Mastodon e Twitter: Breve guia das principais diferenças entre as duas redes sociais

O Mastodon parece o Twitter, mas é bem diferente. Antes de mergulhar na rede alternativa, entenda onde você está entrando.
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Quem acessa o Mastodon pela primeira vez tem uma sensação de déjà vu: parece muito com o Twitter. A semelhança, porém, é superficial.

Sim, tal qual o Twitter, o Mastodon é uma rede social de posts curtos (até 500 caracteres, contra 280 do Twitter), mas há diferenças profundas entre os dois, que vão desde nomenclaturas e recursos simples, até uns lances bem técnicos e filosóficos.

Abaixo, segue uma lista não exaustiva das principais diferenças entre Mastodon e Twitter, fruto de quase três anos de observação empírica e pesquisa ativa de um usuário — eu! — e com a ajuda dos amigos que me seguem por lá.

Para uma visão mais completa do Mastodon, sem tanta comparação ao Twitter, leia esta matéria do Manual do Usuário:

Como seria um Twitter gerenciado pelos próprios usuários, sem a empresa Twitter? Assim
O Twitter, uma rede social comercial, é cheio de problemas. Diferente dele, o Mastodon, rede social de código aberto e federada, se apresenta como alternativa mais saudável e respeitosa.

Descentralização e federação

Esta é a maior diferença. O Mastodon é descentralizado, o que significa que não está sob o controle de uma empresa ou entidade.

O código-fonte do Mastodon é aberto e qualquer um pode baixá-lo e subir uma instância, ou seja, instalá-lo em um servidor próprio.

É como se qualquer pessoa pudesse criar o seu próprio Twitter com o mesmíssimo código usado pelo Twitter.

Além de descentralizado, o Mastodon é federado. Isso significa que as instâncias podem se comunicar: é possível seguir, ser seguido, conversar e até trocar DMs com pessoas de outras instâncias, desde que ambas estejam federadas.

A lógica da descentralização/federação é similar à do e-mail. Podemos estar em servidores (instâncias, no jargão do Mastodon) diferentes, com regras próprias e até recursos distintos, e ainda assim nos comunicarmos.


A escolha da instância

A instância é como um condomínio: você pode interagir com outras pessoas na cidade, de outros condomínios, mas estará mais próximo e terá que seguir as regras do seu condomínio. Por isso, é muito importante escolher uma em que você se sinta à vontade.

Essa escolha também passa pela confiança no administrador. Ao contrário do Twitter, em que uma mega-empresa multinacional responde por tudo — moderação, guarda dos dados, atualizações de rotina, suporte etc. —, no Mastodon esse trabalho recai no administrador da instância.

Cada abordagem tem vantagens e desvantagens. No Mastodon, impera uma lógica mais comunal, de conhecer o administrador e confiar nele. É mais ou menos a diferença entre comprar um pão da Bauducco (Twitter) e um da padaria artesanal da esquina (Mastodon).

Por esse motivo, desaconselho o ingresso em instâncias grandes, como a mastodon.social — a maior do mundo. Embora os administradores sejam confiáveis (o próprio Eugen Rochko, criador do Mastodon, está à frente dela), tem muita gente e o idioma oficial é o inglês. Em outras palavras, você não terá uma experiência muito diferente da do Twitter.

Não hesite em conhecer e até experimentar algumas instâncias. É possível migrar seu perfil, levando seguidores e a lista de quem você segue, mas você perde seus toots (conteúdo) na mudança.

O site oficial do Mastodon tem um diretório incompleto de instâncias. Aqui no Núcleo, publicamos uma lista das instâncias brasileiras ativas.

Nomenclaturas próprias

O Mastodon reaproveita muitos termos usados na interface do Twitter, mas tem os seus próprios.

O mais diferente é o nome usado para se referir aos posts. No Twitter, eles são chamados de tweets ou tuítes; no Mastodon, são “toots”.

No mesmo sentido, em vez de RTs, fala-se “boost”. Parte da pequena comunidade brasileira usa-a em forma de verbo aportuguesado, ou seja, ali pode-se “boostar” um toot.

Timelines

O Mastodon opera com três timelines simultâneas, fora as listas que cada usuário pode criar:

  1. A sua timeline, composta por toots de quem você segue, seja da sua instância ou de outras;
  2. A timeline local, que exibe todos os toots públicos dos membros da sua instância; e
  3. A timeline federada, que exibe toots de todos os perfis que têm alguma ligação com os membros da sua instância.

Este esquema, em inglês, explica bem como funciona a privacidade de um toot:

Esquema com setas, em inglês, mostrando o que aparece em cada timeline do Mastodon.
Imagem: @[email protected]

Dependendo do seu uso do Mastodon ou da instância em que você estiver, a timeline local não tem muito apelo. (Em uma gigantesca, como a mastodon.social, é só ruído.)

Em instâncias menores e segmentadas, como as brasileiras e as temáticas, é um ótimo lugar para encontrar novos perfis para seguir. Outro bom local para descobrir perfis são os diretórios das instâncias, que listam seus membros com botões para seguir rapidamente qualquer um deles.

Em instâncias menores e melhor administradas, as regras locais são importantíssimas. Certifique-se de lê-las antes de começar a postar. Os administradores e demais membros agradecem.

Privacidade dos toots

Um toot pode ter quatro níveis de privacidade. Para alternar entre eles, toque/clique no ícone do globo no editor de toots. Os níveis são:

  • Público: Apare em timelines públicas.
  • Não-listado: Não aparece em timelines públicas, mas em todo o resto.
  • Privado: Aparece somente nas timelines de seguidores.
  • Direto: Aparece somente para os perfis mencionados — é a versão das mensagens diretas (DMs) do Twitter.

Recursos diferentes

O Mastodon não tem tem “boost comentado”, aquele RT do Twitter em que você cita outro tuíte e escreve algo em cima. Alguns usuários fazem uma gambiarra e citam um toot com a marcação LB, de “last boost” (boost mais recente).

Aos saudosistas do Twitter raiz, o “curtir” do Mastodon nunca deixou de ser a estrelinha.

A última versão do Mastodon já incorporou o código necessário para o recurso de editar toots. Ele ainda está sendo liberado, aos poucos, nas instâncias. Por ora, é possível excluir e transformar o toot excluído em rascunho, o que quebra um galho.

Instâncias podem ter emojis personalizados. A maioria adota isso, o que é bem legal — a masto.donte.com.br, onde o perfil do Manual está, tem o logo do site invocável com o comando :manualUsuario:

Um recurso muito legal do mastodon que não existe no Twitter é o CW, abreviação de “content warning”, ou alerta de conteúdo. Ele oculta um toot atrás de um aviso, o que pode ser útil para evitar spoilers ou sinalizar aos seguidores um assunto delicado ou nojento. Para ler um toot com CW, é preciso clicar/tocar no aviso.

Aplicativos? Tem vários

Por ter o código aberto, qualquer um pode criar aplicativos compatíveis com o Mastodon. Existem vários.

Um deles é o oficial (Android, iOS). Ele é uma boa para quem está chegando agora por ser bastante parecido com a experiência do Twitter, mas recebe críticas de usuários veteranos por ocultar alguns recursos, como a timeline local.

Para Android, uma boa pedida é o Tusky (gratuito). No iOS, gosto do Toot! (R$ 22,90). Esta página traz um diretório de aplicativos compatíveis com o Mastodon.

Se não quiser instalar um aplicativo novo, sem problema: os sites das instâncias funcionam bem no celular e podem ser convertidos em aplicativos (PWA).

No computador, o Mastodon oferece duas visualizações da timeline, a avançada, com várias colunas, tipo o TweetDeck, e a clássica, que lembra o Twitter. Você escolhe uma delas nas configurações da conta — em Preferências > Aparência > Interface avançada de colunas.

Outro ritmo

Por ser um projeto sem fins comerciais, o Mastodon não tem incentivos para manter o usuário conectado o tempo todo nem uma arquitetura que privilegia a viralização.

Isso significa que não há “toots que seus seguidores favoritaram” espalhados pela timeline. Em outras palavras, você só vê conteúdo de quem opta por seguir, em ordem cronológica inversa, como era o Twitter nos primórdios.

Outra ausência marcante é a de conteúdo patrocinado e, até o momento, de perfis de marcas e de empresas. Isso pode mudar se o Mastodon crescer em popularidade, mas, novamente, não há muitos incentivos ou facilidades para alguém entrar ali com o intuito de vender.

Na prática, tudo isso gera uma experiência mais comedida, “lenta” para os padrões das redes sociais comerciais. Leva tempo para se acostumar e, antes disso, pode parecer algo monótono, mas é, passado o período de adaptação, algo um tanto agradável e salutar.

Agradecimento especial ao @[email protected], que revisou esta matéria antes da publicação. Valeu!

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