Ao que tudo indica, a covid veio para ficar. Semana passada, a Fiocruz Amazônia divulgou que a nova variante BQ.1, uma versão da conhecida Ômicron, passou a circular no Brasil e a notícia mobilizou as redes sociais.
De fato, especialistas e instituições de saúde já esperavam que isso acontecesse, pois já vinham dando esse alerta há semanas, como comentou o virologista Anderson Brito.
Quem também falou sobre um aumento no número de casos positivos da doença foi o cientista de dados da Rede Análise, Isaac Schrarstzhaupt, que trouxe ainda outra problemática: como a falta de dados dificulta o rastreio precoce no país.
O que esperar da BQ.1?
Segundo o médico infectologista Francisco Moreno, países em que essa variante já estava circulando, como a França, mantiveram números baixos de hospitalização, mas é importante lembrar que a França tem uma alta cobertura vacinal, considerando os reforços com as vacinas contra a COVID-19.
Países com baixa cobertura vacinal podem sentir mais impactos da chegada dessa variante.
O diretor do Centro para Respostas a Epidemias e Inovação (CERI), Tulio de Oliveira, comentou que a onda provocada pelas versões da Ômicron BQ.1 e XBB (uma "recombinante" gerada por partes de duas versões da Ômicron) não tem causado muitos óbitos no mundo.
Essa mensagem foi reforçada pelo presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alberto Chebabo, em entrevista para a BBC News Brasil.
Como se prevenir?
Segundo a epidemiologista e professora da UFES Ethel Maciel ainda temos poucos dados sobre esse vírus, mas a variante está se espalhando muito rápido, o que pode indicar um aumento em sua transmissibilidade.
Por isso, estar com a vacina em dia e usar máscara em locais fechados seguem sendo recomendações importantes na prevenção, principalmente para idosos e imunocomprometidos.
Rio de Janeiro confirma circulação da Ômicron BQ.1. A Fiocruz confirmou um caso dessa subvariante. Veremos uma nova onda da doença. A recomendação deve ser:
— Ethel Maciel, PhD (@EthelMaciel) November 6, 2022
✅colocar dose de reforço da vacina contra a Covid-19 em dia
✅imunocomprometidos e idosos usem máscara em locais fechados
Importante lembrar que as vacinas atuais seguem protegendo contra essa e outras variantes em circulação.
Essa variante escapa mais das defesas do sistema imunológico? E as vacinas?
O médico e pesquisador Eric Topol trouxe boas notícias: mesmo vendo um escape imunológico significativo em experimentos de laboratório, não se observa isso "na prática".
Isso pode ser um grande indicativo de que as vacinas atuais seguem protegendo, principalmente contra a doença gerada por essa variante do vírus da COVID-19.
Outro dado promissor compartilhado pelo professor do Departamento de Microbiologia da Icahn School of Medicine at Mount Sinai, Florian Krammer, mostra que os reforços atualizados (que tem como alvo a Ômicron) são capazes de induzir uma resposta ainda maior contra versões da Ômicron que estão em alta circulação, como a BA.2.75.2 e a BQ.1 (e BQ.1.1).
No Brasil, duas vacinas atualizadas para a Ômicron estão em análise pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), mas ainda sem parecer.
E os tratamentos?
Os primeiros dados indicam que essas variantes são resistentes aos anticorpos monoclonais, usados como terapia em alguns locais do mundo (em circunstâncias específicas), como comentou o virologista Tom Peacock.
A epidemiologista Ethel Maciel destacou um ponto importante: não temos os medicamentos antivirais disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS), o que adiciona uma grande complexidade para o tratamento de casos mais graves de COVID-19.
Esses tipos de casos ainda podem acontecer nesse cenário, especialmente em pessoas não vacinadas (ou com o esquema incompleto) e pessoas mais vulneráveis.
Ao mesmo tempo, estamos vendo dificuldades em dar continuidade à vacinação no país, especialmente para a população pediátrica.
A jornalista de ciências Luiza Caires comentou sobre os riscos que bebês e crianças podem ter com a COVID-19, tanto durante a infecção, quanto após a recuperação.
A vacinação dessa população precisa avançar, pois os não vacinados sabidamente estão em maior risco para a doença provocada pelo vírus da COVID-19.
Vale lembrar que a COVID-19 está entre as principais causas de óbito de crianças e adolescentes de 0 a 19 anos nos Estados Unidos, como trouxe Alexandre Zavascki, médico infectologista.
O que fazer para não sermos pegos de surpresa?
Novas variantes seguirão surgindo, e iremos conviver com o vírus da COVID-19 por um tempo.
Por isso, a responsável da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a resposta contra a COVID-19, a epidemiologista Maria von Kerkhove, disse que o compartilhamento de dados e uma boa vigilância dessas versões do vírus é muito importante, assim como o investimento na área – para o vírus da COVID-19 e outros agentes infecciosos de relevância para a saúde pública global.