorna o resultado eleitoral de 499.892 candidaturas a vereador - enquanto a base de dados de resultados nominais por zona, disponível no Repositório do TSE apresenta o resultado de 489.636 candidatos.
A análise se concentrou nas eleições realizadas na última década, em que novos atores partidários e dinâmicas políticas se incorporaram ao cenário do país.