O sistema da recomendação da Meta, empresa dona do Facebook e Instagram, recomenda a usuários conteúdo contendo alegações de fraude eleitoral e ataques à democracia brasileira, mostrou um relatório da organização SumOfUs divulgado neste sábado (29.out.22).
ALGORITMO. Segundo o relatório, extremistas de direita, alguns dos quais estão atuando em prol de um golpe militar, não só operam livremente na plataforma, como têm seu conteúdo (grupos, contas e publicações) priorizadas pelo algoritmo da Meta. Na prática, isso significa que esse conteúdo pode chegar a novos usuários e facilitar no recrutamento para grupos extremistas.
EXPERIMENTO. Ao longo de 7 dias, pesquisadores usaram novos perfis de Facebook e Instagram e buscaram termos neutros nos campos de busca das redes: fraude
, intervenção
e urnas
. Os resultados sugeridos "dirigiram usuários a posts que promovem violência, desinformação eleitoral e que promovem outros conteúdos associados a 'Stop the Steal' ou 'Pare o Roubo', em português.
- No Facebook,
63,6%
dos posts recomendados eram conteúdos de teor 'Pare o Roubo'. - No Instagram,
58,8%
dos perfis e hashtags recomendadas estavam promovendo conteúdo nesta linha.
CONTEÚDO EM ALTA. Dados do CrowdTangle mostraram uma alta acentuada em conteúdos alegando fraude e de teor golpista nos dias ao redor do 1º turno, movimento que se repete agora nos dias anteriores ao 2º turno.
- O engajamento em conteúdo sobre fraude eleitoral atingiu um pico de
345 mil
interações em 4.out, dois dias após o 1º turno.
MEGAFONE PARA BOLSONARO. Segundo a SumOfUs, as plataformas da Meta operam como um megafone do discurso de Bolsonaro, permitindo que a retórica inflamatória do presidente chegue a milhares de usuários e mine a confiança no processo eleitoral.
Em 11.out, durante um comício na cidade de Pelotas (RS), Bolsonaro fez alegações sobre integridade eleitoral e convocou apoiadores a fiscalizarem zonas eleitorais durante o 2º turno. Nas palavras da SumOfUs, seria um prenúncio "de uma revolta no estilo do Capitólio no dia da eleição".
Esse discurso ganhou tração rapidamente no Facebook, gerando quase 250 mil interações
em 669 publicações
em apenas 1 dia.
AÇÃO. Como nos relatórios anteriores, a organização reitera que ainda há tempo para que a Meta tome medidas para proteger a integridade das eleições brasileiras e pede que o TSE avalie o conteúdo revelado no relatório e aplique medidas adequadas para exigir sua remoção e multas cabíveis.
Em nota enviada pela assessoria de imprensa, a Meta informou:
"Atualizamos as nossas ferramentas de busca nas últimas semanas em preparação para as eleições de 2022 no Brasil. Quando as pessoas pesquisam informações relevantes relacionadas às eleições no Facebook ou Instagram, os primeiros resultados agora as direcionam para informações oficiais da Justiça Eleitoral. Trabalhamos para remover diversas recomendações de palavras-chave que podem levar à desinformação e aplicamos rótulos em postagens relacionadas a eleições em ambos os aplicativos. Cerca de 30 milhões de pessoas no Brasil já clicaram nesses rótulos eleitorais no Facebook e foram direcionadas para o site Justiça Eleitoral."
Texto atualizado às 13h34 de 29.out para incluir posicionamento da Meta.