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Quando veio a público a primeira investida de Elon Musk sobre o Twitter, muitos usuários da rede social fizeram piada sobre potenciais mudanças no funcionamento da rede social. Quando ele desistiu de um assento no Conselho de Administração (que limitava sua participação a 14,9%), as brincadeiras viraram preocupação e depois que ficou claro que ele queria comprar a plataforma, muitos já pensaram em abandoná-la.
Agora que o homem mais rico do mundo selou sua aquisição, muitos se perguntam: o que vai acontecer com o Twitter?
Embora seja impossível dizer com certeza o que virá pela frente, para entendemos o que pode acontecer com o Twitter, precisamos primeiro tratar dos dois pontos principais de preocupação:
- Interferência de Musk nas funcionalidades da plataforma.
- Tolerância demasiada com o que pode ser publicado lá, no estilo "liberdade de expressão é poder falar qualquer coisa em qualquer situação", que a extrema-direta tanto prega.
Uma leitura atenta do feed de Twitter de Musk nos apresenta, principalmente, para uma visão do Twitter como produto. É a questão na qual é possível ter mais clareza nesse momento. A visão de Twitter como praça pública aparece mais recentemente, mas de forma bem mais ampla e genérica.
Musk não é um sujeito que compra empresas para mantê-las como estão, isso é uma certeza. Ele certamente vai imprimir sua própria visão para o Twitter, seja de liberdade de expressão, negócios, funcionalidades ou cultura corporativa.
Musk insistiu na Tesla mesmo quando muitos duvidavam e levou a empresa a ser pioneira no segmento de carros elétricos, inclusive com viabilidade financeira. Com a SpaceX, cujo objetivo é ainda mais ambicioso do que era o da Tesla (afinal, viagem comercial ao espaço não é o mesmo do que um carro bacana), o caminho segue a mesma direção, com a empresa apresentando tanto viabilidade econômica quanto de produto.
1. PRODUTO, RECURSOS E FUNCIONALIDADES
O bilionário já deixou claras algumas das coisas que quer na plataforma. Em funcionalidades, são coisas como botão de editar tweets (no qual o Twitter já estava trabalhando) e banir engajamento artificial via bots ou spam (especialmente com golpes de criptomoedas), com autenticação de "todos os humanos reais".
Ele também disse acreditar que "já passou da hora" de o Twitter ter um formato longform, ou seja, que permita posts mais longos.
No Brasil, tal autenticação só seria possível via fornecimento de alguma identificação como RG ou CPF, tal como se cadastrar em algum serviço digital que exija essas credenciais. Essa ideia não é nova para redes sociais, mas tampouco é comum.
Em questão de cultura corporativa, ele mostrou interesse em abertura de códigos e processos pouquíssimo comuns no setor. No fim de março, chegou a fazer uma enquete, com mais de 1 milhão de votos, perguntando se o código do Twitter deveria ser aberto.
Essa transparência é algo que, diferentemente de suas outras empresas, ele poderia seguir em frente, até porque se declarou "preocupado" com a possibilidade de o algoritmo do Twitter ter "um grande efeito" no discurso público.
Não há indicativos ainda de que ele fará isso, até porque não há apenas um algoritmo, e sim vários, o que implicaria em um intricado processo de publicação e validação técnica de segurança. Esse tipo de iniciativa, no entanto, seria praticamente inédita dentre as Big Techs.
Ahhh, e ele certamente não gostou dos experimentos do Twitter com NFT nem ficou fascinado com o modo noturno da rede social.
2. LIBERDADE DE EXPRESSÃO
É notório e conhecido que Musk não gosta da direção que o Twitter está quando o assunto é liberdade de expressão. Ele já tuitou sobre isso várias vezes, e muitas dessas vezes seu discurso coincide com o da extrema-direita – daí a preocupação.
Não é à toa que políticos da direita, inclusive no Brasil, estão animados com a perspectiva da entrada de Musk na plataforma.
Em vários posts recentes Musk deixa bem claro sua defesa da liberdade de expressão – algo que qualquer ser humano respeitável vivendo numa democracia quer–, mas em nenhum ele é devidamente específico sobre o que isso poderia acarretar – o que torna essa talvez seja a maior incógnita neste momento sobre o futuro do Twitter.
Por exemplo, discurso de ódio será permitido ou relativizado? Retórica antidemocrática? Incitação à violência? Não dá pra saber ainda.
Musk já deixou claro, por exemplo, que é a favor de vacinas em geral e "especificamente vacinas de covid". Ele deu uma entrevista na qual disse que não tomaria o imunizante, mas depois soube-se que ele de fato tomou. Em 2020 ele minimizou a gravidade da pandemia (assim como muita gente à época), mas agora a Tesla fabrica impressoras de moléculas para vacinas.
No campo político, ele não apoia declaradamente Donald Trump ou políticos de direita, como se pressupõe dada sua proximidade de discurso de liberdade de expressão a qualquer custo. Musk diz que prefere "ficar fora" da política.
No entanto, é fácil identificar seu desprezo pelo atual presidente Joe Biden.
Aparentemente nem uma guerra em território europeu é suficiente para convencer Musk de cortar acesso à propaganda militar russa sobre a guerra na Ucrânia. Segundo Musk, sua empresa de telefonia por satélite Starlink foi solicitada a bloquear fontes de notícia da Rússia, algo que ele disse não fazer "exceto sob a mira de uma arma".
Támbém não está perfeitamente clara a posição dele sobre apagar ou colocar rótulos em conteúdo desinformativo. Em seus tweets, ele utilizou os termos "desinformação" e "fake news" apenas uma vez cada (aqui e aqui).
Há bastante especulação por aí de que ele reativaria o perfil de Donald Trump, banido da rede social em 2021 por incitar a invasão do Congresso norte-americano em 6.jan do mesmo ano. É algo razoável de se especular dada sua retórica de liberdade de expressão certamente siga nessa linha, mas ainda se trata de especulação nesse momento, ele não disse nada a respeito.
Seja como for, a entrada de Musk no Twitter deve gerar muitas mudanças no Twitter, especialmente do lado de recursos e funcionalidades. Agora, se nazistas e negacionistas encontrarão um terreno fértil por lá, isso não está claro.
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Por Sérgio Spagnuolo
Colaboração Laís Martins
Edição Alexandre Orrico
Texto atualizado às 18h27 de 25.abr.2021 para incluir trech sobre especulação sobre volta de Donald Trump ao Twitter.