Kwai quer capacitar jovens enquanto sofre com sexualização de menores

Em reunião com ministra da Ciência e Tecnologia, rede social chinesa diz que pode capacitar jovens e combater pobreza, mas ainda sofre com conteúdo de exploração sexual infantil
Kwai quer capacitar jovens enquanto sofre com sexualização de menores
Arte Rodolfo Almeida
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O Kwai procurou o governo brasileiro para sugerir que sua plataforma digital pode ajudar a combater a pobreza no país e atuar na capacitação tecnológica de jovens, embora ainda esteja enfrentando dificuldades para moderar conteúdo com exploração sexual infantil.

A aproximação com o governo Lula consta na ata de um encontro de 25.set.2023 entre diretores da plataforma e representantes do primeiro escalão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), obtida pelo Núcleo via Lei de Acesso à Informação.

Conforme o documento:

  • Representantes da rede social afirmaram que seus algoritmos e sua Inteligência Artificial "são consideradas as mais avançadas hoje no mundo e isso também pode abrir oportunidade para empresas brasileiras que desejam se qualificar na área";
  • Os executivos da rede social sugeriram que o E-commerce do app pode ser usado para combater a pobreza no Brasil e disseram que "na área rural da China usam o Kwai para vender seus produtos direto para o consumidor final e os mais ricos são pessoas das zonas rurais" do país asiático;
  • Os diretores da plataforma também indicaram querer atuar no treinamento e capacitação tecnológica de jovens e estudantes brasileiros.

RESPOSTA DO MINISTÉRIO. No encontro, a ministra Luciana Santos (PCdoB) afirmou ter "todo interesse em estreitar relações com a experiência específica do Kwai".

Aos representantes da rede social, ela disse pretender "estabelecer larga cooperação" com iniciativas chinesas e que a disposição do governo Lula é estreitar laços de cooperação com o país, em particular na área de tecnologia.

Santos também afirmou querer "estreitar diretamente com o Kwai o que é possível para fazerem em comum, principalmente nessa agenda de inclusão, de capacitação da juventude".

O ministério se mostrou receptivo a um "intercâmbio direto" com o Kwai para parcerias tecnológicas.

MODERAÇÃO DE CONTEÚDO. Apesar do discurso de representantes do Kwai de que a plataforma é tecnologicamente avançada e seria apta para a formação de jovens, o app enfrenta dificuldades para garantir a proteção de crianças e adolescentes contra comentários com assédio sexual ou que sexualizam menores.

Conforme uma investigação do Núcleo de jul.2023, o Kwai tem falhado em moderar comentários sexuais publicados diariamente em centenas de vídeos infanto-juvenis que circulam no app, muitas vezes postados pelos próprios pais dessas crianças e adolescentes.

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Ao testar novamente o app, o Núcleo constatou que a situação de quatro meses atrás permanece.

A plataforma, inclusive, ainda não encontrou um meio eficaz para evitar que termos ligados a abuso sexual infantil sejam sugeridos aos usuários na sua aba de pesquisas.

A reportagem, por exemplo, digitou o termo novinh recebeu como sugestões termos que envolveriam adolescentes de 14 e 15 anos pel4dinh4s.

Procurado pelo Núcleo, o Kwai disse estar "equipado com mecanismos de segurança que operam ininterruptamente, combinando inteligência artificial e análise humana para identificar e remover rapidamente" conteúdos inadequados.

Leia a nota enviada pelo Kwai ao Núcleo

"Com o objetivo de manter a segurança e bem-estar de seus usuários, o Kwai combate práticas que firam e violem as suas Diretrizes da Comunidade. Esse trabalho inclui o uso de termos específicos e ofensivos e suas diferentes variações de escrita, prática usada constantemente para contornar as restrições do app.

A ferramenta de buscas do aplicativo é regularmente submetida a verificações de segurança, visando prevenir a presença de conteúdos que violem as políticas da plataforma. O Kwai também está equipado com mecanismos de segurança que operam ininterruptamente, combinando inteligência artificial e análise humana para identificar e remover rapidamente tais conteúdos. Adicionalmente, o aplicativo oferece recursos de denúncia, permitindo aos usuários relatar comportamentos inadequados. Conteúdos verificados como violadores das políticas podem ser removidos da plataforma, e violações persistentes podem resultar no banimento da conta."

Quatro meses após reportagem do Núcleo, plataforma segue com os mesmos problemas de moderação no combate ao conteúdo sexual infanto-juvenil

LOBBY. No encontro com a cúpula do MCTI, a plataforma foi representada por dois de seus diretores de assuntos de governança global, Wang Lu e Zheng Xiangyu, e por Victor Queiroz, presidente do Instituto XieXie, uma instituição que oferece aulas de mandarim e networking com empresas chinesas.

Em release publicado no site do MCTI sobre o encontro, Queiroz disse que a reunião foi no sentido de mostrar como a rede social pode "preparar os jovens no Brasil" e "ajudar no combate à pobreza através da tecnologia" e "das lives de vendas ao vivo" da plataforma.

Ao fim da reunião, o secretário de Ciência e Tecnologia para Transformação Digital do MCTI, Henrique Miguel, foi escalado para dar continuidade às conversas com o Kwai.

PARTICIPANTES. Na reunião, estiveram:

  • Luciana Santos, ministra do MCTI.
  • Rubens Diniz, chefe de gabinete da ministra.
  • Henrique Miguel, secretário de Ciência e Tecnologia para Transformação Digital do MCTI.
  • Carlos Matsumoto, chefe da Assessoria Especial de Assuntos Internacionais do MCTI.
  • Vânia da Silva, coordenadora-geral de Cooperação Bilateral do MCTI.
  • Wang Lu, diretor de assuntos de governança global da Kwai
  • Zheng Xiangyu, diretora de assuntos de governança global da Kwai
  • Victor Oliveira de Queiroz, presidente do Instituto XieXie — Brasil-China.

Como fizemos isso

A ata foi obtida pelo Núcleo por meio da Lei de Acesso à Informação. Usamos a plataforma Agenda Transparente para mapear reuniões do Kwai com o governo federal.

Também acompanhamos a plataforma durante vários meses, colhendo evidências de problemas de moderação de conteúdo de exploração infantil, que continuam.

Reportagem Pedro Nakamura
Colaboração Felippe Mercurio
Edição Sérgio Spagnuolo

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