Relatório analisa comportamento de golpistas antes e após o 8.jan

Um relatório produzido por pesquisadores da UFBA e UFSC mostra uma linha do tempo que precedeu as invasões golpistas do dia 8.jan

Os dados analisados pelo relatório “Democracia Digital” indicam que a mobilização golpista que resultou no 8.jan.2023 começou a partir do dia 4.jan, englobando três frentes: invasão dos prédios de instituições, o bloqueio de refinarias e a manutenção dos acampamentos golpistas em frente aos quartéis do Exército.

O documento “Democracia Digital” é fruto de uma em parceria entre o Laboratório de Humanidades Digitais da UFBA e o Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais (PPGCS) da UFSC, com apoio do InternetLab e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

LINHA DO TEMPO. Para o relatório, os pesquisadores analisaram ao todo  592 mil mensagens em 228 grupos e 437 canais no Telegram, compartilhadas entre os dias 1 e 8.jan.2023. As descobertas formam uma linha do tempo que culminaram nos atos golpistas:

  • Entre 1 e 3.janeiro, os pesquisadores identificaram que a maioria das mensagens continha conspirações sobre a posse de Lula, inclusive colocando em dúvida que o evento do 1.jan.2023 não tinha acontecido.
  • A partir de 4.jan.2023, as convocações para Brasília e estratégias golpistas se intensificaram. Só no dia 4, foram compartilhadas ao menos 624 mensagens com referências à disponibilidade de caravanas para a capital.
  • Segundo o relatório, essa oferta atingiu seu ápice entre os dias 5, 6 e 7.janeiro, quando foram identificadas 3207 mensagens mencionando os termos "ônibus" ou "caravana". Ao todo, entre os dias 1.jan e 7.jan, os pesquisadores encontraram 3415 ocorrências.

OUTRAS MENÇÕES AO GOLPISMO. O relatório também aponta que entre 1 e 7.jan, os grupos também conduziram convocações a paralisações, com 1098 menções a expressão “greve geral”.

Integrantes desses mesmos grupos também passaram a usar expressões ou termos que pudessem despistar pesquisadores e jornalistas. No dia 4.jan.2023, mesmo dia que as convocações para Brasília se intensificaram, o relatório diz ter identificado a primeira menção ao termo “Festa da Selma”, reportado inicialmente pela Agência Pública, além de expressões como “receita de bolo” ou "fazer um bolo" com "açúcar união".

Segundo o relatório, os canais e grupos monitorados seguem privilegiando conteúdos menos identificáveis e estão cada vez mais cuidadosos com o uso das redes sociais. Mas até mesmo antes do 8.jan.2023, golpistas estariam orientando usuários a não mencionarem “Festa da Selma” nas redes.

Entre 1 e 8.jan.2023, os grupos e canais mencionaram ao menos 3,5 mil vezes as palavras “refinaria” ou “aeroportos”, e chegaram a compartilhar listas da Petrobrás com localizações das principais refinarias brasileiras para que fossem ocupadas em atos golpistas.

INFILTRADOS. Segundo o documento, os pesquisadores encontraram diversas acusações de que a violência do 8.jan teria vindo de “esquerdas infiltrados”. Isso, diz o relatório, é uma “prática comum, por parte da extrema-direita, de atribuir qualquer responsabilidade por atos violentos a supostos infiltrados”, como também aconteceu após a diplomação de Lula em 12.dez.2022.

Em 10 e 12 de janeiro, o Núcleo mostrou que os grupos e redes bolsonaristas estariam tentando unificar as narrativas, mas sem muito sucesso. A falsa teoria de que petistas infiltrados teriam causado a depredação das sedes dos três poderes ganhou tração, mas saiu do controle. Alguns grupos chegaram a divulgar ilegalmente telefones e nomes de “petralhas infiltrados”.

Edição Alexandre Orrico

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