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Redes sociais são basicamente a amálgama de três componentes:

  1. Recursos próprios de usabilidade, dinâmica e experiência do usuário;
  2. Conteúdo gerado por usuários e métodos de recompensa em troca de engajamento;
  3. Moderação de conteúdo.

Desde a ascensão de Donald Trump, Jair Bolsonaro e outros líderes autoritários (de Rodrigo Duterte e Viktor Orbán a Nicolás Maduro e Daniel Ortega) nos últimos 10 anos, as redes sociais não tiveram grandes problemas em avançar com os itens #1 e #2. São recursos resolvidos com investimentos em engenharia de dados, desenvolvimento web, gamificação, psicologia, machine learning etc.

O problema é o recurso #3. A maioria das pessoas quer um ambiente seguro e saudável para se expressar e interagir com outros, não uma zona de guerra.

Pra muita gente que não entende o que está falando, moderação parece ser apenas um sinônimo de "censura", mas na real é o principal motor desse produto chamado rede social. Liberdade de expressão, afinal, não dá a ninguém o direito de atacar a democracia ou outras pessoas.

Apesar de todas as lambanças das Big Techs na última década, a maioria das pessoas querem usar grandes plataformas, fazer comércio, se conectar com parentes, amigos, parceiros. Os anunciantes que pagam as contas querem isso também. Pouca gente, proporcionalmente, quer utilizar os 4Chan da vida e ver corpos mutilados, pornografia infantil, racismo, nazismo e discurso de ódio.

Empresas como Meta (Facebook, Instagram e WhatsApp) e Telegram têm seus problemas sérios, inclusive ajudando a espalhar desinformação eleitoral e discurso de ódio, mas não são nem remotamente parecidas com o 4Chan.

As pessoas vêem valor nessas moderações. A gente do Núcleo também, tanto que criamos um veículo só pra entender o impacto que elas têm. As principais plataformas tomam muita porrada por suas frequentes traulitadas (inclusive de nós), mas a grande verdade é que elas bem ou mal têm conseguido navegar nesses mares – às vezes por ordens judiciais ou pressão da sociedade, diga-se.

O Twitter sob o controle de Elon Musk nos relembrou de como a moderação é algo importante.

O caos dos selos de verificação, com um monte de fake se fazendo passar por marcas e políticos, foi a parte de cima do iceberg. Sob a água temos gente migrando para outras redes e apagando tweets, aumento no uso de termos racistas, anunciantes cancelando campanhas publicitárias e reguladores nos EUA já de olho na zona toda.

A moderação necessária não é a moderação arbitrária e improvisada de um bilionário, mas sim termos de uso bem estabelecidos e concordados com especialistas e a sociedade civil para estabelecer um lugar onde só participa quem quiser, mas para participar é preciso aderir às normas.

Sem isso, corremos o risco de governos se intrometerem em regulação de discurso, e a gente sabe o potencial danoso que isso tem.

Texto Sérgio Spagnuolo
Edição Alexandre Orrico
Twitter/XMetaOpinião
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