Usuários do Facebook no Brasil, Índia, Egito, Turquia e Filipinas estariam mais suscetíveis a danos provocados por conteúdos de incitação à violência, discurso de ódio e de organizações perigosas do que usuários dos Estados Unidos e Europa Ocidental, segundo dados internos do Facebook.
Essas informações fazem parte de documentos revelados à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC, na sigla em inglês) e fornecidas ao Congresso dos Estados Unidos de forma editada pela assessoria legal de Frances Haugen para censurar informações que possam comprometer outras pessoas, como nomes e outros dados pessoais. As versões editadas recebidas pelo Congresso dos EUA foram revisadas por um consórcio de veículos de notícias. O Núcleo Jornalismo teve acesso aos documentos.
É importante porque...
- Mostra o quão sensível é o do uso de redes sociais no Brasil para saúde mental dos usuários
A conclusão veio de uma pesquisa interna do Facebook conduzida fora da plataforma, e compartilhada em um post na rede interna da empresa em 5.jun.2020.
Como parte do estudo, usuários de dois grupos de países – sob risco
(denominados at-risk countries, ou ARC) e não-sob-risco
– foram questionados sobre "quão mal se sentiriam ao ver esses diferentes tipos de conteúdo", uma medida que pode indicar quão severos seriam os danos potenciais aos usuários.
Os resultados mostraram que usuários dos países sob-risco avaliaram conteúdos do tipo como mais severos do que a média de países não-sob-risco, dentre os quais EUA, Reino Unido, Alemanha e França.
Segundo recomendação no post da rede interna, que não detalha a metodologia para classificar países nos grupos, os dados "apoiam ações de integridade mais agressivas contra esses tipos de riscos nos países em risco".
Por se tratar de vazamentos de documentos internos cuja divulgação é de conhecimento geral do público, sendo os mesmos documentos que veículos internacionais tiveram acesso, o Núcleo não entrou em contato com o Facebook antes da publicação desta matéria.
Em nota, o Facebook (que agora se chama Meta), disse sobre a pesquisa:
"Os resultados desta pesquisa não medem a prevalência ou a quantidade de um determinado tipo de conteúdo nos nossos serviços. A pesquisa mostra a percepção das pessoas sobre o conteúdo que elas veem nas nossas plataformas. Essas percepções são importantes, mas dependem de uma série de fatores, incluindo o contexto cultural. Divulgamos trimestralmente a prevalência de materiais que violam nossas políticas e estamos sempre buscando identificar e remover mais conteúdos violadores."

QUESTIONÁRIO
Os respondentes da pesquisa tiveram de avaliar como se sentiriam se se deparassem no Facebook com conteúdos como:
- um convite para uma reunião de um grupo de ódio
- um post sobre um plano para matar diversas pessoas
- um post com insultos raciais
- um post de tentativa de venda de crianças
- um post que celebra um grupo de ódio
- um post que expressa prazer a partir do sofrimento de outras pessoas ocasionado por violência
- um post que tira sarro de deficiências de outras pessoas
- um post que diz que pessoas de certo país são insetos
- um post que diz que pessoas de certo país possuem alguma doença mental
- um post que diz que pessoas de certo país deveriam ser segregadas
- um post que diz que pessoas de certo país deveriam morrer
- um convite para participar de atividades terroristas
SISTEMA DE NÍVEIS
Um outro documento visto pelo Núcleo mostra que o Facebook classificava o Brasil como nível dois num ranking de prioridades para o ano de 2021, ao lado de outros países latino-americanos, do Oriente Médio, Ásia e de França e Alemanha.
No nível 1 – que exigiria prioridade nas ações – o Facebook colocou Índia, Paquistão, Síria, Iraque, Etiópia, Filipinas, Iêmen, Egito, Rússia e Mianmar.
- Nível 1: Índia, Paquistão, Síria, Iraque, Etiópia, Filipinas, Iêmen, Egito, Rússia e Mianmar.
- Nível 2: Nicarágua, Bangladesh, México, Arábia Saudita, Brasil, Turquia, Tailândia, Argentina, Irã, Indonésia, Alemanha, Camarões, França e Honduras.
- Nível 3: Nigéria, Haiti, El Salvador, Bulgária, Hong Kong, Espanha, Chile, Líbia, Bolívia, Venezuela, Zambia, Peru, Angola, Guatemala, Tanzânia e Emirados Árabes Unidos.
COMO FIZEMOS ISSO
O Núcleo foi convidado a participar do consórcio de veículos internacionais que possuem acesso aos documentos trazidos à tona pela ex-funcionária do Facebook Frances Haugen, no que ficou conhecido como Facebook Papers.
Esses documentos foram primeiramente noticiados pelo Wall Street Journal, que chamou a série de Facebook Files.
Reportagem Laís Martins
Edição Sérgio Spagnuolo
Texto atualizado às 9h39 de 6.nov.2021 para acrescentar posicionamento do Facebook.
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