Metade da população mundial vive bem pertinho de algum oceano, nas regiões costeiras. E grande parte dessas pessoas depende dos oceanos até para se alimentar. Mas os oceanos interessam - ou deveriam interessar - muito além de quem está perto dele. Afinal, contribuem com a regulação climática do planeta, além de fornecerem, através de seus organismos, a maior parte do oxigênio que consumimos.
Falando em oceanos, assim no plural, você lembra quantos a Terra tem? Três? Cinco? Depende. Até hoje, ninguém pensou em construir um muro em cima da barreira de corais e nem pediu o passaporte da baleia que cruza a “fronteira” do Oceano Pacífico com o Atlântico. Então talvez faça mais sentido falar em um só, como mostra a projeção abaixo - também conhecido como “mapa-múndi segundo os peixes”.
Mais que isso, explica a oceanógrafa Adriana Lippi, “usar Oceano no singular para tratar do Oceano Global traz para o debate a ideia de interconexão do mundo e que a gestão das águas marinhas e oceânicas deve ser feita de forma colaborativa.”
A ideia foi encampada pela ONU, que elegeu essa como a década do oceano, para fortalecer a gestão do mar e da costa em benefício da humanidade.
A praia é nossa
Já que estamos falando de limites, você já tentou entrar numa praia e foi barrado pelo "dono" ou seus seguranças? Se sim, algo de errado não está certo aí. É que praia, no Brasil, não tem dono. Pelo menos não até agora, como explica o pessoal da Marulho.
Mas o Projeto de Lei 4444/21 propõe ceder até 10% da faixa de areia de cada município como "zona especial de uso turístico", locais onde poderiam ser construídos hotéis e parques privados, permitindo a restrição de acesso a pessoas não autorizadas.
E o problema não é só restringir o lazer de quem não pode pagar. "Zonas costeiras também são lugares de obtenção de alimento e fonte primária de renda, proteção contra inundação e erosão, e cada vez mais vamos precisar dessa proteção contra a crise climática, especialmente mangues e restingas". Veja em detalhes passando para o lado o carrossel abaixo.
Manguezais
O documentário "Mulheres das Águas" mostra justamente a importância desse ecossistema para as mulheres pescadoras e suas famílias. Elas buscam resistir à ameaça causada pela poluição industrial e pelo turismo predatório.
É possível agendar sessões online gratuitas com no mínimo 5 pessoas no site da Videocamp.
Areia
Da água muito se fala, mas você sabe como se forma a areia das praias? Não é só a mais conhecida erosão das rochas, não. A areia mais branquinha das praias havaianas, por exemplo, vem de um local inusitado, como mostra o vídeo.
Saber mais sobre a areia das praias vai muito além da mera curiosidade. É uma questão de conhecer a própria história do Planeta e da ocupação humana dele.
Show da vida marinha
Baleias e Big Macs
Os maiores seres vivos do mundo estão no oceano e, como era de se esperar, comem pra caramba. Alguém fez a conta: uma baleia como a baleia azul consome, em média, 10 a 20 toneladas de comida por dia. Uns 80 mil Big Macs.
A maior parte vem de enxames de krill, crustáceos semelhantes a camarões, que ela ingere filtrando a água com suas barbatanas, longas placas flexíveis de queratina.
Mas estão aí bocas que não queremos parar de alimentar. Recentemente os cientistas perceberam que o excremento de baleia contém altos níveis de ferro. E é possível que a caça em massa das baleias seja um dos responsáveis pela queda na população de, vejam só, krills.
"As plumas fecais das baleias espalham nutrientes perto da superfície do oceano, o que aumenta o crescimento do fitoplâncton, pequenas formas de vida no fundo da cadeia alimentar marinha, que são comidas pelo krill." (npr.org)
Corais com azia
Não tão populares, mas tão importantes quanto as baleias, são os corais. Mesmo sem mobilidade, os corais são animais - mais precisamente cnidários, assim como águas-vivas, caravelas-portuguesas e as anêmonas-do-mar - e vivem em colônias nos recifes.
Mas estamos causando uma espécie de gastrite nestes seres. Se não dermos um jeito, o problema logo vai voltar para a gente, como um belo refluxo: os corais são e essenciais para toda a cadeia da vida nos oceanos e, em última análise, do planeta.
O desequilíbrio gerado pelas emissões de carbono decorrentes das atividades humanas acaba nos oceanos, tanto com seu aquecimento quanto com sua acidificação, pelo excesso de CO2 que acaba dissolvido na água.
Em condições normais, os corais vivem em simbiose com microalgas chamadas zooxantelas, que fazem fotossíntese, gerando a maior parte da energia utilizada pelos corais, e de onde vêm sua coloração. Em troca, as algas recebem abrigo e produtos gerados pelo metabolismo do coral, especialmente os compostos nitrogenados.
Com a água mais quente e ácida, como mecanismo de defesa os corais expulsam as zooxantelas. Assim, perdem a cor (daí a expressão "branqueamento") e podem morrer pela falta de energia. Sem a proteção dos corais, por sua vez, morrem as zooxantelas deixando os seres que se alimentam delas sem comida, e nós todos sem a fotossíntese que elas realizam. Já deu para entender o tamanho do desequilíbrio que se instala a partir daí, né?
Alguns corais, em especial no Brasil, são mais resistentes a estas mudanças. Estes tem que ser ainda mais protegidos: certamente vamos precisar muito deles. Saiba mais:
Dori
Pode admitir, você também prefere a Dori ao Nemo. Então bora com o Peixe ao Quadrado entender um pouco mais do animal que deu origem ao personagem - e que ajuda até a preservar o meio ambiente. (Arraste as imagens para ver o carrossel)
Banho de peixe
Encerrando o post com a pergunta de milhões: peixes tomam banho? O Olhar Oceanográfico responde.