De zero a 1 milhão: pesquisadores detalham nova onda de Covid na China

Imagens de pacientes e corpos de infectados em hospitais chineses estão rodando nas redes. Divulgadores científicos no Brasil reforçam a importância da cobertura vacinal e de medidas preventivas

A China voltou a ganhar destaque nas redes após o fim da sua política "Covid zero''. Com dados que não refletem completamente a realidade epidemiológica, o país agora observa o rápido aumento do número de casos de Covid-19, encara talvez uma das maiores ondas da doença e assombra o Ocidente.

Algumas projeções estimam que até um milhão de pessoas podem morrer nos próximos meses devido às novas infecções.

Vídeos que mostram o reflexo trágico dessa onda de novos casos, com o acúmulo de pacientes e corpos em hospitais chineses estão rodando bastante nas redes. E a situação fica ainda mais preocupante pela falta de divulgação nos dados de óbitos por COVID-19.

Com uma onda surpreendente de novas infecções pelo vírus SARS-CoV-2, o fim abrupto das restrições testa a capacidade de resposta chinesa.

Muitos especialistas, como Peter Hotez, apontaram que a ampla circulação do vírus em uma população não vacinada ou com o esquema incompleto de vacinação (e aqui podemos incluir a baixa cobertura vacinal para os reforços das vacinas) pode propiciar o surgimento de novas variantes.

De zero a 1 milhão

Assim como em 2020, agora um dos fatores determinantes para esse rápido aumento de novos casos pode ser o elevado número de hospitalizações, que acabam gerando uma grande sobrecarga no sistema de saúde.

Além do número de mortes diretamente ocasionadas pela Covid-19, é preciso contabilizar o excesso de óbitos por conta do atraso no início do tratamento do paciente contaminado.

No entanto, como já sabemos, existem medidas que podem ser tomadas para evitar essa desastrosa estimativa.

Segundo artigo publicado na revista Nature, a oferta e a adesão da quarta dose da vacina (com vacinas diferentes das que usam a tecnologia de vírus inativado) , juntamente do uso de medidas não farmacológicas, como as máscaras e a imposição de restrições temporárias podem reduzir esse valor, aliviando também o número de internações hospitalares.

Além disso, a administração de medicamentos com eficácia comprovada para a Covid-19 em pacientes mais idosos podem somar uma redução em 35% no número de óbitos, segundo as estimativas.

A ampliação da adesão à quarta dose, especialmente da população mais idosa, é peça chave para frear a onda atual.

Porém, não é o que vem acontecendo na China. Segundo o artigo da Nature, "dos mais de 260 milhões de chineses com mais de 60 anos, apenas 70% com 60 anos ou mais e apenas 40% com 80 anos ou mais receberam uma terceira dose".

O cientista de dados e divulgador científico da Rede Análise, Isaac Schrarstzhaupt, reforça a importância da cobertura vacinal.

Outros especialistas também concordam que a situação de baixa cobertura vacinal chinesa é um importante gatilho para a piora estimada do cenário atual nos próximos meses.

A política "zero Covid"

O cenário chines não só coloca em xeque a política “zero Covid” como deixa claro que a pandemia da Covid-19 não acabou.

A BBC explicou que a política "zero COVID" consiste em uma série de restrições para evitar o máximo possível casos de Covid-19 na população, incluindo:

  • Bloqueios rígidos impostos pelas autoridades locais - mesmo que apenas alguns casos de Covid sejam encontrados;
  • Testes em massa em locais onde foram relatados novos casos;
  • Isolamento e quarentena de infectados em casa ou em instalações governamentais;
  • Fechamento de empresas e escolas em áreas de bloqueio;
  • Fechamento de lojas - exceto aquelas que vendem alimentos;
  • Bloqueios até que nenhuma nova infecção seja relatada.

Para entender um pouco mais sobre a política decisória chinesa, Isis Maia e Diego Pautasso publicaram uma série de fios  no Twitter, apontando os marcos alcançados por essa estratégia no enfrentamento da pandemia da Covid-19.

Porém, se durante os primeiros anos de pandemia, essas medidas foram aceitas pela população, a longo prazo políticas restritivas rigorosas como essas, sem um plano de início e fim estabelecido e transparente para sua população, causam exaustão.

O divulgador científico Atila Iamarino comenta sobre os erros e acertos dessa estratégia “zero Covid” e o que podemos ver daqui para frente.

O atual cenário chinês deixa evidente que novas ondas de grande impacto podem ser vistas em uma sociedade com baixas coberturas vacinais e que não tenha um rastreio adequado de novos casos com respostas prontas para serem implementadas, evitando, assim, cenários ainda piores.

Edição Samira Menezes

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