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Xandão autorizou e o X/Twitter voltou, mas o clima distópico continua o mesmo de antes da suspensão, com protestos de parlamentares de extrema direita e lacradas do Felipe Neto.
O X recebeu de braços abertos a volta de usuários tóxicos, mas um pessoal resolveu permanecer no Bluesky, aquele lugar que tem cor de Twitter, cara de Twitter, anda que nem o Twitter e foi criado pelo ex-fundador do Twitter. E, apesar de problemas como racismo e conteúdo de abuso sexual infantil já estarem pipocando por lá, há quem diga que é uma casa mais limpinha e cheirosa. E, por enquanto, é mesmo.
Mas por quanto tempo?
O Twitter é uma caçamba de lixo já há muitos anos. Mais do que isso, virou um teto seguro sob o qual nazistas, pedófilos e outros criminosos sentem-se cada vez mais à vontade, principalmente após Elon Musk destruir o sistema de moderação da plataforma –que já não era lá essas coisas, principalmente em português.
O Núcleo cobre extensivamente o tema.
A suspensão do X foi o empurrãozinho que a gente precisava pra, em comboio, ocuparmos o Bluesky. E entendo que muita gente esteja em lua de mel com a plataforma. Em muitos sentidos lembra o Twitter raiz, como disseram lá no Hashtag, blog da Folha de S.Paulo.
Ainda que alguns estejam cientes de que é questão de tempo até o Bluesky virar um lixão da mãe lucinda, tenho visto na minha timeline bastante gente otimista, que diz que o céu azul é uma rede diferente, quase boa. Não é.
É preciso lembrar que mesmo antes da destruição promovida por Musk, o Twitter já sofria. Fundada em 2006, a empresa ainda tinha dificuldades para ser lucrativa mesmo em 2022, simplesmente dezesseis anos depois.
Isso fez com que o passarinho fosse cada vez mais amassado pela pressão do mercado. Aumento do limite de caracteres, fim da timeline cronológica, penalidades para tuítes com links, anúncios de tigrinho, golpes com criptomoedas e incentivo a comentários raivosos (mas que engajam): tudo isso foi feito com o objetivo de fazer com que o twitteiro permanecesse mais tempo na plataforma, a fim de acalmar investidores e passar confiança no produto.
É o que toda companhia que explora a atenção do usuário como combustível quer, principalmente as redes sociais. Das atualizações de Fortnite ao algorítmo viciante do TikTok, passando pelos anúncios de bet no Kwai e produção industrial de enlatados da Netflix, o recado é claro: fique mais tempo aqui nesse app, pelo amor de Deus.
Essa pressão vai cair em cima do Bluesky cedo ou tarde. Ó essa aspa da Emily Liu, em entrevista ao Meio & Mensagem: "Não temos anúncios no Bluesky atualmente e não temos planos de incluir anúncios no futuro próximo. Nós somos uma empresa muito jovem, então não tivemos a necessidade de monetizar ainda”.
Ainda.
A gente já viu esse filme muitas vezes. Só para citar uma iniciativa recente: o ex-queridinho BeReal, que se gabava de ter um modelo que não era baseado em publicidade, hoje está entulhado de anúncios.
O Bluesky ainda está na fase de captação de novos recursos e deve demorar um tico antes de virar predatório. Mas, no fim, toda plataforma precisa dar retorno aos investidores e nunca vi um nesta área que priorize interações saudáveis em vez de lucro.
O Bluesky não é um lugar que é diferente. É um lugar que está diferente. Aproveite enquanto é tempo.