No dia 11 de Fevereiro, é celebrado o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, uma data a qual, segundo a Assembleia Geral das Nações Unidas, visa promover "o acesso e a participação plena e igualitária das mulheres nos campos de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM)". Desde 2015, a celebração desse dia visa a visibilidade do papel crítico que as mulheres desempenham na ciência, além de "fortalecer os laços entre ciência, política e sociedade para estratégias voltadas para o futuro"
A dura realidade por trás do protagonismo
Segundo dados da UNESCO, compartilhados na página da Organização das Nações Unidas, as mulheres ainda compõem uma minoria significativa em cursos como engenharia ou envolvidos com o desenvolvimento de tecnologias. Apesar de o papel das mulheres e meninas na ciência estarem em acordo com às metas globais estabelecidas pela Organização, bem como com seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS 6, 7, 9, 11 e 17), as mulheres recebem menos bolsas de pesquisa comparado com homens e, mesmo representando um terço dos pesquisadores a nível global, apenas 12% dos membros de academias de ciência nacionais são mulheres.

Quando observamos a porcentagem de mulheres que são docentes de pós-graduações brasileiras, de acordo com a área de conhecimento, a falta de paridade é a característica mais marcante:
Já faz uns séculos que mulheres lutam por reconhecimento de seus direitos, inclusive de acessar o ensino superior.
— Adriana Lippi ⭐Contra o Marco Temporal (@drilippi) February 11, 2023
Ainda temos muita desigualdade de gênero na maioria das áreas do conhecimento, em especial nas áreas de STEM
#MulheresEMeninasNaCiência @BlogsUnicamp pic.twitter.com/rFES3fSY5y
Um mundo que não pode mais esquecer suas cientistas
Infelizmente, a história não foi justa, tampouco gentil, com o brilhantismo e protagonismo das mulheres na ciência. Em diversos momentos, o esforço de mulheres cientistas não foi reconhecido, ou foi apropriado por seus colegas homens, ou foi completamente esquecido ao longo do tempo.
Comento brevemente neste fio alguns exemplos, como o de Grunya Sukhareva, psiquiatra autora da primeira caracterização do que seria conhecido mais tarde, na nossa atualidade, como o Transtorno do Espectro Autista:
Essa história se repete, com diferentes narrativas, para Chien-Shiung Wu, que trabalhou no projeto Manhattan no desenvolvimento da bomba atômica, em que todas as suas contribuições foram desconsideradas por seus colegas, pic.twitter.com/lTQ7GwVKH6
— Mellanie Fontes-Dutra, PhD (@mellziland) February 11, 2021
Hoje, existe um esforço ativo para tentar recuperar esses feitos e suas autoras, através da investigação de registros históricos, numa tentativa de reparação para prestar o devido reconhecimento, e para que nunca mais aconteça.
Atualmente, apesar de muitos avanços nessa discussão em oportunidades para cientistas, ainda encontramos muitos desafios nos espaços acadêmicos, como comenta a oceanógrafa e divulgadora científica Adrana Lippi:
No Inst. Scripps, pesquisadoras tem metade de espaço de lab e um terço de espaço para armazenamento em relação a seus pares homens.
— Adriana Lippi ⭐Contra o Marco Temporal (@drilippi) February 11, 2023
Falei um pouco sobre a motivação da minha pesquisa no fio#mulheresPeloOceano #MulheresEMeninasNaCiência @BlogsUnicamp https://t.co/hB7lgWrAJG https://t.co/GOAt4VDn30
A falta de mulheres na liderança da pesquisa traz impactos muito sérios às políticas públicas e à saúde.
— Adriana Lippi ⭐Contra o Marco Temporal (@drilippi) February 11, 2023
A série Corpo Especulado do @37podcast traz uma ótima discussão e exemplos dissohttps://t.co/6k6kKyFZJq#MulheresEMeninasNaCiência @BlogsUnicamp
Lippi também comenta sobre um fenômeno que é visto ainda dentro das graduações: observa-se um número de ingressos de mulheres na graduação mais próximo de uma paridade com seus colegas homens. No entanto, a medida que observamos quantas mulheres permanecem e se formam nas pós-graduações, esse número diminui. Quando observamos quantas dessas mulheres se tornam professoras ou bolsistas de pós-doutorado, a diferença se torna ainda maior.
Você conhece o fenômeno Leaky Pipeline?
— Adriana Lippi ⭐Contra o Marco Temporal (@drilippi) February 11, 2023
Assim é chamado o padrão de que há muitas mulheres (ou em paridade) na graduação e início da pós-graduação, mas há uma diminuição para o nº de doutoras e uma grande queda na docência ou pós-doc#MulheresEMeninasNaCiência @BlogsUnicamp pic.twitter.com/sViBf2HhEq
A paleontóloga e divulgadora científica Aline Ghillardi comenta o que podemos fazer para ajudar na construção e abertura de ainda mais espaços para nossas cientistas:
✅ RESGATAR as histórias das mulheres apagadas na Ciência.
— Aline Ghilardi (@alinemghilardi) February 12, 2023
✅ Incentivar uma menina sempre que ela demonstrar interesse por tópicos científicos.
✅ presentear meninas com brinquedos, livros e outros itens sobre ciência.
✅ quebrar nosso próprio preconceito interno sobre a imagem do q é um cientista.
— Aline Ghilardi (@alinemghilardi) February 12, 2023
Evitar falas como “mas ELA é mesmo doutora em física!?”, “vou consultar fulanO para ver se o q ela disse está certo”, ou convidar homens p validarem afirmações feitas por mulheres cientistas.
✅ considerar mais mulheres para cargos de liderança dentro da carreira científica (chefias, líderes de comissões, etc.).
— Aline Ghilardi (@alinemghilardi) February 12, 2023
✅ considerar a maternidade no currículo e ñ punir mulheres em seleções ou promoções pq, além de cientistas, escolheram ser mães.
✅ tornar o espaço de eventos científicos mais amigável e acolhedor para cientistas (mães e pais) com crianças pequenas. O mesmo vale para o ambiente de trabalho. A oferta de creche em universidades é essencial.
— Aline Ghilardi (@alinemghilardi) February 12, 2023
✅ adotar medidas (q ñ sejam só de fachada) p aumentar e facilitar o acesso de mulheres à carreira científica (bolsas de incentivo, cotas, financiamento especial, etc.).
— Aline Ghilardi (@alinemghilardi) February 12, 2023
✅ não excluir mulheres de trabalhos/atividades de campo por considera-las “frágeis” ou qlq outro pré-conceito
Perfis para conhecer, seguir e engajar
O perfil de divulgação científica Blogs de Ciências da Unicamp mapeou diversas cientistas brasileiras que participaram, no último dia 11 de fevereiro, da campanha virtual #MulheresEMeninasNaCiência, no twitter. Confira abaixo o fio com perfis para conhecer e engajar:
Olá!
— Blogs Unicamp (@BlogsUnicamp) February 11, 2023
Nós somos o Blogs Unicamp, essa é uma inciativa de divulgação científica feita predominantemente por mulheres.
E hoje gostaríamos de dar visibilidade a nossas cientistas brasileiras.
Acompanhe a thread com o perfil delas:#MulheresEMeninasNaCiência
Não deixe de conhecer a hashtag no twitter clicando nesse link, você vai se surpreender com o que está sendo produzido pela ciência brasileira nas mãos de mulheres incríveis!
A ciência precisa de paridade, equidade e diversidade, e para finalizar, a reflexão que o perfil Mulheres na Ciência traz quanto a este último aspecto, não pode ser deixada de lado nessa luta por reconhecimento:
#DiaDaVisibilidadeTrans 🏳️⚧️
— Mulheres na Ciência (@mulhernaciencia) January 29, 2023
Todas nós sabemos que a luta feminina na ciência não é fácil. Precisamos enfrentar diversos desafios para sermos reconhecidas no meio acadêmico.
Agora imagine ter que se afirmar como trans ou travesti cientista? Essa é a luta diária delas! 👇