Sem espaço para influenciadores, BeReal propõe simplicidade

Rede social se sustenta em posts desinteressantes e apela para usuários saudosos dos primórdios do Instagram
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A BeReal surgiu com o discurso de ser uma anti-rede social. A ideia, segundo a empresa, é fazer as pessoas se sentirem bem com a vida delas. Ou seja, evitar a glamourização incentivada no Instagram, a ansiedade intencionalmente provocada pelo Facebook e o ódio destilado no Twitter.

No app só é possível postar uma foto uma vez ao dia e em um horário determinado aleatoriamente pelo aplicativo, que avisa o momento certo para isso por meio de uma notificação.

O registro é então feito ao mesmo tempo pela câmera traseira e frontal do celular, tendo como resultado uma foto da visão do usuário e uma selfie com sua expressão enquanto fotografa. É necessário postar para ver as atualizações alheias.

É possível publicar tardiamente – nesse caso seu post ganha um selo dizendo que a pessoa compartilhou a foto com atraso.

Por ora, o BeReal parece entregar sua promessa, mantendo um feed ordinário e lento.

As fotos postadas são do trânsito, do sofá, da mesa de trabalho. As mais ousadas chegam até o espelho da academia, um peitoral, uma paisagem, um prato ou um pet. A princípio, nada parece ir muito além disso.

Outro aspecto que de fato diferencia a rede de suas antecessoras é o fato de não haver perfis públicos para seguir, filtros de fotos, contagem de seguidores ou likes – o que dificulta a proliferação de influenciadores.

É possível, no entanto, fazer comentários nos outros posts, ou reagir com o que foi batizado de RealMoji, que consiste em usar a própria cara para manifestar uma expressão – algo parecido figurinhas personalizadas de WhatsApp.

Em comum com outras redes, está o fato de o app trazer dois feeds: o de amigos próximos e o de quem decide postar o cotidiano publicamente. Considerando o conteúdo morno, a única diferença entre as duas timelines parece ser entre ver conhecidos e estranhos.

Outro apelo da BeReal já testado por aplicativos anteriormente, como o Wordle, é o de fomentar uma comunidade que posta (mais ou menos) ao mesmo tempo.

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Avec elégance

Embora só agora esteja crescendo em popularidade, o BeReal foi criado há dois anos pelo francês Alexis Barreyat, que antes era um produtor de vídeo na GoPro. Em 2021, a empresa recebeu um aporte de US$30 milhões liderado pela Andreessen Horowitz, um dos principais fundos de venture capital do mundo.

A demora é comum: o Facebook demorou alguns anos para se tornar uma potência e uma primeira versão do TikTok é de 2016, embora tenha se tornado realmente popular em 2019.

No fim de jul.2022, o BeReal foi o principal aplicativo gratuito baixado na App Store nos Estados Unidos, segundo dados da Apptopia. Na França, seu país de origem e onde primeiramente viralizou, é o 40º.

No Brasil, reconhecidamente um terreno fértil para redes sociais, por ora, não consta sequer entre os 50 mais populares, mas continua ganhando usuários mesmo que a ritmo lento.

O crescimento foi atribuído ao boca a boca entre a geração Z, principal público do BeReal.

Outra parte expressiva desse recente impulsionamento se deu, ironicamente, a outras redes: TikTokers elogiaram o BeReal, levando seguidores para o app. No Twitter, propagaram piadas sobre a instantaneidade do app, com simulações de posts que poderiam ter sido feitos por Margareth Thatcher, Elon Musk ou Nicole Kidman.  

Mais dados sobre downloads do BeReal

Considerando apenas redes sociais, é o décimo aplicativo mais baixado na loja da Apple. No Google Play, o app não é relevante. Dados da Sensor Tower estimam o total de downloads até agora em mais de 20 milhões mundialmente.

O crescimento começou em abril deste ano. Naquele mês, a empresa Apptopia, voltada para a inteligência do mercado de aplicativos, publicou que o número de downloads do app havia aumentado 300% no ano. 

Um levantamento publicado no mês seguinte no Statista, referência em compilar dados sobre redes sociais, mostrou que o BeReal já havia sido baixado, até então, por 2,7 milhões de pessoas nos Estados Unidos. A quantidade já fazia dele um dos apps mais baixados no país, excluindo games. 

O ranking de audiência era seguido pela França, que somava 1,6 milhão de downloads. O Brasil aparecia em décimo lugar, com pouco mais de 160 mil usuários. 

Toda realidade tem limite

Alguns brasileiros que falaram ao Núcleo sobre a experiência no BeReal disseram que ficaram conhecendo a rede pelo TikTok ou pelo YouTube.

"Vamos ver se volta aos primórdios do Instagram", comentou o publicitário Marcos Góes. "De alguma forma, ser um único registro torna o momento mais especial do que os do Insta, que banalizou tudo. Ontem mesmo postei que estava na academia, coisa mais aleatória da vida."

No geral, os usuários ressaltaram, como ponto negativo, o baixo público e engajamento. "A falta de integração não gera muito interesse. Saber que vão ter sempre as mesmas poucas pessoas", comentou Bianca dal Pont, comunicóloga.

Outra crítica bastante feita ao app, mais pragmática, é a de que ele trava, seja para tirar foto na hora certa, seja para ver as atualizações.

O jornalista Casey Newton, criador da newsletter Platformer, também dedicado a redes sociais, atribui o recente sucesso do BeReal a uma nostalgia dos primórdios das redes, somada à aversão à ansiedade que hoje elas criam. O resultado seria a busca por uma rede mais simples. Soma-se a isso o apelo de ser um early adopter (aquele que chega antes às tendências).

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Para Molly Roberts, editorialista do Washington Post, o nome do app é na verdade uma instrução: seja real, não roube no jogo. Mas a curadoria da vida é inevitável, ela conclui.

Com breve tempo de uso, percebem-se algumas concessões sobre rigidez programada do app, acenando para uma geração já educada (e viciada) em redes sociais.

É perfeitamente possível postar um BeReal com 20 horas de atraso – afinal, nem todo mundo vê a notificação no momento exato, nem está onde gostaria de estar para um registro tão infrequente. É também permitido fazer inúmeras tentativas da sua única foto diária – tampouco todo mundo sai bem na primeira selfie.

As previsões são de que, caso o BeReal siga crescendo, outras concessões sejam feitas para sustentar sua audiência. Em qualquer um dos dois casos, haverá sempre um público inatingível para o BeReal. "E eu lá quero notificação para postar foto", disse uma usuária realmente anti-rede social.

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Como fizemos isso

O Núcleo baixou o BeReal e navegou pela rede social por uma semana. Também entrou em contato com usuários brasileiros do aplicativo que se manifestaram no Twitter, para entender como estavam usando o BeReal e o que achavam. Os dados foram retirados de plataformas que monitoram as redes sociais e disponibilizam alguns números gratuitamente, caso da Apptopia e Statista.

Reportagem Beatriz Montesanti
Edição Sérgio Spagnuolo

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