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Não se fala em outra coisa.

Não muito depois de o jornalista Leandro Narloch usar seu espaço na Folha de S.Paulo para relativizar a escravidão, o antropólogo Antônio Risério encontrou por lá um espaço para abordar uma discussão conceitual superada: o racismo reverso. Não vou linkar nenhum dos dois, apesar de sempre darmos todos as referências possíveis. Já explico.

O texto "Racismo de negros contra brancos ganha força com identitarismo" figura como o texto mais enviado do site e não saiu do ranking dos cinco mais lidos desde que foi publicado, no sábado à noite.

É a estratégia a gente já conhece: levar ao ar um texto abjeto para gerar tráfego, discussões, réplicas e tréplicas. Quanto mais infame, melhor –falamos no fim deste especial como conteúdo de ódio, que provoca sentimentos negativos, explode em alcance e se tornou um vírus, formatando o conteúdo de organizações jornalísticas inteiras.

A Folha não faz distinção do clique que é dado com raiva do clique dado com satisfação. Se o RT é endosso ou não, tanto faz: no fim do mês tudo entra num grande pacote de tráfego e engajamento que será monetizado e vendido para anunciantes. Qualquer coisa, é só tentar embalar tudo sob o manto da pluralidade de opiniões.

Risério e Narloch são a manifestação física dessa lógica comercial de empilhamento de cliques. E parece que o jornal não tá muito preocupado com o dano reputacional: lembre que em outubro a filósofa, escritora e ativista antirracismo Sueli Carneiro,  e única mulher negra a integrar o conselho editorial da Folha, ficou menos de um mês no cargo. Saiu justamente por causa do texto de Narloch.

Mas vamos ao que realmente interessa: qual a forma mais eficaz de combater essas pessoas e o espaço dado a elas?


Você precisa redirecionar o seu tempo e o seu dinheiro.

Em primeiro lugar, não engaje com o texto. Não compartilhe, não envie e não comente. Se quiser ou precisar fazer algumas dessas coisas, encontre formas de reduzir o poder de monetização das suas ações (consuma via outline, print ou outra forma que dificulte a contabilização do clique).

Em segundo lugar, apoie iniciativas independentes. Especificamente sobre raça há vários sites jornalísticos, coletivos e ONGs que fazem um trabalho sério e que não é guiado por cliques. Muitos quebram todos os dias a cabeça para encontrar um caminho diferente para alcançar a saúde financeira, então pense que, além de apoiar conteúdo responsável e independente, você também vai fortalecer essa busca e enfraquecer a lógica do tráfego fácil, que torna sites feios, poluídos e desinformativos, que privilegiam o bait e a "polêmica".

Aqui embaixo estão alguns perfis de Twitter destas iniciativas. Se você tiver uma sugestão, por favor mande pra mim (pelo Twitter ou por email mesmo).


Negrê
Portal de notícias e mídia negra nordestina, que tem como princípio um jornalismo antirracista e afrocentrado feito pela equipe 100% preta. Tem uma campanha aberta no Apoia.se, onde você pode doar mensalmente qualquer valor a partir de R$1, ou fazer qualquer PIX a partir de R$5.


Blogueiras Negras
Mulheres negras e afrodescendentes. Blogueiras com estórias de vida e campos de interesse diversos; reunidas em torno das questões da negritude, do feminismo e da produção de conteúdo. Dá para apoiar por R$ 10 por mês via PayPal no site.


AzMina
Revista digital que atua desde 2015 na defesa dos direitos das mulheres e que também produz conteúdos sobre raça. Já teve seu trabalho reconhecido por importantes prêmios do Brasil e do mundo. Tem uma campanha de assinatura recorrente com valores que começam em R$20, com diversos tipos de recompensa.


Alma Preta
Agência de notícias especializada na cobertura nacional e internacional a partir de uma perspetiva racial negra e periférica. As narrativas da Alma Preta são orientadas pelo cuidado com a diversidade de raça, gênero, sexualidade, classe e território. A agência possui uma campanha de financiamento coletivo com assinaturas recorrentes a partir de R$24, com várias recompensas.


Site Mundo Negro
Jornal antirracista que acredita na comunicação como uma ferramenta de não reprodução de preconceitos e estereótipos, estigmatizantes ou pejorativos em relação à população negra e periférica na imprensa. É possível apoiar a iniciativa por R$9,90 por mês via PicPay.


Notícia Preta
Portal de jornalismo antirracista. Para apoiar, entre em contato com eles por email.


Instituto Odara (Instagram)
Organização negra feminista que visa superar a desigualdade racial e de gênero. Realiza programas focados em direitos humanos, comunicação, pesquisa e intercâmbio e saúde das mulheres negras. Para colaborar, entre em contato por e-mail.


Criola
Organização que tem 29 anos de trajetória na defesa e promoção dos diretos das mulheres negras. Atuam com ações políticas e de mobilização social, além de iniciativas voltadas para a ampliação do conhecimento e formação. Veja como contribuir com as principais campanhas lá no site.


Geledés
Organização da sociedade civil que se posiciona em defesa de mulheres e negros. Desenvolve projetos em defesa dos direitos pela cidadania plena e monitora no Portal Geledés o debate público que ocorre sobre diversos temas relacionados à questão racial e gênero no Brasil e no mundo. Para informações sobre como apoiar, entre em contato pelo site.


Revista Afirmativa
Veículo multimídia de mídia negra que atua pela garantia da representatividade das pessoas negras na mídia, de maneira real, diversa e humanizada. O coletivo promove ações para pautar o debate racial nas faculdades de comunicação da Bahia. Entre em contato com a revista para saber como apoiar.


Voz da Comunidade
ONG e Jornal Comunitário com notícias das favelas do Rio de Janeiro. Além do portal de notícias com aplicativo próprio, criaram a iniciativa Prato das Comunidade no início da pandemia para levar cestas básicas para diversas famílias. A organização recebe doações por PicPay (@vozdascomunidades), PIX (CNPJ 21.317.767/0001-19), PayPal ([email protected]) e depósito bancário.


Mulheres Negras Decidem
Movimento que trabalha para que mais mulheres negras ocupem os espaços de decisão. Atua por meio de formação política, reposicionamento de temas na agenda pública e pesquisas com análises de dados. Interessadas em participar (ou apoiar) devem entrar em contato via Instagram ou e-mail.

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