Ao que tudo indica, a covid veio para ficar. Semana passada, a Fiocruz Amazônia divulgou que a nova variante BQ.1, uma versão da conhecida Ômicron, passou a circular no Brasil e a notícia mobilizou as redes sociais.
De fato, especialistas e instituições de saúde já esperavam que isso acontecesse, pois já vinham dando esse alerta há semanas, como comentou o virologista Anderson Brito.
No último relatório do instituto @todospelasaude vimos que a taxa de positividade de testes para COVID vem crescendo há três semanas: indício de uma possível terceira onda.
— Anderson F. Brito (@AndersonBrito_) November 4, 2022
Vale o alerta: se você ainda não tomou as doses de reforço, esta é uma boa hora.https://t.co/x90BZNmtN0
Quem também falou sobre um aumento no número de casos positivos da doença foi o cientista de dados da Rede Análise, Isaac Schrarstzhaupt, que trouxe ainda outra problemática: como a falta de dados dificulta o rastreio precoce no país.
Os dados deram uma piorada na qualidade e mesmo assim deu pra ver indícios de aumento ainda em 23/10/22.
— Isaac Schrarstzhaupt (@schrarstzhaupt) November 4, 2022
Se tivéssemos ainda a pesquisa CTIS, provavelmente teríamos visto esse aumento no início de outubro.
O fio que fiz, tentando não alarmar, não teve quase alcance. 😔+ https://t.co/xN1dzwWf15
O que esperar da BQ.1?
Segundo o médico infectologista Francisco Moreno, países em que essa variante já estava circulando, como a França, mantiveram números baixos de hospitalização, mas é importante lembrar que a França tem uma alta cobertura vacinal, considerando os reforços com as vacinas contra a COVID-19.
Países com baixa cobertura vacinal podem sentir mais impactos da chegada dessa variante.
Francia el primer país en donde predomina BQ.1.1
— Dr Francisco Moreno Sánchez (@DrPacoMoreno1) October 28, 2022
La buena noticia es que han mantenido números bajos de hospitalizaciones.
La mala es que nosotros tenemos menos del 30% de la población con adecuados refuerzos, comparados con el 65% de los franceses.
¡Liberen las vacunas ya! pic.twitter.com/S9eoORY9u3
O diretor do Centro para Respostas a Epidemias e Inovação (CERI), Tulio de Oliveira, comentou que a onda provocada pelas versões da Ômicron BQ.1 e XBB (uma "recombinante" gerada por partes de duas versões da Ômicron) não tem causado muitos óbitos no mundo.
Good news on COVID-19 variants. The current sub-lineages BQ.1s & XBBs are not causing a deadly wave of infections in world. In South Africa, which many times see things early in Omicron evolution BQ1s & XBB low prevalence & no cause for great concern.
— Tulio de Oliveira (@Tuliodna) November 4, 2022
Essa mensagem foi reforçada pelo presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alberto Chebabo, em entrevista para a BBC News Brasil.
"O que vemos acontecendo na Europa é que desde que as pessoas tenham a dose de reforço, a BQ.1 supera a imunidade em relação à infecção, mas não causa casos graves", explica Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.https://t.co/78Jsq36y8Z
— BBC News Brasil (@bbcbrasil) November 7, 2022
Como se prevenir?
Segundo a epidemiologista e professora da UFES Ethel Maciel ainda temos poucos dados sobre esse vírus, mas a variante está se espalhando muito rápido, o que pode indicar um aumento em sua transmissibilidade.
Por isso, estar com a vacina em dia e usar máscara em locais fechados seguem sendo recomendações importantes na prevenção, principalmente para idosos e imunocomprometidos.
Rio de Janeiro confirma circulação da Ômicron BQ.1. A Fiocruz confirmou um caso dessa subvariante. Veremos uma nova onda da doença. A recomendação deve ser:
— Ethel Maciel, PhD (@EthelMaciel) November 6, 2022
✅colocar dose de reforço da vacina contra a Covid-19 em dia
✅imunocomprometidos e idosos usem máscara em locais fechados
Importante lembrar que as vacinas atuais seguem protegendo contra essa e outras variantes em circulação.
As vacinas ainda tem alta efetividade para casos graves. A vacina remodelada para a variante ômicron auxiliaria também na efetividade contra formas mais leves. Mas com as doses de reforço, nós estamos bem protegidos- o cuidado deve ser os + vulneráveis: idosos e imunossuprimidos
— Ethel Maciel, PhD (@EthelMaciel) November 6, 2022
Essa variante escapa mais das defesas do sistema imunológico? E as vacinas?
O médico e pesquisador Eric Topol trouxe boas notícias: mesmo vendo um escape imunológico significativo em experimentos de laboratório, não se observa isso "na prática".
Isso pode ser um grande indicativo de que as vacinas atuais seguem protegendo, principalmente contra a doença gerada por essa variante do vírus da COVID-19.
The BQ.1.1 variant's marked immune evasion in the lab is not playing out clinically to date. It is dominant (>50% of cases) in France and all signs are pointing in the opposite direction, towards improvement.
— Eric Topol (@EricTopol) November 3, 2022
We're not done with it yet, but this is good news, folks. pic.twitter.com/dKGmyXqK0c
Outro dado promissor compartilhado pelo professor do Departamento de Microbiologia da Icahn School of Medicine at Mount Sinai, Florian Krammer, mostra que os reforços atualizados (que tem como alvo a Ômicron) são capazes de induzir uma resposta ainda maior contra versões da Ômicron que estão em alta circulação, como a BA.2.75.2 e a BQ.1 (e BQ.1.1).
Now there is data suggesting the bivalent booster is inducing better responses to BA.2.75.2 and BQ.1.1. This is in contrast to earlier reports a few days ago. The difference may be caused by the assays used (pseudotype versus authentic virus). @SutharLab https://t.co/7stArOjROH pic.twitter.com/AfbInZn6mI
— Florian Krammer (@florian_krammer) November 2, 2022
No Brasil, duas vacinas atualizadas para a Ômicron estão em análise pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), mas ainda sem parecer.

E os tratamentos?
Os primeiros dados indicam que essas variantes são resistentes aos anticorpos monoclonais, usados como terapia em alguns locais do mundo (em circunstâncias específicas), como comentou o virologista Tom Peacock.
This is exemplified by the most recent batch of variants such as BA.2.75.2, XBB and BQ.1.1 showing resistance to nearly all approved mAbs. https://t.co/WaW5QUbRXFhttps://t.co/KBG1MG5l34
— Tom Peacock (@PeacockFlu) October 29, 2022
A epidemiologista Ethel Maciel destacou um ponto importante: não temos os medicamentos antivirais disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS), o que adiciona uma grande complexidade para o tratamento de casos mais graves de COVID-19.
Esses tipos de casos ainda podem acontecer nesse cenário, especialmente em pessoas não vacinadas (ou com o esquema incompleto) e pessoas mais vulneráveis.
- O que fazer para os vulneráveis?
— Ethel Maciel, PhD (@EthelMaciel) November 6, 2022
Precisamos ter os antivirais que funcionam e já foram a provados pela Anvisa, mas ainda NÃO ESTÃO DISPONÍVEIS NO SUS. Para essa nova onda, o Brasil precisa se preparar para proteger os mais vulneráveis com os tratamentos disponíveis no mundo.
Ao mesmo tempo, estamos vendo dificuldades em dar continuidade à vacinação no país, especialmente para a população pediátrica.
A jornalista de ciências Luiza Caires comentou sobre os riscos que bebês e crianças podem ter com a COVID-19, tanto durante a infecção, quanto após a recuperação.
A vacinação dessa população precisa avançar, pois os não vacinados sabidamente estão em maior risco para a doença provocada pelo vírus da COVID-19.
Ainda pode ter morte evitável aí.
— Luiza Caires - jornalista de ciências (@luizacaires3) November 7, 2022
De criança.
Ou sequelas
Por puro descaso, birra, negacionismo, desumanidade.
49% dos eleitores podem ter esquecido. Eu jamais esquecerei.
Vale lembrar que a COVID-19 está entre as principais causas de óbito de crianças e adolescentes de 0 a 19 anos nos Estados Unidos, como trouxe Alexandre Zavascki, médico infectologista.
Evito compartilhar preprints, mas este é muito importante e de um grupo absolutamente sério.
— Alexandre Zavascki (@azavascki) November 7, 2022
Covid-19 entre as principais causas de morte em crianças de 0-19a nos EUA.
E as vacinas para os pequenos aqui no Brasil?https://t.co/21dJgMoprL pic.twitter.com/QXE4lhySCl
O que fazer para não sermos pegos de surpresa?
Novas variantes seguirão surgindo, e iremos conviver com o vírus da COVID-19 por um tempo.
Por isso, a responsável da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a resposta contra a COVID-19, a epidemiologista Maria von Kerkhove, disse que o compartilhamento de dados e uma boa vigilância dessas versões do vírus é muito importante, assim como o investimento na área – para o vírus da COVID-19 e outros agentes infecciosos de relevância para a saúde pública global.
There is a lot of diversity in #Omicron right now, with >300 sublineages circulating. ~95% of those are BA.5 sublineages, ~20% of which are BQ.1 sublineages
— Maria Van Kerkhove (@mvankerkhove) November 3, 2022
We need better surveillance, sequencing & sharing of data so that rapid & robust analyses can be conducted regularly. https://t.co/Kr7lL6cSYr
Resumos da onda atual da BQ.1 que vale conferir
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