Imagine você ser surpreendido por um som que parece ser o choro de um bebezinho e descobrir que o dono desse choro é, na verdade, uma ave.
Echo, um pássaro-lira da espécie Menura novaehollandiae, impressionou as redes sociais justamente por isso: sua imitação idêntica ao choro de um bebê.
Em entrevista para o The Guardian, traduzida na reportagem do Gizmodo, Leanne Golebiowski, supervisora de pássaros do zoológico Taronga, em Sidney, na Austrália, disse que é possível que Echo tenha escutado o choro durante alguma visita ao zoológico:
“Há dois outros sons que ele faz no momento: um é o som de uma furadeira, que é assustadoramente preciso e o segundo é o nosso alarme de incêndio. Ele ainda diz o anúncio ‘evacue agora’ de forma bem clara.”
O canto do Echo viralizou entre os twitteiros e Pamela Monteiro, divulgadora científica de rapinantes e canídeos, fez uma thread trazendo vários outros exemplos de aves "imitadoras profissionais":
Sons parecidos, mecanismos diferentes
Segundo Pamela, aves como papagaios apresentam uma estrutura chamada siringe, a qual se localiza na base da traqueia com o encontro dos pulmões, podendo utilizar as correntes dos pulmões direito e esquerdo de forma diferente para a produção desses sons.
Graças a essa organização anatômica da siringe, e diferentemente de nós, as aves podem cantar por minutos enquanto respiram. Já os humanos falam ou cantam apenas enquanto o ar é expirado, pois na inspiração, as pregas (ou "cordas") vocais se fecham.
Inclusive, fique aqui com essa versão do tema musical de Harry Potter interpretado por uma dessas fofuras aladas.
Sons que significam muito
Segundo Pamela, há diferentes razões pelas quais as aves podem emitir sons, as quais podem variar desde a interação com fins de acasalamento, até para fins de defesa de seu território.
E olhe que interessante: ao estudar pássaros na Costa do Marfim, pesquisadores acidentalmente descobriram que pássaros boubou (Laniarius aethiopicus) realizam um dueto musical com seu parceiro ao derrotar invasores em seu território, como mostra a Revista FAPESP.
A descoberta acidental foi feita em 2004, noticiada na New Scientist, e acabou sendo continuada numa pesquisa muito interessante.
Os pesquisadores escolheram 18 pares diferentes de pássaros e tocaram gravações de quatro cantos frequentemente cantados em disputas por território, para simular invasores do território boubou.
No momento em que a gravação parava de tocar o som para simular a presença das aves invasoras, alguns dos pares de boubou começava a entonar sons diferentes e específicos para a ocasião.
Apesar de não podermos afirmar com certeza que o fenômeno se explica por essas razões, estamos diante de um comportamento interessante, mostrando a complexidade e beleza desses animais.
E não esqueça de dar seu alô para esse corvo simpático, no final da leitura!
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