Para decidir sobre a remoção do site Verdade na Rede, ligado à campanha do candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a ministra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Maria Claudia Bucchianeri foi parar em um grupo de WhatsApp em apoio ao petista.
COMO FOI? A campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro entrou na Justiça contra o portal alegando que o site tinha "o claro intuito de travestir a página em questão como se correspondesse a uma agência de checagem".
Em sua decisão publicada na segunda-feira (19.set.), a ministra afirma que apesar de estar registrado no TSE como site oficial da campanha petista, o portal e as redes sociais ligadas a ele não informam que se trata de um perfil oficial de propaganda eleitoral.
Bucchianeri diz ainda que o usuário é "claramente induzido a acreditar que se trata de uma agência independente de checagem de fatos, ou seja, de uma fonte neutra de análise de notícias".
A EXPERIÊNCIA. Anexando prints do site, a ministra afirmou que encontrou um convite "para que o usuário se torne um voluntário no combate às fake news, mediante o fornecimento de seu nome, e-mail, WhatsApp e Estado" no site.
"Tive a curiosidade de fazer um cadastro fictício, e cliquei em 'fazer parte', o que me levou a essa segunda página, toda predominantemente em amarelo, verde e branco, dando conta de que o meu cadastro foi feito com sucesso, com o slogan 'mentira não enche geladeira'", descreve a ministra.
Ela afirma que encontrou em dois locais do site o convite para fazer parte de grupos WhatsApp e Telegram "(...) com a seguinte provocação: 'Receba conteúdo. Quer receber fakes desmentidas no seu WhatsApp? Entre em um dos grupos fechados'. Novamente, sem nenhuma indicação de que seriam grupos dedicados à promoção de propaganda eleitoral".
"Tomei a iniciativa de aderir a um desses grupos, do qual estou a fazer parte até este momento, e estou a receber, em meu WhatsApp, material de campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, ao contrário daquilo que o site induz acreditar, ou seja, de que se tratava de grupos criados por agência independente de checagem de notícias, para o recebimento de eventuais 'desmentidos'", disse a ministra "espiã" do grupo.
COLETA DE DADOS. Bucchianeri afirma que ainda mais grave é a coleta de dados dos cidadão que são encaminhados para campanha eleitoral de um candidato a pretexto de combate às fake news.
"(isso) Apenas será revelado para aqueles que clicarem no pequeno link de 'política de uso de dados', discretamente posicionado ao lado do botão de cadastramento. É grave, com todo respeito. O usuário é convidado a fornecer seus dados para supostamente ser um voluntário contra a desinformação, mas, na realidade, está encaminhando seus dados pessoais para uma campanha eleitoral!", exclamou a ministra em sua decisão.