A China voltou a ganhar destaque nas redes após o fim da sua política "Covid zero''. Com dados que não refletem completamente a realidade epidemiológica, o país agora observa o rápido aumento do número de casos de Covid-19, encara talvez uma das maiores ondas da doença e assombra o Ocidente.
Algumas projeções estimam que até um milhão de pessoas podem morrer nos próximos meses devido às novas infecções.
🇨🇳 Estudo prevê quase 1 milhão de mortes na China com o fim da Covid zero https://t.co/3UOcVlgpJ8
— Jeff Nascimento (@jnascim) December 19, 2022
Vídeos que mostram o reflexo trágico dessa onda de novos casos, com o acúmulo de pacientes e corpos em hospitais chineses estão rodando bastante nas redes. E a situação fica ainda mais preocupante pela falta de divulgação nos dados de óbitos por COVID-19.
Vídeo gravado na China mostra acúmulo de corpos em hospital após derrubada da política de "covid zero". Serviços funerários estariam colapsando no interior do país. Repórteres da AP viram filas em casas funerárias em Pequim. No entanto, governo não divulga óbitos há 19 dias. pic.twitter.com/fkq8Ybzdmd
— Renato Souza (@reporterenato) December 19, 2022
Today, the farewell room of a funeral home in #Xinxiang city, #Henan Province, #CCPChina. A new row of refrigerated cabinets was added, but still not enough to hold all the bodies. Never happened before.#ZeroCOVIDpolicy #COVID19 #CCPVirus #COVID #ZeroCovid #XiJinping #CCP #China pic.twitter.com/7JX85l2zK0
— Jennifer Zeng 曾錚 (@jenniferzeng97) December 19, 2022
Com uma onda surpreendente de novas infecções pelo vírus SARS-CoV-2, o fim abrupto das restrições testa a capacidade de resposta chinesa.
Muitos especialistas, como Peter Hotez, apontaram que a ampla circulação do vírus em uma população não vacinada ou com o esquema incompleto de vacinação (e aqui podemos incluir a baixa cobertura vacinal para os reforços das vacinas) pode propiciar o surgimento de novas variantes.
Possibly, the unchecked spread of Covid among a large unvaccinated or under-vaccinated population in China could do this (promote new variants). Similar to the emergence of delta among an unvaccinated population in India in early 2021 https://t.co/a2bNufgH2Y
— Prof Peter Hotez MD PhD (@PeterHotez) December 19, 2022
De zero a 1 milhão
Assim como em 2020, agora um dos fatores determinantes para esse rápido aumento de novos casos pode ser o elevado número de hospitalizações, que acabam gerando uma grande sobrecarga no sistema de saúde.
Além do número de mortes diretamente ocasionadas pela Covid-19, é preciso contabilizar o excesso de óbitos por conta do atraso no início do tratamento do paciente contaminado.
No entanto, como já sabemos, existem medidas que podem ser tomadas para evitar essa desastrosa estimativa.
Segundo artigo publicado na revista Nature, a oferta e a adesão da quarta dose da vacina (com vacinas diferentes das que usam a tecnologia de vírus inativado) , juntamente do uso de medidas não farmacológicas, como as máscaras e a imposição de restrições temporárias podem reduzir esse valor, aliviando também o número de internações hospitalares.
China COVID wave could kill one million people, models predict https://t.co/7KHt09QznG
— nature (@Nature) December 19, 2022
Além disso, a administração de medicamentos com eficácia comprovada para a Covid-19 em pacientes mais idosos podem somar uma redução em 35% no número de óbitos, segundo as estimativas.
A ampliação da adesão à quarta dose, especialmente da população mais idosa, é peça chave para frear a onda atual.
Porém, não é o que vem acontecendo na China. Segundo o artigo da Nature, "dos mais de 260 milhões de chineses com mais de 60 anos, apenas 70% com 60 anos ou mais e apenas 40% com 80 anos ou mais receberam uma terceira dose".
Uma reportagem da BBC explica a dificuldade de vacinar idosos na China e a resistência a vacinas ocidentais.https://t.co/Sr6vE93ovN
— Renato Souza (@reporterenato) December 19, 2022
O cientista de dados e divulgador científico da Rede Análise, Isaac Schrarstzhaupt, reforça a importância da cobertura vacinal.
Muita gente me mandando a situação da China.
— Isaac Schrarstzhaupt (@schrarstzhaupt) December 19, 2022
Infelizmente não fico surpreso. Fico triste.
Falei muitas vezes que com a quantidade de pessoas de lá uma circulação mínima de vírus ia causar um estrago gigante.
A cobertura vacinal de doses de reforço divulgada é de apenas 57%. +
Outros especialistas também concordam que a situação de baixa cobertura vacinal chinesa é um importante gatilho para a piora estimada do cenário atual nos próximos meses.
I think the massive COVID-19 epidemic in China is really quite worrying. A confluence of really bad factors:
— Health Nerd (@GidMK) December 20, 2022
- low vaccine uptake in older people
- no existing immunity
- long time since vaccine rollout
- very low booster rates
A política "zero Covid"
O cenário chines não só coloca em xeque a política “zero Covid” como deixa claro que a pandemia da Covid-19 não acabou.
A BBC explicou que a política "zero COVID" consiste em uma série de restrições para evitar o máximo possível casos de Covid-19 na população, incluindo:
- Bloqueios rígidos impostos pelas autoridades locais - mesmo que apenas alguns casos de Covid sejam encontrados;
- Testes em massa em locais onde foram relatados novos casos;
- Isolamento e quarentena de infectados em casa ou em instalações governamentais;
- Fechamento de empresas e escolas em áreas de bloqueio;
- Fechamento de lojas - exceto aquelas que vendem alimentos;
- Bloqueios até que nenhuma nova infecção seja relatada.
Para entender um pouco mais sobre a política decisória chinesa, Isis Maia e Diego Pautasso publicaram uma série de fios no Twitter, apontando os marcos alcançados por essa estratégia no enfrentamento da pandemia da Covid-19.
No caso da política para enfrentar a Pandemia, esta vem sendo modulada conforme as ondas de contágio e as diferenças regionais. A política de COVID 0 é exitosa não apenas por ter evitado 4,2 milhões de mortes (tomando a taxa dos EUA) e ter evitado o colapso do sistema hospitalar.
— Isis Paris Maia (@IsisMaia) December 4, 2022
Porém, se durante os primeiros anos de pandemia, essas medidas foram aceitas pela população, a longo prazo políticas restritivas rigorosas como essas, sem um plano de início e fim estabelecido e transparente para sua população, causam exaustão.
1/
— Nathan Law 羅冠聰 (@nathanlawkc) December 15, 2022
I am still shocked at the 180-degree turn of China's COVID policy, from extreme control under "zero COVID" to absolute wild open. Clips & News recently showed that China's medical and pharmaceutical systems could not cope with such a quick change.https://t.co/AKxoaS7zuG
O divulgador científico Atila Iamarino comenta sobre os erros e acertos dessa estratégia “zero Covid” e o que podemos ver daqui para frente.
Na coluna de hoje, falo sobre o fim da COVID zero na China, a validade dessa política até aqui e o que podemos esperar com o fim dela. No @XadrezVerbal especial vou entrar em mais detalhes. https://t.co/lLEysPO4Tl
— Atila Iamarino (@oatila) December 15, 2022
O atual cenário chinês deixa evidente que novas ondas de grande impacto podem ser vistas em uma sociedade com baixas coberturas vacinais e que não tenha um rastreio adequado de novos casos com respostas prontas para serem implementadas, evitando, assim, cenários ainda piores.