Terrorgram, a rede de canais neonazistas que se espalha pelo Brasil

Hospedados no Telegram, grupos difundem terrorismo e compartilham guias sobre como fabricar armas e explosivos
Terrorgram, a rede de canais neonazistas que se espalha pelo Brasil
Arte por Aleksandra Ramos Dias
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O Terrorgram, rede de canais de extrema direita hospedada no Telegram, começou a se espalhar também pelo Brasil. O Núcleo conferiu que o manifesto de um jovem turco neonazista, que esfaqueou cinco pessoas e transmitiu o crime ao vivo pelas redes, está sendo compartilhado também por grupos brasileiros.

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Em 2021, uma pesquisa mapeou mais de 200 canais ligados ao Terrorgram, que difundem neofascismo, terrorismo antigovernamental e muitos contém até instruções e guias para fabricação de explosivos, bombas e armas.

Os conteúdos republicados pelo Terrorgram foram fornecidos diretamente pelo criminoso de 18 anos, identificado como Arda K. Ele atacou cinco pessoas com uma faca na cidade universitária de Eskisehir, Turquia, e foi preso logo em seguida.

O ataque foi transmitido ao vivo por K. durante ao menos dois minutos e se tornou viral no X (antigo Twitter).

Enaltecendo neonazistas

No Telegram, os vídeos do ataque se transformaram em fancams, termo que se refere a vídeos que homenageiam algo ou alguém popular na internet, e legendas com declarações românticos ou sexuais para o criminoso.

Esses vídeos analisados pelo Núcleo contêm cenas e áudios explícitos do crime, bem como símbolos neonazistas. Ao contrário de outras redes sociais, como Facebook ou TikTok, os termos de uso do Telegram não contêm cláusulas claras que proíbam o compartilhamento ou a produção de conteúdo que enalteça crimes ou criminosos.

Além dos vídeos do ataque, a reportagem identificou que brasileiros também estão compartilhando um áudio com a versão traduzida para o inglês do manifesto do jovem turco.

Mensagem do Terrorgram identificada pelo Núcleo. A tradução diz: "Este canal, e todos os associados com ele, NÃO encorajam terrorismo branco ou assassinatos em massa. Nós apenas compartilhamos esse conteúdo para documentar a história."

O Terrorgram é conhecido por produzir propaganda neonazista para as redes sociais desde pelo menos 2021. O coletivo já criou pelo menos dois manifestos escritos, um vídeo enaltecendo supremacistas brancos e guias que ensinam seus adeptos a cometer crimes ou fabricar armamentos.

A reportagem teve acesso a esses materiais. Eles contém referências como o responsável pelo massacre de Christchurch, na Nova Zelândia, entre outros, incentivando outros a cometerem ataques em massa a fim de se tornarem heróis pela raça branca.

Uma das poucas proibições nos termos de uso do Telegram é usar a plataforma "para participar de atividades reconhecidas como ilegais pela maioria dos países – como terrorismo e abuso infantil." Os conteúdos identificados pelo Núcleo violam essa política.

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Essa reportagem foi feita por conta de uma denúncia de um leitor do Núcleo. Se quiser falar com a repórter sobre uma pauta, mande um email para [email protected].

Impacto real

Essas propagandas radicais e extremistas do Terrorgram possuem efeitos no mundo real. Em 2022, um adolescente brasileiro de 16 anos matou 4 pessoas em um ataque em escola em Aracruz, Espírito Santo. Foi descoberto que o jovem tinha se radicalizado através de canais no Telegram que participavam do coletivo.

No mesmo ano, outro jovem que participava de canais do Terrorgram cometeu um crime de ódio que matou duas pessoas em um bar LGBTQ+ em Bratislava, Eslováquia.

Além dos crimes que resultaram em mortes, o Terrorgram também está vinculado aos recentes tumultos em massa pela extrema direita no Reino Unido e a uma série de ataques contra torres de energia elétrica nos Estados Unidos.

Problemas judiciais no Brasil

O caso de Aracruz foi motivo de suspensão temporária do Telegram no Brasil. Durante as investigações do caso, a Justiça Federal do ES pediu dados dos usuários de um canal e um grupo cujo adolescente fazia parte.

A empresa cumpriu apenas parcialmente a ordem judicial, segundo as autoridades brasileiras, e a justiça pediu a suspensão temporária do aplicativo.

Pavel Durov, fundador e CEO do Telegram, disse à época que o pedido era "tecnologicamente impossível" de ser cumprido.

Dias depois, o Tribunal Regional Federal da 2ª região suspendeu parcialmente a liminar que decidiu pelo bloqueio do aplicativo no Brasil. Para o desembargador que tomou a decisão, a suspensão havia sido desproporcional.

Prisão

Durov foi preso na França no sábado, 24 de agosto. A justiça do país europeu alega que o aplicativo de mensagens não modera conteúdo nem coopera com as autoridades, o que tornaria o bilionário russo cúmplice de crimes como tráfico de drogas, fraudes e delitos contra menores de idade.

Os fatos — e as fofocas — sobre a prisão do CEO do Telegram
França acusa bilionário Pavel Durov de ser cúmplice de crimes. Ele diz ter mais de 100 filhos biológicos e estava viajando pelo mundo com uma influenciadora de cripto

Até o momento de publicação desta reportagem, a imprensa local afirmou que Durov continuava em custódia na segunda-feira e poderia permanecer até a sexta-feira, somando seis dias de detenção.

Por meio do seu canal oficial na plataforma, o Telegram declarou sempre ter cumprido as leis da União Europeia e que sua moderação "está dentro dos padrões do setor e está em constante aperfeiçoamento".

"O CEO do Telegram, Pavel Durov, não tem nada a esconder e viaja com frequência para a Europa. É absurdo afirmar que uma plataforma ou seu proprietário são responsáveis pelo abuso dessa plataforma."

Reportagem Sofia Schurig
Arte Aleksandra Ramos Dias
Edição Alexandre Orrico

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