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Não é preciso entender muito de estatística para saber que 4% da população brasileira vacinada é um percentual bem abaixo do que precisamos para conter a Covid-19. Na contramão da tendência mundial, nos primeiros meses de 2021 o Brasil registrou o patamar mais alto de mortes em um ano de pandemia no país.

Na falta de um plano nacional de enfrentamento à doença, cientistas, pesquisadores, divulgadores e outros especialistas em ciência e saúde têm recorrido às redes sociais para informar a sociedade e difundir as medidas mais eficazes para frear o avanço do vírus. Essa atividade foi inicialmente essencial para informar jornalistas e formadores de opinião, mas passou a crescer e a alcançar cada vez mais o público em geral.

Análise do Núcleo a partir de tweets monitorados pela ferramenta Science Pulse mostra que os expressivos picos de engajamento nas contas dos principais divulgadores de ciência brasileiros coincidem com o agravamento dos números da pandemia no país.

Entre junho de 2020 e março de 2021, o engajamento em publicações desses profissionais se pluralizou e apresentou consistente crescimento.

É importante porque...
  • Mostra um cenário de alta difusão de desinformação e de falta de ação do governo federal, ao passo que divulgadores científicos têm sido essenciais na disseminação de informações sobre a pandemia
  • Aponta para uma mudança permanente nas redes, onde cientistas e pesquisadores têm forte voz e são presenças importantes. Muitos deles sequer tinham conta no Twitter antes de 2020

"Acredito que a falta de uma centralização na divulgação de informações por parte do governo tenha gerado uma necessidade nas pessoas de buscarem essas informações por conta própria", diz Mariana Varella, jornalista de saúde, cientista social e divulgadora científica que  acabou de ultrapassar os 50 mil seguidores no Twitter. Ela é chefe de redação do Portal Drauzio Varella.

As 12 principais vozes brasileiras da ciência nas redes, que tiveram média de 411 curtidas e RTs por tweet na primeira semana em que foram monitoradas, mais do que dobraram seu engajamento nas últimas semanas, chegando a 948 até a semana encerrada em 4 de março (a última completa no período de análise).

Além disso, as cinco semanas com maior volume de engajamento dos 12 principais perfis brasileiros de divulgação científica foram em 2021.

Os principais divulgadores de ciência foram identificados a partir de um estudo do IBPAD com dados do Science Pulse, publicado em dezembro de 2020.

Do total, 21,5% (ou 190) dos perfis são verificados pelo Twitter, que vem cada vez mais notando o esforço dos divulgadores. Nesta última semana, por exemplo, foram verificados os perfis do cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt e da bióloga Beatriz Hörmanseder, entre outros.

REDE ÁTILA DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

No período analisado, a tendência geral de crescimento foi encontrada nas principais contas brasileiras monitoradas.

A exceção foi o perfil de Atila Iamarino, que apresentou uma tendência geral de queda. Mas o biólogo não ficou menos importante: o que aconteceu foi uma  distribuição de influência e engajamento.

O período de análise iniciou-se em junho de 2020, quando Átila já havia se firmado como uma voz central na disseminação de informações sobre a pandemia. Durante a primeira semana de monitoramento, o biólogo era responsável por cerca de 3 a cada 4 engajamentos desse grupo de 12 perfis, número que foi gradativamente passado para outras contas. Na última semana de análise, ele correspondia a 38,7% do total.

A resposta que explica essa queda passa pela pluralização e fortalecimento de vozes. Essa distribuição é muitas vezes estimulada pelo próprio Átila, que divulga e retweeta outros divulgadores, e também organizada por eles próprios.

"Muitos médicos e cientistas começaram a fazer esse trabalho agora na pandemia. Há reuniões virtuais de divulgadores, pesquisadores, pensando juntos estratégias de comunicação", diz Mariana.

As 4 semanas em que ele teve menor engajamento relativo neste grupo foram em 2021. Neste ano, em somente três das dez semanas Átila ultrapassou 50% do engajamento semanal dentro deste grupo. Porém ele é, indiscutivelmente, o principal divulgador do grupo, responsável por 19 dos 20 maiores engajamentos semanais.

COMO FIZEMOS ISSO

O Twitter possui 16 milhões de usuários, longe de representar a população. Mas, nos últimos anos, a rede social passou a funcionar como um termômetro do debate político e também científico no Brasil, pautando autoridades, a imprensa e outras redes sociais.

Os principais divulgadores de ciência foram identificados no estudo As Principais Vozes da Ciência no Twitter realizado pelo IBPAD em parceria com o Science Pulse, publicado em dezembro de 2020. Para cada um dos cinco grupos de perfis identificados, o estudo ressaltou os cinco que seriam as principais vozes de cada grupo (ou cluster).

Além deles, em cada grupo, os pesquisadores encontraram as contas com maiores notas em três medidas (autoridade, popularidade e articulação), que incluem outras vozes relevantes no debate. Desses destaques, o Núcleo selecionou os perfis de divulgadores brasileiros (desconsiderando contas internacionais ou institucionais)

Atualmente, o Science Pulse monitora um total de 1.450 contas de Twitter, sendo 853 perfis de pessoas físicas. A ferramenta divide os perfis por idioma, não nacionalidade; a estimativa é que haja entre 400 e 500 brasileiros na base.

Nossa análise de engajamento leva em conta a soma simples de RTs e curtidas. Para o cálculo da taxa de engajamento, somamos os valores em todos os tweets e dividimos pelo número de postagens diárias (sem contar RTs não comentados). A conta não elimina tweets em resposta a outros usuários, o que pode jogar para baixo os valores daquelas contas que respondem mais a outras contas.

A tendência de engajamento é a média móvel quinzenal da taxa de engajamento diário para os perfis de cada um dos 3 primeiros agrupamentos listados. Os trechos do gráfico em que não existem valores são aqueles em que não existiram tweets que permitissem calcular a média móvel.

Para avaliar o crescimento ao longo do período completo, utilizamos regressão linear simples em que a tendência de engajamento é predita pelo dia. Uma relação linear não é a que melhor prediz o formato desses dados, afinal eles têm picos e vales. Contudo, ela é útil para demonstrar a relação geral identificada nos dados. Os picos podem estar associados a algum tema/acontecimento específico naquele momento.

Mais informações sobre a metodologia da taxa de engajamento neste link.

texto Alexandre Orrico
analise Lucas Gelape
arte Rodolfo Almeida
edição Sérgio Spagnuolo
Twitter/X
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