Um dos maiores trunfos da astronomia para conquistar o interesse de muitos além dos astrônomos é a profusão de imagens que esta ciência origina. Sejam fotografias por telescópios, na Terra ou no espaço, sejam radiotelescópios, ou ainda ilustrações feitas a partir dos dados que temos dos objetos e fenômenos.
Nem tudo que é divulgado é captado com o tipo de luz que a visão humana enxerga. Para a composição desta lacuna, temos instrumentos que captam a luz em diferentes frequências, pensados em imagens que representam as intensidades do brilho em cada faixa de frequência da região do céu.
"O interessante é que cada emissão dessas pode representar um processo físico em diferentes tipos de elementos químicos, permitindo medir, por exemplo, temperaturas e as quantidades desses elementos”, diz o astrônomo Ricardo Ogando, do Observatório Nacional, acrescentando que em geral as imagens em cada faixa de frequência são "preto e branca" e depois combinadas para obter “cores” (a partir da intensidade do brilho).
E em alguns casos, como nas ilustrações, isso é complementado com um pouco de imaginação de quem edita a imagem - mas em geral com bastante nexo com a realidade. "A maior parte das estrelas e exoplanetas são visíveis apenas como pontinhos luminosos mesmo para os maiores telescópios, por isso as ilustrações ajudam a visualização", explica ele.
Também há alternativas para pessoas cegas e deficientes visuais apreciarem as imagens astronômicas, como impressões 3D em que as partes mais brilhantes são mais altas na superfície, exemplifica Ricardo. Outra opção é a sonificação, que usa elementos como brilho e posição para transformar em som as imagens. A estes dados são associados tom e volume.
Sem mais delongas, o post de hoje também reúne algumas destas imagens que aparecem nas redes para nos encantar, intrigar, e às vezes nos fazer rir.
Nebulosa do Golfinho
Não é maluco pensar que demorou 4.530 anos para que a luz emitida pela Nebulosa do Golfinho aqui retratada atingisse o quintal do fotógrafo Robert Budd, onde fica seu telescópio? É tão bonita que parece montagem, mas em essência é uma fotografia mesmo. O Instagram de Budd traz outros trabalhos e detalhes técnicos.
Nebulosa da cárie?
A próxima imagem da seleção, também uma nebulosa, mostra o ponto mais frio no espaço, com a temperatura de apenas 1 kelvin (-272 °C).
O local fica na chamada Nebulosa do Bumerangue - embora eu goste mais do nome dado pelo Ricardo Ogando :-)
Acabei de batizar. Nebulosa da cárie 🦷 pic.twitter.com/8Imq5euGHp
— Ricardo Ogando (@rilogando) February 4, 2022
O gás frio não emite muita luz, mas os sensíveis detectores do observatório Alma, nos Andes Chilenos, conseguiram capturar esse brilho bem fraquinho em emissões de rádio, traduzidas em cores na imagem. Aqui podemos ver as antenas do observatório cumprindo sua missão no deserto, sob a Via Láctea.

Sprite em Júpiter
Esta ilustração meio fantasmagórica mostra como deve parecer o fenômeno conhecido como sprite, uma espécie de relâmpago que interage com gás, e que foi detectado pela sonda Juno na alta atmosfera de Júpiter. "Com o nome de um personagem travesso e perspicaz do folclore inglês, os sprites duram apenas alguns milissegundos", explica o site da Nasa.

Conhecemos os sprites na atmosfera terrestre. Mas aqui, a interação do raio com o nitrogênio dá ao fenômeno uma tonalidade avermelhada, como na imagem abaixo - esta sim, uma fotografia. Em Júpiter, a predominância de hidrogênio na atmosfera superior provavelmente faria ele aparecer na tonalidade azul, usada pelo artista.
#WeatherWednesday During a thunderstorm, above the clouds, you may catch a glimpse of a sprite. Sprites are high atmosphere electrical discharges that glow red due to cold plasma emission of nitrogen. This “jellyfish” sprite was taken over Kansas in June.
— Skyhawk Rocks (@SkyhawkRocks) September 2, 2020
Photo: Stephen Hummel pic.twitter.com/RhEcIeHHVQ
Marcas do Sol
Sabe quem nos traz umas imagens incríveis? Ele mesmo, nosso "próprio" Sol. Olha esse registro bem recente de erupções solares feito pelo satélite SDO, da Nasa.
Belo registro do Sol durante os dias 4 e 5 de fevereiro de 2022, feito pelo satélite SDO da NASA, várias erupções solares puderam ser observadas no limbo da nossa estrela!!! pic.twitter.com/PBqmUnFK5c
— Sacani (Space Today) (@SpaceToday1) February 6, 2022
Manchas solares podem originar imagens bem esquisitas, como essa a seguir. A imagem foi feita no Vacuum Tower Telescope (VTT), na ilha Canárias de Tenerife, Espanha.

Como curiosidade, Mancha Solar (Sunspot) também é o nome do primeiro personagem brasileiro da Marvel Comics. Quando está em sua vida cotidiana, ele é o Roberto Da Costa, que manifestou suas habilidades mutantes pela primeira vez num jogo de futebol. Sua história pode ser conferida aqui.
#actionfigure de Sunspot, o Herói Brasileiro da @Marvel criado por @TheRealStanLee, em sua forma energizada: #RIPStanLee pic.twitter.com/oEgOiF9Bar
— ๖ۣۜΛ 🍥 (@aly_hell) November 12, 2018
Nebulosa para escutar
A próxima imagem vem de uma nebulosa que se originou ao final da vida de uma estrela como o nosso Sol. Para ver e ouvir.
A magnífica sonificação de hoje é da nebulosa Olho de Gato, ou NGC 6543! 😺
— Observatório Nacional (@Obs_Nacional) February 4, 2022
NGC 6543 é uma nebulosa planetária que se formou a partir de uma estrela como o nosso Sol, quando ficou sem Hélio para queimar. pic.twitter.com/pW5gb8edmV
Matusalém
Contando com os dados reais que os astrofísicos conseguem captar, a imaginação dos ilustradores nos apresenta alguns dos exoplanetas - os planetas que ficam fora do nosso sistema solar.
Matusalém é o apelido do PSR B1620-26 b, exoplaneta que ganhou este nome por ter 12,7 bilhões de anos. Para você ter uma ideia do quão antigo ele é, lembre-se que o Universo surgiu há 13,8 bilhões de anos.

Diamante cósmico
Já o planeta PSR J1719-1438 b é composto por diamante. Isso mesmo, um planeta inteiro feito deste material precioso, obviamente não lapidado, orbitando um pulsar, como representado neste desenho.

Pulsar
E o que é pulsar mesmo? É uma estrela de nêutrons de forte campo magnético que, ao girar, produz um um efeito semelhante a um farol. Como explica Stephane Werner.
Já ouviram falar de pulsares?
— Stephane Werner (@stephanevw) June 8, 2020
Pulsares são um tipo de estrela de nêutrons com um campo magnético alto. Esse campo magnético faz com que a estrela emita luz pelos pólos.
Se esse feixe de luz passa pela gente, identificamos esse pulsar devido a esse "farol"!#AstroMiniBR pic.twitter.com/FKL8Lowbmf
Um outro exemplo de pulsar na Nebulosa do Caranguejo, em imagem produzida com diferentes tipos de dados. Este objeto dá admiráveis 30 voltas em torno de si mesmo por segundo.
Livin' La Vida Loca.
— Astronomia USP Brasil (@AstroUSP) November 9, 2019
O "dia" da estrela de nêutrons da nebulosa do caranguejo (o remanescente de uma explosão supernova) é de apenas 33 milisegundos, ou seja o pulsar gira 30 vezes por segundo!
Imagem usando dados de raios-X (Chandra), visível (Hubble) e infravermelho (Spitzer) pic.twitter.com/PnARukvBVD
E da próxima vez que você vir alguém usando uma camiseta com esta ilustração icônica, reproduzindo uma capa do álbum da banda inglesa Joy Division, já sabe que o que significa: as emissões de rádio do primeiro pulsar já descoberto. Por uma mulher! 💪👩
Essa imagem parece familiar? Pra quem gosta do disco Unknown Pleasures do Joy Division, a capa representa a emissão periódica de rádio do 1o pulsar, descoberto por Jocelyn Bell Burnell (1967).
— Thiago S Gonçalves (@thiagosgbr) January 27, 2021
Aqui, a imagem é de um pulsar descoberto pelo telescópio FAST (2017). #AstroMiniBR pic.twitter.com/8xZ6XmEBxG
não é a 1ª vez que são descobertas "ondas de rádio misteriosas" na Via Láctea!
— Sofia Fonseca (@sofia_fonsecao) October 15, 2021
em 1967, Jocelyn Bell detectou sinais nunca vistos antes e descobriu uma nova classe de objetos, os pulsares (estrelas de nêutrons com campo magnético mt forte que emitem jatos de luz)#AstroMiniBR pic.twitter.com/drE7fiTgGE
Via Láctea
Para encerrar, vamos a uma imagem diferente da nossa casa no Universo, destacada aqui pela Camila Esperança.
Astronomia ou Arte!? #Artstronomy
— Camila Esperança (@astronomacamila) January 28, 2022
Bem vindos ao coração da Via Láctea!
Essa imagem foi feita com os dados do @SKA_Africa, que é um telescópio que opera na faixa do rádio, e mostra a parte central da Viá Láctea em detalhes! #AstroMiniBR
© @astro_jcm ✨ pic.twitter.com/gWJbaYyVBJ