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Influenciadores da extrema-direita subiram o tom, nas últimas semanas, em relação ao monitoramento feito em seus perfis do YouTube, fazendo ameaças de morte e de assédio judicial contra o criador de um projeto que monitora esses perfis – em geral, alinhados ao bolsonarismo.
É importante porque...
- YouTube é uma rede que tem crescido em importância para a extrema-direita e compreender como esses atores se comportam lá é fundamental
- Contrário às afirmações de "perseguição", o trabalho de monitoramento é feito com dados disponíveis publicamente
O Intercept Brasil também publicou reportagem sobre essas ameaças.
Há dois anos, o jornalista e programador Guilherme Felitti, fundador da Novelo Data, desenvolveu um bot que publica relatórios sobre vídeos escondidos pelos 450 maiores canais de extrema-direita no Brasil. Esses vídeos podem ter sido deletados, tornados privados ou não-listados (ou seja, sem indexação) ou removidos pelo Youtube por violação das regras da plataforma.
Desde então, Felitti usa seu Twitter para publicar notas sobre essas movimentações. Se você o segue no Twitter, sem dúvida já viu alguns dos fios que ele faz. Seu material é rotineiramente utilizado por veículos de imprensa.
Durante a pandemia, Felitti acompanhou rigorosamente quais youtubers deletaram vídeos em que defendiam o tratamento precoce ou promoviam negacionismo ligado à vacina, por exemplo.
CONTEXTO
Em agosto do ano passado, o Tribunal Superior Eleitoral determinou que Youtube, Twitch, Twitter, Instagram e Facebook suspendessem a monetização de canais que propagam desinformação. A decisão, que atendia pedido de medidas cautelares por parte da Polícia Federal, mirou figuras conhecidas da extrema-direita, como, por exemplo, o blogueiro Allan dos Santos, as páginas Folha Política e Jornal da Cidade On Line, e os canais de Youtube Ravox e Vlog do Lisboa. Desde então, muitos atores de extrema-direita tem silenciosamente limpado suas digitais, sistematicamente apagando e removendo vídeos que possam incriminá-los de alguma maneira.
Olhar para um comportamento mais silencioso – menos visível ao público – desses atores no Youtube fornece indícios de como, apesar da pose e discurso contrário às instituições democráticas, pró-ruptura e negacionista, há um temor que permeia o grupo: de que possam se tornar eventuais alvos da Justiça.
A partir de meados de março deste ano, alguns dos youtubers que vinham sendo acompanhados pelo bot da Novelo Data começaram a esboçar uma reação. O primeiro foi o youtuber Fred Rodrigues, que gravou um vídeo dizendo que Felitti mentiu sobre a deleção do vídeo e direcionou seus seguidores a atacar o jornalista.
O caldo engrossou no começo de abril, quando Fernando Lisboa, a pessoa por trás do canal Vlog do Lisboa, retuitou uma publicação de Felitti dizendo que iria acionar seus advogados. Poucas horas depois, foi a vez de Liliane Ventura, ex-apresentadora de um programa de TV policial, atacar Felitti, dizendo que "X9 sempre acaba mal".
Como é de praxe desses atores, as ameaças vem carregadas de desinformação.
O youtuber Ed Raposo, que declarou que Felitti "dedica sua vida a perseguir comunicadores conservadores e colocá-los em rota de colisão com figuras poderosas, notadamente ministros do STF, do TSE e redes sociais", fez uma falsa associação entre o projeto da Novelo de monitoramento dos vídeos apagados à Fundação Lemann e George Soros.
De fato, a Fundação Lemann já fez projetos com a Novelo Data, mas Felitti esclarece que nenhum desses envolve dados políticos. O vídeo foi republicado por outro youtuber, Gustavo Gayer, um dos grandes exponentes das ideias bolsonaristas.
O vídeo de Raposo foi postado no seu canal de Telegram, onde seguidores começaram a responder com dados empresariais da Novelo, como CNPJ e endereço. Um usuário diz: "temos que armar um cilada para ele".
O Núcleo entrou em contato com o Youtube sobre as ameaças contra Felitti. Por meio de sua assessoria de imprensa, a empresa enviou a seguinte nota:
“Todos os conteúdos no YouTube precisam seguir nossas Diretrizes de Comunidade, e contamos com uma combinação de inteligência de máquina, revisores humanos e denúncias de usuários para identificar material suspeito e agimos rapidamente sobre aqueles que estão em desacordo com nossas políticas assim que são localizados. Qualquer pessoa que acredite ter encontrado um conteúdo no YouTube em desacordo com as nossas diretrizes pode denunciar o vídeo ou o canal por meio da plataforma.
Quando não há violação à política de uso do YouTube, a análise final sobre a necessidade de remoção de conteúdo cabe ao Poder Judiciário, nos termos do Marco Civil da Internet.
O caso em questão está sob análise."