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Em outubro, diversos veículos (principalmente dos Estados Unidos) criaram um canal no aplicativo Slack e debateram a melhor data para publicarem conteúdo dos chamados Facebook Papers, uma série de documentos e prints de tela de conversas na rede interna da rede social que mostram como a empresa sabia de vários problemas causados ou agravados por ela, e como investe pouco fora dos EUA para sanar esses problemas.

Essa iniciativa de criar um grupo de Slack foi chamada de "consórcio", mas de consórcio tem muito pouco. Definida a data do fim do embargo (até a qual ninguém pode publicar nada), nenhuma outra colaboração foi feita – o que difere de consórcios anteriores como aqueles organizados pelo ICIJ para o Pandora Papers ou o Panama Papers, entre outros.

Foi cada um para um lado.

Criou-se um clima de mineração de ouro no qual cada um vai atrás do seu para dar a melhor versão que imaginam e dane-se o resto. O resultado foi um dilúvio de reportagens que até fizeram um barulhinho inicial, mas ficaram tão difusas e repetidas que logo perderam força.

O acesso a veículos brasileiros (Folha, Estadão e Núcleo) a esse material não gerou nenhuma ação diferente – e nós aqui temos culpa nisso. Em vez de nos unirmos para produzir reportagens colaborativas e consequentes, que efetivamente colocariam o Facebook no seu lugar de responsabilidade por muito dos problemas online que temos, especialmente desinformação, nos isolamos para cada um num canto, cada um com sua ideia.  

Saíram boas reportagens de todos os veículos (que você pode ver aqui), mas foi tudo basicamente esforço individual.

Eu, particularmente, me sinto responsável por isso. Eu sei como Folha e Estadão trabalham – veículos que eu respeito, com jornalistas brilhantes, amigos meus, mas cuja marca não é necessariamente de colaboração com concorrentes (com exceções). Logo, sinto que eu deveria ter proposto uma iniciativa para tentar parceria com eles, o que eu não fiz.

O que eu fiz foi correr para ter a primeira matéria de uma publicação brasileira estampada com o chapéu Facebook Papers, o que de fato aconteceu. Sim, o Núcleo foi o primeiro a publicar, e isso não significa nada.


Somos um veículo orientado para impacto e informar o debate, não para publicar primeiro. Isso pra gente é "jornalismo velho", e eu caí na tentação superficial de ter algo antes, tal como fui treinado durante anos de trabalho em redações (e sei que é gostoso, admito).

Se o objetivo for publicar pretensos "furos" e alimentar nossa ânsia imediatista, continuemos fazendo o que estamos fazendo.

Agora, se o objetivo for causar impacto e fazer uma das maiores empresas do mundo prestar contas sobre os problemas que causa e amplifica, é preciso união – união para achar conteúdo, mas támbem para explicar a importância do assunto. Eu não sei o quão forte seria essa cobertura, mas sei que seria mais consequente do que temos agora.

É por isso que o Núcleo quer dar acesso aos documentos que tem do Facebook Papers para outras publicações brasileiras que solicitarem.

Quem quiser, chega mais pra falar com a gente, envie um email para: [email protected] (por favor inclua #FacebookPapers no assunto).

(Essa coluna é publicada às segundas-feiras, mas por conta do feriado de 15.nov, saiu excepcionalmente na terça-feira)

MídiaFacebookPapers
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