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Toda vez que há alguma grande variação diária no número de seguidores de políticos no Twitter, forma-se um grande debate sobre uso bots, perfis inautênticos ou censura. No entanto, dados de curto prazo podem mostrar apenas pequenas anomalias que tem poucos resultados caso suas tendências não se sustentem.
CONTEXTO. Na terça-feira (27.abr), foi chamada a atenção para um grande fluxo de novos seguidores no perfil de Jair Bolsonaro, quando ele teria ganho 88 mil seguidores em 24 horas, segundo o analista de dados Pedro Barciela. Desses, 58% teriam sido criados no mesmo dia, o que é um grande indício de bots e contas inautências.
No entanto, esse fluxo coincide exatamente com o anúncio da compra do Twitter por Elon Musk, na segunda-feira. Essa aquisição animou muitos atores da extrema-direita, receosos com punições de plataformas de Big Tech, considerando que Musk tem reclamado sobre as políticas atuais de moderação de conteúdo no Twitter.
COMO LER A SITUAÇÃO. Número de seguidores é um dado importante para análise de popularidade, mas diz muito pouco sobre engajamento – essa sim uma métrica bem mais relevante sobre autoridade e articulação.
O aumento de seguidores inautênticos pode ser encarado de duas formas:
- Uma campanha para lançar bots para bombar os números de um perfil, seja de seguidores ou engajamento – o que é preocupante;
- Uma anomalia pontual, por qualquer motivo que seja – o que não tem efeitos práticos relevantes.
Até agora, não há indícios de que haja uma campanha para bombar os números de Bolsonaro no Twitter. Para constatarmos isso, seria necessária uma observação de várias semanas ou meses (e não dias), na qual seriam constatados incrementos significativos de perfis com alta suspeita de serem inautênticos.
Se fosse observada uma alteração expressiva nos números do Bolsonaro, como por exemplo um aumento de 30% dos seguidores em 2 dias, haveria mais indícios de uma campanha coordenada.
No momento, até termos mais dados para uma análise melhor sobre existência e comportamento de bots, a melhor maneira de encarar esse crescimento de alguns perfis da direita é como uma anomalia pontual, desencadeada por qualquer motivo que seja.
Ao olharmos dados de um período mais longo, vemos que toda a comoção sobre número de seguidores na verdade tem pouca, ou nenhuma, consequência prática nesse momento.
O score de Bolsonaro no site Bot Sentinel, inclusive, não parece ter sido significativamente afetado por esse fluxo. Seu score, vale dizem, é ligeiramente maior do que o de Lula.
Vale a pena continuar monitorando, se esse fluxo for algo consistente, há motivos para preocupações sobre fair-play. Se for algo que acontece uma ou duas vezes, com esse volume, talvez seja apenas barulho.
O QUE DIZEM OS DADOS? Análise do Núcleo com dados do Monitor Nuclear mostram, por exemplo, que desde dezembro o perfil de Lula (@lulaoficial) ganhou proporcionalnente mais seguidores – 3,15%
em média de dez.2021 e abr.2022 – do que o de Jair Bolsonaro (@jairbolsonaro) – 1,5%
em média no mesmo período.