Entidades da sociedade civil estão alertando para riscos e problemas relacionados a um guia que está sendo desenvolvido pela Unesco para regulação de plataformas digitais e que será discutido em uma conferência em Paris em fev.2023.
CONTEXTO. Segundo a Unesco, o objetivo do guia é
"oferecer orientação no desenvolvimento de regulamentação que possa ajudar os Estados membros a gerenciar conteúdo que prejudique a democracia e os direitos humanos, ao mesmo tempo em que apoia a liberdade de expressão, informação e outros direitos humanos".
Um primeiro rascunho do documento já foi publicado (apenas em inglês e francês) e levou a um processo público de consulta para uma segunda versão, sob o qual a Unesco recebeu comentários e sugestões até 20.jan.23.
CRÍTICAS. Em dez.2022, a ONG Article 19 publicou um artigo em que alertava sobre os riscos caso o documento seja aprovado e ratificado na atual forma. Alguns pontos levantados pela organização incluem:
- o impacto potencial desse guia exigiria um mandato forte da Unesco para desenvolvê-lo, o que passaria, por exemplo, por uma decisão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas;
- pela redação atual, o guia poderia ser usado por alguns Estados para justificar regulações de internet repressoras;
- falta de clareza quanto a objetivos e termos;
- falta de uma abordagem baseada em direitos humanos e deixa decisões arbitrárias na mão de governos ou empresas.
A ONG recomenda que a Unesco pause os trabalhos e cita o Digital Services Act (DSA) e o Digital Markets Act (DMA) como bons pontos de partida para pensar uma regulação global que respeite os direitos humanos.
No dia 20.jan.23, a ONG Derechos Digitales, cuja atuação foca na América Latina, engrossou o coro com um artigo em que também levanta pontos de atenção e, devido a isso, pontua que não é possível aprovar um documento na conferência em Paris. A organização alertou sobre:
- opacidade do processo e falta de participação ampla da sociedade civil;
- põe em risco o exercício dos direitos humanos, em especial no caso de países de "maioria global" que usam guias como esse de maneira mais ampla;
- falta de definição dos objetivos do documento e falta de definição de conceitos-chave;
- em sua forma atual, documento promove censura prévia pelas plataformas.