Caburé-do-campo, coruja-barata, coruja-mineira, corujinha-do-campo, guedé, urucuera, urucuriá, coruja-cupinzeira. A protagonista desta história leva nomes diferentes dependendo da região onde aparece. Mas se é conhecida por, na maioria das vezes, preferir a toca, ela também sabe ser uma senhora linguaruda. E tem a habilidade de transformar também os pesquisadores em... fofoqueiros.
Calma que eu explico. Tudo começou quando a bióloga Juliana Moraes agitou o pessoal do Twitter para contar qual havia sido o achado mais inesperado com que eles já tinham se deparado durante suas pesquisas.
E ela inaugurou a série contando como, no seu trabalho de conclusão de curso feito na UFBA, descobriu que corujas-buraqueiras eram também fofoqueiras.
🦉 Como assim?
Assim: "elas aprenderam e entendem a vocalização de alerta de uma outra espécie. Aí elas entram em alerta só de ouvir uma vocalização, mesmo sem ter nenhuma ameaça próxima."
E tem mais: "a outra espécie tinha zero intenções de favorecer as corujas, mas elas são fofoqueiras e pegam a conversa no ar."
A Juliana também explorou mais do achado em vídeo:
Se a coruja gostou ou não do título… aí já é outra história.
Mas o mais legal foi que, com o empurrãozinho da Juliana e suas corujas, os pesquisadores desataram a "fofocar" sobre seus achados. E compartilharam com a gente descobertas surpreendentes reveladas ou aprendidas durante os estudos.
Acompanhe o que rolou de melhor, e surpreenda-se junto.
Botânica indecente
Paula Penedo, que é jornalista e pesquisa mulheres na botânica brasileira, resgatou esse interessantíssimo fio sobre como, no século 19, a ciência e a botânica já haviam sido consideradas práticas adequadas para "mulheres de bem"...
Mas isso até vir o sistema de Lineu, com as categorias reino, classe, ordem, gênero e espécie, e a divisão das plantas baseando-se nos papeis sexuais de cada uma. "Então, o número e proporção dos estames (parte “masculina”, “ativa”) definia a classe. Os pistilos (parte “feminina”, “receptiva”) definiam a ordem."
Como detalhou a Paula, isso representou um dilema para autores 'progressistas', que defendiam uma educação feminina, mas consideraram o tema muito delicado para a “modéstia” e a “castidade” delas.
(E olha que nem precisava se tratar de umas plantas assim, com uma associação mais... explícita 👇)
Bom, o resultado é que a partir de 1820, este, entre outros fatores, resultaram na criação de estratégias para “desfeminizar” a imagem da botânica.
"No fim, os pensadores começaram a separar o botânico (cientista) do 'botanófilo' (entusiasta). E é claro que elas se enquadravam no último. O exemplo mais forte foi quando John Lindley, em sua aula inaugural na Universidade de Londres (1830), afirmou que as mulheres deveriam sair da botânica porque o que elas faziam não era ciência". Revoltante, mas real.
Neste filme da Disney, aliás, a atriz Emily Blunt interpreta uma botânica que, mesmo no início do século 20, não era aceita pelos pares e teve um artigo recusado por ser mulher. A maior parte do enredo se desenrola na Amazônia brasileira, para onde ela vai em missão atrás de uma árvore cujas flores teriam propriedades curativas.
Quem quiser ir mais fundo nessas histórias da ciência, pode ir direto no livro que a Paula usou como fonte da thread: Cultivating Women, Cultivating Science: Flora’s Daughters and Botany in England, 1760 - 1860, da Ann B. Shteir.
Imprimindo impressoras 3D
Impressoras 3D sofrem evolução lamarckista. Quem garante é Artur Lino, estudante de engenharia de Controle e Automação na PUC de Goiás.
"Tem aquela piadinha de que se eu comprasse uma impressora 3D, iria construir outra impressora 3D com essa primeira e iria devolvê-la para a loja. Acontece que já rola uma coisa parecida", explicou ele para um leitor curioso, se referindo à iniciativa de open source (código aberto) RepRap. Que assim se descreve:
"RepRap é uma Impressora 3D de mesa e de código aberto que tem a capacidade de imprimir objetos plásticos. Como a maioria das peças são feitas de plástico e a própria RepRap pode imprimir estas peças, então ela é uma máquina auto-replicavél - ou seja, algo que qualquer um pode construir tendo o tempo e os materiais necessários." (RepRap.org)
Assim, a comunidade pode colocar todas as ideias e projetos de impressoras 3D inventados no repositório, para permitir melhorias nas demais. Mas e o Lamarck com isso?
Vamos lembrar que a teoria evolutiva (depois superada) proposta pelo biólogo francês se baseia em algumas leis que incluem o uso e desuso - partes do corpo usadas com frequência tornariam-se mais desenvolvidas, enquanto que as pouco utilizadas poderiam ser diminuídas e até extintas - e na herança de características adquiridas - as mudanças estruturais obtidas durante a vida do indivíduo poderiam ser passadas à sua prole (Khan Academy).
No caso da impressora, "as melhores adições ficam no projeto, e o que não é bom sai. Mas note que as modificações são feitas com intuito e durante a vida da impressora e passam para frente a partir daí", justifica Artur. "Tudo isso caracteriza a evolução lamarckista", diz ele, que conheceu a iniciativa logo que entrou na faculdade, ao acompanhar o trabalho de conclusão do irmão, que fazia o mesmo curso, e estava montando uma dessas impressoras, batizada de Prusa Mendel (muitos modelos levam nomes de cientistas).
Agrotóxico no peixe-boi
Vamos traduzir para quem não entendeu. Assim como outros mamíferos aquáticos, o peixe-boi que vive nos rios da bacia amazônica não dispõe de uma enzima que ajuda a degradar substâncias químicas nocivas presentes em agrotóxicos.
Isso porque ele passou por adaptações genéticas para viver na água, e ficou sem essa proteína que protege mamíferos terrestres dos efeitos neurotóxicos de pesticidas organofosforados. ( ((o))eco )
E se você veio até aqui, leia mais alguns destaques do fio da coruja fofoqueira:
Ovos de titânio
Falar fácil não é difícil
Construção segura
Imigrantes na América
Vaga-lumes canibais
Comeram mais que seu coração.
Curie esteve no Brasil
Junto com Bertha Lutz. E tem foto das duas cientistas pioneiras reunidas.