O número de whistleblowers (denunciante ou informante – aquele que, ao tomar conhecimento de uma irregularidade ou de um crime no âmbito de sua atividade profissional, comunica as autoridades) na indústria de tecnologia vem crescendo, e boa parte dos denunciantes são mulheres. Por quê?
É complicado, segundo as professoras da universidade UMass Amherst Jennifer Lundquist e Francine Berman. Apesar da falta de dados categorizando denunciantes, pesquisas envolvendo ética de trabalho mostram o papel do gênero em questões de interesse público.
Alguns casos notórios, apenas entre 2019 e 2022, de mulheres denunciantes são:
- Francis Haugen denunciou a exploração de dados de usuários na Meta através do Facebook Papers, consórcio do qual o Núcleo faz parte.
- Timnit Gebru e Rebecca Rivers questionaram o Google em relação à problemas de ética e inteligência artificial. Chelsey Glasson se demitiu da empresa em 2019, alegando discriminação por gravidez e gênero.
- Janneke Parrish foi a público após ser demitida por denunciar assédio sexual e a cultura de trabalho discriminatória na Apple.
- Aerica Shimizu Banks se demitiu do Pinterest por alegar uma diferença salarial baseada em discriminação racial.
- Emily Cunningham foi demitida da Amazon por tentar organizar funcionários para cobrança de uma postura firme da empresa contra as mudanças climáticas.
ACHADOS: Segundo as pesquisadoras, a noção de whistleblowers femininas se encaixa na “narrativa predominante de que as mulheres são de alguma forma mais altruístas, focalizadas no interesse público ou moralmente virtuosas do que os homens”.
O artigo publicado no The Conversation se baseia em uma série de pesquisas que mostram o impacto do gênero na ética de trabalho. Algumas delas relatam como:
- Eleger mulheres para cargos de poder tem efeito causal na diminuição da corrupção;
- Mulheres são mais propensas a denunciar anonimamente, e como whistleblowers mulheres sofrem mais represálias do que homens;
- Mulheres são mais éticas nas negociações empresariais do que seus pares masculinos.
Esses achados, segundo as autoras, podem ser resumidos à socialização de homens e mulheres em diferentes papéis de gênero na sociedade.
Além disso, há a representação. Mulheres ocupam 25% da força de trabalho na indústria de tecnologia e apenas 30% da liderança executiva. Grupos marginalizados muitas vezes não têm senso de pertencimento e inclusão em empresas, e são mais propensos a identificar e denunciar problemas estruturais.
DADOS AINDA ESPECULATIVOS: Embora mulheres possam estatisticamente agir de forma mais ética, o artigo ainda deixa em aberto a questão de saber se elas realmente são mais suscetíveis de serem denunciantes.
Tentar caracterizar o que faz de alguém um whistleblower em potencial é perigoso, já que pode desencorajar denuncias internas e criar discriminação em ambientes de trabalho. Por isso, dados gerais ainda são escassos.
Conversa aberta