Parlamentares conservadores inundam redes da Meta com anúncios antiaborto

Desde 17 de maio, quando o projeto de lei que equipara o aborto ao crime de homicídio foi entregue na Câmara, mais de 220 anúncios que mencionam o direito reprodutivo foram veiculados nas plataformas da Meta.
Parlamentares conservadores inundam redes da Meta com anúncios antiaborto
Arte: Rodolfo Almeida
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Nos últimos seis meses foram veiculados nas redes da Meta cerca de 900 propagandas em português mencionando a palavra-chave “aborto”, segundo dados da biblioteca de anúncios da empresa, na categoria “Temas, Eleições ou Política”.

O público-alvo dessas propagandas veiculadas no Face e no Insta quase sempre são mulheres e muitas delas são promovidas por parlamentares conservadores e/ou religiosos.

Desse total, 220 foram veiculadas entre 17.mai, dia em que o PL 1.904/24 foi apresentado na Câmara, e 7.jun. E cerca de 86 foram publicadas na primeira semana de junho, quando foi especulado que o projeto de lei poderia ser colocado para votação urgente no plenário.

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O aborto voltou a ser tópico de grandes discussões nas redes sociais brasileiras esta semana por conta do PL 1.904/2024, apresentado na Câmara por deputados da oposição, que visa equiparar o aborto ao crime de homicídio e criminalizar o procedimento também em casos de estupro.

Dos 220 anúncios veiculados desde 17.mai, 218 contém retórica conservadora e/ou religiosa, de acordo com análise do Núcleo.

Uma das mais recentes propagandas, veiculada em 6 de junho, foi publicada pelo vereador Ricardinho Netuno (Republicanos-RJ) e espalha desinformação ao afirmar que o governo Lula autorizou o aborto em casos de estupro até 9 meses de gestação.

A propaganda paga pelo vereador continua no ar até a publicação deste texto. A maioria do público que viu o anúncio do Instagram até agora é composta por mulheres de 18 a 24 anos.

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Um milhão de views

Netuno não é o único servidor público que pagou por anúncios na Meta para propagar discursos religiosos ou conservadores contra o aborto. Deputados federais e estaduais, além de senadores e outros vereadores, também o fizeram.

No entanto, apenas dois perfis conseguiram mais de 1 milhão de impressões (o equivalente a visualizações) em cada uma de suas propagandas: a produtora conservadora Brasil Paralelo e o senador Ciro Nogueira (PP-PI).

A Brasil Paralelo veiculou 136 anúncios diferentes contra o aborto.

Líder em gastos com anúncios na Meta por muitos anos consecutivos até perder o posto para a Ambev, a produtora Brasil Paralelo veiculou ao menos 136 propagandas contra o aborto entre dezembro de 2023 e março de 2024.

  • Essas campanhas atingiram mais de um milhão de usuários, de acordo com dados da Meta;
  • Elas custaram entre R$ 60 mil e R$ 70 mil reais, uma média de aproximadamente R$ 485 por anúncio;
  • O público-alvo foi homens entre 35 e 44 anos.
Detalhes de um anúncio veiculado pela Brasil Paralelo no Facebook e Instagram. Imagem: reprodução.

Já o ex-ministro do governo Bolsonaro e senador Ciro Nogueira veiculou cinco anúncios com um mesmo vídeo, onde critica o governo por “preferir discutir a legalização do aborto” do que outros problemas no país.

Esses cinco anúncios custaram entre R$ 6 mil e R$ 7 mil, com uma média de R$ 1.300 por anúncio. Assim como do vereador carioca, as propagandas foram majoritariamente exibidas para mulheres entre 18 e 24 anos.

Outros parlamentares

Por meio da Destra, empresa que se diz "agência de mídia social", 71 propagandas comercializando um suposto curso do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) foram exibidas em redes da Meta. O curso é para "preparar" os alunos com "argumentos cristãos" para discussões sobre temas como o aborto.

A mesma página do Facebook também já publicou sobre cursos de estrangeiros que falam sobre “disseminar o Evangelho” no Brasil.

Foram gastos de R$ 5 mil a R$ 6 mil pelos 71 anúncios, com uma média de R$ 70 a R$ 84 por cada propaganda. Eles foram exibidos majoritariamente para homens de 35 a 44 anos.

Individualmente, cada anúncio teve mais de 125 mil impressões, segundo os dados da Meta. Ao todo, mais de um milhão de pessoas foram alcançadas.

Detalhes de um anúncio veiculado pela 'agência de mídia social' no Facebook e Instagram. Imagem: reprodução.

Outros deputados federais que veicularam campanhas contrárias ao direito reprodutivo após 17.mai foram:

Esses são apenas os quatro que receberam mais de 150 mil visualizações por anúncio. Outras dezenas de servidores públicos, bem como políticos e influenciadores digitais, que também veicularam anúncios sobre o tema podem ser encontrados na lista.

A pré-candidata a vereadora de Santa Catarina Bia Vargas (PT-SC) foi a única pessoa de esquerda a veicular anúncios mencionando o aborto. Ela pagou pelas duas únicas propagandas encontradas que não tinham retórica conservadora e/ou religiosa.

O Núcleo não encontrou anúncios que defendessem a legalização do aborto no Brasil.

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Nos Estados Unidos, a Meta foi acusada de reduzir ou bloquear perfis ligados a ONGs e ativistas que fazem campanhas informativas sobre os direitos reprodutivos. Clínicas que realizam o procedimento em estados americanos onde o aborto é permitido também são proibidas de anunciar na big tech.

Como fizemos isso

Analisamos os resultados da biblioteca de anúncios da Meta para pesquisas com a palavra-chave “aborto”. Filtramos entre 1.jan e 7.jun, depois entre 17.mai e 7.jun. Em seguida, buscamos por nomes de servidores públicos que teriam veiculado propagandas e analisamos os dados detalhados dispostos na plataforma.

Reportagem Sofia Schurig
Arte Rodolfo Almeida
Edição Alexandre Orrico

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