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A ex-executiva da área de Integridade Cívica do Facebook Frances Haugen participou nesta terça-feira (5.jul.2022) de uma audiência pública das comissões de Legislação Participativa; e de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados. Participaram também a representante da Avaaz, Laura Moraes, e da Coalizão Direitos na Rede, Bia Barbosa. A Meta foi convidada, mas não enviou um representante para o evento.

Haugen, responsável por trazer à tona os documentos conhecidos como Facebook Papers no ano passado, está no Brasil conversando com jornalistas e organizações da sociedade civil sobre a importância de pressionar as big techs por mais transparência (ao Núcleo, falou sobre como a Meta impediu internet aberta de surgir no mundo).

"O Brasil é uma das democracias mais importantes do mundo e merece o mesmo nível de proteção nas eleições que os Estados Unidos recebeu em 2020", afirmou a cientista de dados.

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Haugen disse que o Facebook não prioriza o Brasil no combate à desinformação e que "o português brasileiro é um dos idiomas que não têm os sistemas básicos de segurança que deveria".

Confira os principais pontos abordados pela ex-funcionária da Meta durante a audiência:

Transparência

  • "O Facebook intencionalmente tem negado acesso às próprias informações. Eles não querem que o ecossistema de responsabilização funcione, não querem que pesquisadores acadêmicos entendam o que acontece na plataforma. Eles escondem todas as coisas importantes."
  • "Estamos bem no começo da nossa jornada em todo o mundo em termos de accountability (das redes sociais). O Brasil merece saber o quanto o Facebook está investindo em transparência."
  • "O Facebook não tem transparência em relação a quais sistemas de moderação de conteúdo existem e em quais idiomas. Eu sou muito cética de que há cobertura igual em inglês e em português brasileiro."
  • "O Brasil merece saber quanto esforço está sendo investido por parte do Facebook em moderação de conteúdo e segurança, e merece saber até que nível há equidade linguística entre inglês e português."

PL 2630/2020 - PL das Fake News

  • "Estou muito animada com uma perspectiva regulatória para o Brasil, especialmente em relação às obrigações de transparência nas plataformas."
  • Para Haugen, há alguns dispositivos falhos no texto do PL, mas a exigência de transparência das plataformas é essencial. Por isso, ela aconselhou a aprovação do PL, que considera "uma excelente oportunidade para o Brasil" avançar na legislação sobre redes sociais.
  • "Me preocupa ter um sistema de dois níveis, que deixe políticos impunes (à responsabilização por conteúdos em redes sociais), mas fora isso, estou entusiasmada".

Eleições brasileiras

  • Haugen afirmou que, durante as eleições norte-americanas de 2020, o Facebook adicionou diversas camadas de proteção contra desinformação na rede social, e que algo semelhante poderia ser feito no Brasil. Segundo ela, as medidas podem ser implementadas com facilidade, mas a empresa opta por não fazê-lo porque isso poderia diminuir seus lucros.
  • "Eles tinham 35 medidas para a eleição (dos Estados Unidos). Mas eles desligaram essas medidas depois das eleições."
  • "O Brasil merece o mesmo nível de investimento que houve nos Estados Unidos, ou ainda maior, já que o processo eleitoral brasileiro depende muito mais dos aplicativos da empresa do que o norte-americano."
  • "Quando eu trabalhava lá, tinham apenas 17 pessoas na empresa olhando para eleições. O Facebook não vai responder quantas dessas pessoas estão olhando para as eleições brasileiras, mas se tiver uma ou duas, eu ficaria surpresa."
  • "Ainda temos tempo antes das eleições para implementar muitas coisas para combater desinformação nas plataformas da Meta. Precisamos mobilizar o maior número de pessoas possíveis para pressionar por transparência."

Ações

  • Haugen citou medidas do Twitter (verificação de contas) e do WhatsApp (limite de compartilhamento de conteúdo) como exemplos e diz que o Facebook não implementa medidas para conter desinformação porque as alterações reduziriam o lucro da empresa.
  • Como disse em entrevista ao Núcleo na segunda-feira (4.jul.2022) , a cientista reafirmou que o zero-rating oferecido pelo Facebook foi por temer concorrência.
  • Haugen disse que o Facebook sabe de aproximadamente 100 mil contas com "comportamento inautêntico coordenado", "que convidam cerca de 100 novos amigos por dia", o que é um dos alertas para perfil robô.
  • "O Facebook sabe como reduzir os 'spammers', essas redes de influência, mas eles escolheram não fazer isso."

Reportagem Julianna Granjeia
Edição Laís Martins
MetaFacebookFacebookPapers
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